A
maioria das pessoas revela resistência para ler os grandes clássicos da
literatura pelo fato de boa parte deles ser composta por um significativo volume
de páginas, o que acaba sendo associado à dificuldade do texto.
Porém,
os textos escritos em prosa são estruturados de forma a envolver o leitor em
uma narrativa que, mesmo que o texto seja denso e composto por um vocabulário
mais erudito, o leve a avançar a cada página, sem se dar conta da quantidade de
folhas que já deixou para trás.
É
claro que há textos e textos, mas no geral, chegamos ao final de obras deste
estilo mais preocupados com o conteúdo do que com o volume do livro e
percebendo que o tamanho pode assustar, mas que por mais difícil que seja, o
texto nos envolve.
A
experiência da leitura de Poemas
Escolhidos, de Ferreira Gullar, revelou o quanto um pequeno livro, em
edição de bolso, com 113 páginas, publicado pela Editora Nova Fronteira em 2013,
pode sim, ser muito mais complicado e complexo do que qualquer calhamaço escrito
em prosa.
A
estrutura fragmentada da poesia que, por sua natureza, faz uso excessivo de
figuras de linguagens, ao mesmo tempo em que relaciona a forma ao conteúdo,
requer do leitor um verdadeiro exercício mental para compreender o significado
das palavras lidas.
Confesso
que não tenho muita certeza de ter entendido todos os textos de Gullar reunidos
nesta obra que, de uma forma ou de outra, trazem em seu cerne, críticas sociais
e fatos do cotidiano, como homenagens a nomes da cultura nacional, como Clarice
Lispector, Oswald de Andrade e Oscar Niemeyer; o Golpe Militar, a pobreza, a
fome, a vida e a morte.
Ler
e reler os textos deste livro de Ferreira Gullar me tirou da zona de conforto
que a familiaridade que a prosa me colocou. O incômodo de não compreender
determinados trechos e contextos, me obrigava a voltar aos trechos anteriores
até que, mais ou menos, conseguisse extrair um significado daquela leitura.
A
experiência é válida, demanda esforço, mesmo. E, exatamente por isso continuarei
a leitura do estilo, pois são desafios como este que nos transformam.
Morte de Clarice Lispector
Enquanto te enterravam no cemitério judeu
do Caju
(e o clarão de teu olhar soterrado
resistindo ainda)
o táxi corria comigo à borda da Lagoa
na direção de Botafogo
E as pedras e as nuvens e as árvores
no vento
mostravam alegremente
que não dependem de nós
(e o clarão de teu olhar soterrado
resistindo ainda)
o táxi corria comigo à borda da Lagoa
na direção de Botafogo
E as pedras e as nuvens e as árvores
no vento
mostravam alegremente
que não dependem de nós
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