13 outubro 2018

Emma e a complexidade humana

O primeiro terço de Emma se foi em um ritmo mais lento do que o normal, mas nem por isso o texto tem sido menos apreciado. O livro de Jane Austen, nesta edição da Martin Claret, publicada em 2012, com cerca de 600 páginas, traz o retrato da sociedade inglesa de meados do século XIX, na qual as relações têm como base as posses e o nascimento de cada indivíduo.
Ser mulher neste período representa ter dois caminhos bem delineados, um bom casamento ou a atuação como tutora, no caso daquelas que tiveram acesso à boa educação. Fora desses espectros, nenhuma possibilidade de interação com a alta sociedade.
Com posses e boa educação, Emma tem a autonomia de poucas mulheres. Optou por não casar para manter a independência, mas desenvolveu o hábito de resolver a vida das amigas em condições menos favorecidas.
Neste caminho baseado no julgamento que faz sobre si mesmo e daqueles que estão ao seu redor, acredita estar habilitada para tomar decisões sobre a vida do outro, independente do desejo do indivíduo.
Manipuladora, Emma tem dificuldades para lidar com o contraditório, mas procura manter uma postura conciliatória em momentos de divergência.
Apesar do quadro não muito favorável à protagonista de Jane Austen, a possibilidade que o leitor tem de acompanhar o fluxo de consciência de Emma o leva a perceber as boas intenções que a movem e a angústia que a corrói quando percebe ter cometido equívocos de julgamento.
Ela sabia que o tempo curaria as feridas.
Emma é, até aqui, a demonstração de que o ser humano é complexo por natureza e que não há espaço para maniqueísmo no julgamento dela. É preciso perceber que não somos cem por cento bons, nem cem por cento maus, somos o resultado de uma junção de valores e experiências que moldam a nossa conduta de acordo com as circunstâncias.
Assim, Emma é a representação de nós mesmos e Jane Austen uma eximia escritora ao nos propor esta autoanálise.💭
Leitura que segue!
ð  Dia 61 | 365

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