Pela primeira vez na vida, experimentei uma ressaca literária. Crônica de uma morte anunciada, de
Gabriel Garcia Márquez, é um livro curto, porém de uma intensidade capaz de nos
fazer rever posturas, vivências e conceitos que fazem e fizeram com que
fossemos nós mesmos.
O mais próximo que senti disso foi com O Processo, de Franz Kafka, mas numa perspectiva diferente. Ainda
reflito sobre se gostei ou não da obra e acredito que esta reflexão [eterna]
faz deste livro uma obra tão boa e relevante.
O que Gabo me fez sentir é diferente.
Apesar de pensar no texto com constância, a percepção é sobre mim mesma, muito mais do que sobre a obra. É como se o texto e minha vida se entrelaçassem e me levassem a nossas perspectivas. Dá para compreender?
Apesar de pensar no texto com constância, a percepção é sobre mim mesma, muito mais do que sobre a obra. É como se o texto e minha vida se entrelaçassem e me levassem a nossas perspectivas. Dá para compreender?
Se não der, tudo bem! Eu também ainda estou tentando...rs... 😁
Para curar a ressaca -que nada mais é do que a dificuldade de concentração em outros textos por causa do pensamento constante no livro anterior -, li, em uma sentada, Mal-entendido em Moscou, de Simone de
Beauvoir. Uma novela de 73 páginas tão intensa quando a autora que, desde A Cerimônia do Adeus, me cativou justamente
por esta escrita que traz do âmago do ser os mais profundos e intensos
sentimentos.
Neste livro, publicado pela Editora Record, lido na versão
Kindle [sem indicação de páginas – entendedores entenderão! :/], acompanhamos a
viagem de Nicole e André à Rússia, em meados da década de 1960, para visitar Macha,
filha dele.
O texto relata a percepção individual de cada um deles, já
na faixa dos 80 anos, sobre a experiência de visitar a então União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas, pela segunda vez, e comparar as expectativas com a
realidade.
Essa análise é refletida de maneira análoga sobre o
relacionamento dos dois e a relação com terceiros. O que passou? O que ficou? O
que, de fato, existe entre nós? Com tais questionamentos sendo intensificados
depois de uma discussão entre eles, que dá nome ao livro, e impõe novas reflexões
sobre a vida que viveram, as razões que os levaram a fazer as escolhas que
fizeram e o que anda é possível fazer.
Impossível ler este texto e não fazer analogia com os próprios
Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.
Um texto sobre a vida, mais do que indicado, inclusive para curar
ressaca literária! ❤
Esta é a vantagem da literatura, pensou ela: nós guardamos as palavras conosco. As imagens murcham, deformam-se, apagam-se. Mas ela reencontra as velhas palavras em suas cordas vocais, quase como foram escritas. As palavras os uniam aos séculos passados, quando os astros brilhavam exatamente como hoje. E esse renascimento e essa permanência lhe davam uma impressão de eternidade.
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Dia 34|
365
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