22 outubro 2018

A universidade


Em março de1920, Lima Barreto publicou uma crônica intitulada A universidade, na qual questiona o interesse brasileiro em construir uma universidade no Rio de Janeiro. O texto que integra o livro Crônicas destaca que a instituição é uma representação da Idade Média sem muita utilidade prática para o ainda novo século XX.
Para Barreto, a necessidade do Brasil naquele momento estava voltada às atividades técnicas cada vez mais especializadas, em consequência das Revolução Industrial que já tinha mudado a configuração mundial, mas ainda era [como até hoje é], mostrava-se incipiente por aqui.
O escritor ressalta que o investimento em educação deveria ser focado no ensino primário, tendo em vista o superior ser o mais inútil e o mais aparatoso, tem o defeito essencial de criar ignorantes com privilégios marcados em lei, o que não acontece com os dois outros. Neste ponto, Barreto faz referência aos ensinos primário e secundário.
A crítica à inutilidade da universidade feita por Barreto encontra eco na realidade do século XXI, no momento em que o escritor e jornalista aponta que as escolas superiores são abarrotadas de rapazes, muitos sem nenhuma vocação para as profissões, mas que buscam obter o diploma para conquistar um bom posicionamento social e ficarem cercados do ingênuo respeito com que o povo tolo cerca o doutor.
Barreto vai além, ao afirmar que:
Ninguém quer ser professor como são os da Europa, de vida modesta, escarafunchando os seus estudos, seguindo o dos outros e com eles se comunicando ou discutindo. Não; o professor brasileiro quer ser um homem de luxo e representação, para isso, isto é, para ter os meios de custear isso, deixa às urtigas os seus estudos especiais e empresta o seu prestígio aos brasseur d'affaires bem ou mal-intencionados.
Poderíamos discutir com Barreto a relevância das universidades neste século XXI, mas não a existência de perfis como os relatados por ele, há um século. Que coisa, hein?!💭
ð  Dia 69 | 365

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