08 agosto 2018

Racismo é crime


Os relatos sobre situações de violência que acompanhamos diariamente na imprensa, nos fazem pensar, equivocadamente que, apesar da proximidade cada vez maior dos personagens envolvidos, tais situações nunca nos terão como protagonistas. Até que um dia nos tornamos alvo.
Mesmo assim, não é algo tão simples de identificar, porque, muitas vezes a situação é surreal ao ponto de distanciar o significado daquilo que ele realmente é, até que a consciência dos fatos o revelem o que eles verdadeiramente são.
Isso acontece com todo tipo de violência.
Há poucos dias, fui vítima de racismo. E o uso do termo exato só se deu horas depois, quando o calor da situação já tinha passado e a reflexão se tornado mais racional.
A instituição de ensino na qual trabalho recebeu uma equipe do Ministério da Educação (MEC) para avaliar as condições para oferta de ensino na modalidade a distância. Os três professores visitaram o estúdio enquanto eu me preparava para gravar a apresentação de uma disciplina quando uma das docentes integrantes da equipe questionou se há na instituição a exigência às professoras de fazer escova para gravar os vídeos.
No momento em que a pergunta foi feita, estavam no estúdio eu, parte dos integrantes do Núcleo de Educação a Distância, técnicos especialistas responsáveis pela manutenção do ambiente e equipamentos, a reitora, pró-reitores, mantenedora e os dois outros professores da comissão do MEC.
Prontamente respondi que não há esse tipo de orientação por parte da instituição e que, justamente por isso, eu estava ali, com meu cabelo cacheado. Ela se direcionou à equipe técnica alegando que o meu cabelo poderia causar instabilidade às imagens, por não ser liso. Os profissionais responsáveis explicaram que a estrutura técnica do estúdio, como a utilização do fundo infinito e branco, viabilizavam a estabilidade da imagem.
Descontente com a resposta, a professora saiu do estúdio ainda questionando a não obrigatoriedade de escova no meu cabelo.
A situação gerou desconforto generalizado, por diversos aspectos.
O primeiro é que o papel dela, enquanto avaliadora do MEC, é verificar as condições estruturais para a oferta do ensino na modalidade a distância sob a orientação de, em nenhum momento, fazer juízo de valor a respeito de nenhum dos aspectos sob análise.
O segundo é que a insistência no assunto cabelo deixou claro que a preocupação da avaliadora não estava voltada às questões técnicas, mas sim na racial.
Passados alguns dias do episódio, fica cada vez mais claro o sentimento de angústia causado pelo julgamento de uma característica física em detrimento da qualidade ou falta dela do trabalho realizado.
Para pessoas como a avaliadora do MEC, não importa o que é feito, mas por quem é feito. Neste sentido, a dedicação, o empenho de toda a instituição foi deixado em segundo plano no momento em que a questão racial, destacada pelo meu cabelo cacheado, foi exaltada.
Se por um lado o preconceito extremado daquela que se apresenta como educadora foi expresso na hostilidade revelada, a postura da instituição foi oposta a isso. A preocupação com o meu bem-estar pessoal e no registro oficial do episódio aos órgãos responsáveis reforça a fé que tenho na humanidade e na construção de uma sociedade mais justa.
Racismo existe, é uma violência, é crime, e não pode ser ignorado.

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