12 outubro 2018

Valores e conflitos internos

Há quem diga que o que realmente nos define enquanto indivíduos é a postura que adotamos nas situações extremas que a vida nos impõe. É em momentos como esses que os valores que nos orientam se sobressaem para orientar a conduta adotada, que fala muito sobre nós mesmos.
É aquela máxima que diz que caráter é aquilo que você faz quando  ninguém está vendo.
Explicar o que e o porquê somos o que somos enquanto indivíduos, coletividade e culturalmente é a tarefa que os sociólogos têm para si mesmos, pois a partir desta compreensão temos a chance de perceber e planejar os rumos da sociedade.
Se considerarmos o conceito de literatura que a define como um tipo de discurso que tenta dar conta da história, fica mais fácil perceber a relevância do contexto no delinear dos personagens e das relações estabelecidas, independente dos fatos narrados, tendo em vista ser este contexto o elemento explicativo das condutas adotadas, a partir das normas e valores estabelecidos.
O conflito interno vivido por Jon Snow em A Tormenta de Espadas, Livro Três de As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin, demonstram esta realidade.
Filho bastardo de Ned Stark, Jon optou por se tornar um corvo, mas em uma missão, foi orientado por seu líder a integrar o grupo dos selvagens, a agir como um desertor, para descobrir os planos de ataque à Muralha, que ele, Jon Snow, jurou proteger.
O leitor acompanha as angústias do personagem a cada ação que leva Jon Snow, como infiltrado, a quebrar os votos feitos quando se tornou um homem da Patrulha da Noite.  Lembrar as orientações do líder morto em batalha visando o bem coletivo foi a maneira encontrada por ele para manter o equilíbrio até que a chance de fugir de volta ao Castelo Negro surgisse.
Não pode se recusar, não importa o que lhe seja solicitado, tinha dito o Meia-Mão. Cavalgue com eles, coma com eles, lute com eles, durante o tempo que for preciso. E ele cavalgara, ao longo de muitas léguas, e caminhara mais ainda, partilhara o pão e o sal deles e também as mantas de Ygritte, mas ainda assim não confiavam nele. Os Thenn observavam-no noite e dia, alertas a qualquer sinal de traição. Não conseguia se afastar, e logo seria tarde demais.
A experiência de Jon Snow relatada por George Martin neste livro, publicado pela editora Leya em 2015, nesta edição que conta com 839 páginas, é uma demonstração de situações vividas por cada um de nós, em maior ou menor grau. Não há dúvida que em algum momento de nossas vidas somos levados a assumir posturas que nem sempre condizem com o que defendemos e esta dualidade é, de fato, conflituosa, mas, ao mesmo tempo, de necessária vivência.
Este é mais um exemplo do quanto a literatura, inclusive a fantástica, é tanto um caminho de lazer, quanto de reflexão sociológica, afinal, o texto é, por si só, uma rede de relações que transmite diversas possibilidades de significações que vão variar de acordo com o acervo simbólico do leitor.
Por isso, leia! 😊
ð  Dia 60 | 365

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