Quer uma dica de livro para ser lido em pouco mais de uma
hora? Este é O Santo Inquérito, peça
de Dias Gomes, encenada pela primeira vez em 1996.
Em um texto essencialmente visual, o autor narra um episódio
que envolve uma família da Paraíba em um mal-entendido com a Igreja Católica no
período da Inquisição.
Branca Dias é uma jovem descendente dos cristãos-novos que
salva a vida de padre Bernardo, vítima de afogamento.
Para expressar sua gratidão à moça, o padre se coloca como
orientador espiritual da jovem que, com o passar dos dias, se revela a frente
do seu tempo por saber ler e escrever, o que era proibido às mulheres à época.
Mesmo à revelia do pai, o noivo de branca a ensina a ler e a
escrever, assim como a presenteia com livros, inclusive uma Bíblia traduzida
para o português, o que era proibido pela Igreja.
A influência que Augusto Coutinho, o noivo, tinha sobre
Branca, e os questionamentos que ela fazia às colocações de padre Bernardo,
mesmo que de maneira inocente, o levaram a plantar a dúvida nela sobre ser uma
pessoa boa, que vivia de acordo com os ensinamentos cristãos.
As dúvidas de branca não a afastaram do noivo e/ou das
próprias convicções. Esta realidade incomodou o padre ao ponto de leva-lo a
denunciar a família à comissão de inquisição.
Augusto estudou na Europa e tal influencia o tornou alguém
defensor dos valores morais que devem mover o homem e que este não pode abrir
mão de tudo, para não perder a própria dignidade.
Por uma causa qualquer, grande ou pequena, alguém tem que sofrer. Porque nem de tudo se pode abrir mão. Há um mínimo de dignidade que o homem não pode negociar, nem mesmo em troca da liberdade. Nem mesmo em troca do sol.
Tais ideias tinham tanto sentido para Branca que mesmo
diante da comissão que a julgaria enquanto herege ou não, manteve-se firme em
seus propósitos e foi jugada por não ceder às pressões e ameaças feitas pelo
clero para se assumir culpada de acusações que ela nem mesmo teve o direito de
saber quais foram.
Uma pessoa deve ser fiel a si mesma, antes de tudo. Fiel à sua crença.
Mesmo diante do desespero que abateu por saber da prisão e
tortura do pai e do noivo, se manteve firme, fiel a si mesma. E na tentativa de
argumentar com os integrantes da comissão de inquérito ressaltou:
O ódio não converte ninguém.
Prestes a ser queimada viva por ter sido considerada culpada
pela inquisição, padre Bernardo deixa claro que o crime de Branca foi fazê-lo
se apaixonar por ela e que, como culpada, precisava pagar e libertá-lo do
pecado que o obrigava a cometer.
Mais uma vez, estamos diante de um texto que trata da responsabilização
do outro por condutas que são de cada um de nós. Peça gostosa de ler e de forte
significado. Vale a leitura!
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