13 setembro 2017

Sobre poesias


Sempre compreendi que o texto representa o registro da forma de ver o mundo de determinado autor. Alguns conseguem externar as percepções a respeito da vida, em suas mais diferentes formas, de maneira simples, linear, mas não menos envolvente.

O hábito e a afinidade com os textos escritos em prosa foram, pouco a pouco, me afastando da poesia, mas não de maneira consciente.

No início do ano e 2017, quando as metas de leitura para o ano foram estabelecidas, dar espaço para outros estilos textuais, como os poemas, também foi item inserido. Até que, neste mês de setembro, finalmente dei início à leitura de Poemas Escolhidos, de Ferreira Gullar.

Com a proposta inicial de ler um poema por dia, me dei conta do porquê carregar comigo a impressão de ser esta uma leitura mais difícil, pois a realidade tem confirmado a percepção anterior.

A primeira dificuldade está na não necessária literalidade do texto, tendo em vista do uso de figuras de linguagens é uma característica do estilo. Mais do que isso, como bem explica Salvatore D’Onofrio, no livro Forma e Sentido do Texto Literário:

Um poema é constituído pela segmentação de sua escrita: cada verso é um recorte no continuum do discurso, estabelecendo pausas fônicas independentemente das pausas sintáticas. Por isso, a prosa se caracteriza pelo ritmo da continuidade, e a poesia, pelo ritmo da repetição.


Este tipo de estrutura e construção textual exige mais atenção e reflexão do leitor, em especial, aqueles que, como eu, não estão habituados ao estilo. Este é desafiador, criativo, mas, sobretudo, arte que, como tal, deve ser apreciada, sem moderação!
Assim como eu, permita-se!😊

Oswald morto
Enterraram ontem em São Paulo
um anjo antropófago
de asas de folha de bananeira
(mais um nome que se mistura à nossa vegetação tropical)

As escolas e as usinas paulistas
não se detiveram
para olhar o corpo do peta que anunciara a civilização do
ócio
Quanto mais pressa mais vagar

O lenço em que pela última vez
assoou o nariz
era uma bandeira nacional

Nota:
Fez sol o dia inteiro em Ipanema
Oswald de Andrade ajudou o crepúsculo
hoje domingo 24 de outubro de 1954

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