21 outubro 2018

A polícia suburbana


Em um texto curto e objetivo composto por nove parágrafos, Lima Barreto traz na crônica A Polícia Suburbana, publicada em 28 de dezembro de 1914, uma crítica aos jornais e a usual ação policial nos subúrbios cariocas.
O texto integra o livro Crônicas, do autor, que está em domínio público e que estou lendo na versão e-book da Saraiva para o LEV.
Barreto revela que uma crítica jornalística que divulgou o caso de um delegado que chegou a algumas delegacias do subúrbio carioca, no período da noite, e encontrou as equipes dormindo.
Segundo o noticiário, a cena era absurda diante da necessidade de policiamento daquelas regiões e, para demonstrar a gravidade do posicionamento adotado pelos policiais, o delegado surrupiou objetos para por mais à mostra o descaso de seus subordinados.
Para Barreto, que revelou ser notívago e frequentemente chegar em casa tarde da noite, os policiais fazem bem em dormir, pois as ruas pelas quais trafega não registram crimes, além dos roubos de galinha e, se obrigada a agir, buscariam todas as formas de mostrar serviço, devido, segundo o autor, a inutilidade da polícia..
Penso mesmo que, se as coisas não se passassem assim, os vigilantes, obrigados a mostrar serviço, procurariam meios e modos de efetuar detenções e os notívagos, como eu, ou os pobres-diabos que lá procuram dormida, seriam incomodados, com pouco proveito para a lei e para o Estado.
Pouco mais de um século depois da publicação do texto, a reflexão sobre o papel das polícias e a forma de atuação da mesma nunca foi tão pertinente.
ð  Dia 68 | 365


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