Passar dois meses na companhia de Liev Tolstói por meio de
um dos clássicos da literatura universal, Anna
Kariênina, representou uma viagem no tempo até a Rússia de meados do século
XVIII que possibilitou contato com os costumes, a cultura e o contexto que
envolveu as personagens do enredo que, em muitos aspectos, têm semelhanças
significativas com a realidade do século XXI.
Na Parte VIII, última da obra, Tolstói coloca o leitor em
contato com o desfecho das histórias acompanhadas nas mais de 800 páginas que compõem
o romance, após a morte de Anna Kariênina.
O impacto significativo que o suicídio de Anna teve na vida
de alguns, como na de Vrónski, tem como contraponto o fato de que, ao mesmo
tempo, para outros, foi apenas mais um fato corriqueiro do cotidiano. Esta
percepção leva não apenas o leitor a refletir sobre o sentido da própria vida,
que deve ser o guia da existência do ser, mas também as próprias personagens,
como Liévin.
O marido de Kitty, apesar de se manter envolvido nas tarefas
da propriedade, na conclusão de seu livro e se considerar feliz com o
casamento, ainda traz em si uma inquietude que o impulsiona a compreender o
sentido, o significado das atividades que desenvolve e da própria existência.
“É impossível viver sem saber o que sou e para que estou aqui”, disse Liévin consigo.
Nesta busca por significado, Liévin que, desde o nascimento
do filho, não havia percebido qualquer afeição pela criança, descobre, diante
do medo de perdê-lo em um incidente, que já o amava. Além
disso, percebeu que a preservação de sua individualidade era caminho essencial
à manutenção da boa relação com Kitty e do ânimo para a realização dos deveres
sociais.
Para ele, o sentido da própria vida deve ser dado por ele
mesmo, com base nos valores que acreditava e pelos quais teve a educação orientada.
Liévin se deu conta que os momentos de solidão e silêncio o
fortaleciam e que nem tudo sobre si mesmo é preciso e/ou possível expor.
É um segredo que só é necessário e importante para mim e não pode ser expresso por meio de palavras.
O posfácio da obra revela ainda que muito do próprio autor
está presente na obra, não apenas enquanto resultado de suas reflexões, mas de sua
vida, crenças e das relações familiares, o que nos mostra que o aquilo e quem somos
influencia, de forma excessiva, o que fazemos e produzimos.
Aliás, esta é uma das ideias mais marcantes nesta obra
clássica de Tolstói, que nos leva a ver e rever valores e posturas, assim como
as consequências das escolhas feitas. Neste sentido, a importância da consciência
sobre si mesmo é fator relevante ao processo de lidar com as contingências da
vida, sem deixar de ser humano, em essência.
Uma obra que, além de ser construída com base em um texto
primoroso, nos leva a reflexões existenciais e a lançar olhar sobre nossa
conduta enquanto seres sociais, merece ser lida e relida ao longo da vida. Livrão, literalmente! 😊
O Filme
As adaptações de Anna
Kariênina para o cinema são diversas. Assisti a duas delas, sendo a
primeira a que foi lançada em 2013 que em nada me agradou. A segunda, foi a de
1997, com Sophie Marceau, Sean Bean, Alfred Molina e Mia Kirshner, que é bem
fiel ao livro, apesar de algumas divergências em relação ao enredo original,
naturais em adaptações. Esta versão tem cenas fortes, em especial as de morte,
mas que, apesar disso, me agradou bem mais que a de 2013.
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