É aquela máxima que diz que caráter é aquilo que você faz
quando ninguém está vendo.
Explicar o que e o porquê somos o que somos enquanto
indivíduos, coletividade e culturalmente é a tarefa que os sociólogos têm para
si mesmos, pois a partir desta compreensão temos a chance de perceber e
planejar os rumos da sociedade.
Se considerarmos o conceito de literatura que a define como
um tipo de discurso que tenta dar conta da história, fica mais fácil perceber a
relevância do contexto no delinear dos personagens e das relações estabelecidas,
independente dos fatos narrados, tendo em vista ser este contexto o elemento
explicativo das condutas adotadas, a partir das normas e valores estabelecidos.
O conflito interno vivido por Jon Snow em A Tormenta de Espadas, Livro Três de As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.
R. Martin, demonstram esta realidade.
Filho bastardo de Ned Stark, Jon optou por se tornar um
corvo, mas em uma missão, foi orientado por seu líder a integrar o grupo dos
selvagens, a agir como um desertor, para descobrir os planos de ataque à Muralha,
que ele, Jon Snow, jurou proteger.
O leitor acompanha as angústias do personagem a cada ação que
leva Jon Snow, como infiltrado, a quebrar os votos feitos quando se tornou um homem
da Patrulha da Noite. Lembrar as orientações
do líder morto em batalha visando o bem coletivo foi a maneira encontrada por
ele para manter o equilíbrio até que a chance de fugir de volta ao Castelo
Negro surgisse.
Não pode se recusar, não importa o que lhe seja solicitado, tinha dito o Meia-Mão. Cavalgue com eles, coma com eles, lute com eles, durante o tempo que for preciso. E ele cavalgara, ao longo de muitas léguas, e caminhara mais ainda, partilhara o pão e o sal deles e também as mantas de Ygritte, mas ainda assim não confiavam nele. Os Thenn observavam-no noite e dia, alertas a qualquer sinal de traição. Não conseguia se afastar, e logo seria tarde demais.
A experiência de Jon Snow relatada por George Martin neste
livro, publicado pela editora Leya em 2015, nesta edição que conta com 839
páginas, é uma demonstração de situações vividas por cada um de nós, em maior
ou menor grau. Não há dúvida que em algum momento de nossas vidas somos levados
a assumir posturas que nem sempre condizem com o que defendemos e esta
dualidade é, de fato, conflituosa, mas, ao mesmo tempo, de necessária vivência.
Este é mais um exemplo do quanto a literatura, inclusive a
fantástica, é tanto um caminho de lazer, quanto de reflexão sociológica,
afinal, o texto é, por si só, uma rede de relações que transmite diversas possibilidades
de significações que vão variar de acordo com o acervo simbólico do leitor.
Por isso, leia! 😊
ð Dia 60 | 365
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