04 dezembro 2017

Sobre intertextualidade


Olhar para trás e perceber que os meses que se passaram foram preenchidos por textos e contextos muitas vezes diversos daqueles planejados no início do ano tem uma explicação: a intertextualidade.

Ela é a responsável por nos colocar em contato com os textos que influenciam os textos que nos influenciam. E, por mais louco e confuso que isso possa parecer, esta realidade tem uma lógica incrível que torna a trajetória literária mais completa, complexa e, ao mesmo tempo, inusitada.

A cada livro iniciado temos expectativas - que podem ser atingidas ou não - a respeito do conteúdo que o autor compartilha conosco. A perspectiva dele nem sempre, ou quase nunca, coincide com a nossa e o mais incrível é que o resultado dessa soma é sempre positivo.

Para entender o porquê de o autor seguir determinados caminhos é preciso prestar mais atenção às referências que ele apresenta. Este olhar nos leva a perceber que alguns nomes são recorrentes em obras diversas, sendo esta uma das razões de serem chamados clássicos.

Os autores e títulos que se repetem naturalmente são incluídos naquela lista de livros a serem lidos que, dia após dia, torna-se infinita e vai reorientando nossa caminhada literária.

Há poucos dias conclui a leitura de O Monge e O Executivo, de James C. Hunter, Liev Tolstói – paixão consolidada desde a leitura de Anna Kariênina, a Bíblia, e alguns livros  e autores da área de gestão, como Stephen Covey e Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes, além de ter despertado  o interesse para a obra que dá continuidade a esta, intitulada: De Volta ao Mosteiro | O Monge e O Executivo Falam Sobre Liderança e Trabalho em Equipe.

Neste ano, reli as duas obras de Cacco Barcellos -  Abusado| O Dono do Morro Santa Marta e Rota66 | A História da Polícia que Mata – que me levaram a assistir novamente ao filme Quem matou Pixote? e a antecipar a leitura de Estação Carandiru, de Dráuzio Varella.

O massacre do Carandiru aconteceu em outubro de 1992, meses depois do lançamento do Rota 66. Além disso, parte dos policiais que aparecem na lista dos maiores matadores da polícia de São Paulo integram o grupo responsável pela chacina de 11 detentos no que, à época, era o maior presídio da América Latina.

A leitura de A Cerimônia do Adeus, de Simone de Beauvoir, me colocou em contato com o homem que foi Jean-Paul Sartre, muito além do autor de grandes clássicos literários. A obra, baseada nos diários que ela manteve durante os dez últimos anos de vida de Sartre, na primeira parte, mais uma extensa entrevista com ele, apresentada na segunda parte, revelam o quanto o olhar do outro nos torna diferente. Na primeira parte de A Cerimônia do Adeus  o leitor é colocado em contato com o Sartre que Simone de Beauvoir vê e admira. O segundo é muito mais real, mais cru e, justamente por isso, menos interessante. Ao menos aos meus olhos que passei a ter certo abuso dele, enquanto pessoa, o que não significa que não possa admirar as obras que ele produziu.

Por isso, no momento estou lendo o primeiro livro da trilogia Os Caminhos da Liberdade, que é composta pela A Idade da Razão, Sursi e A Morte na Alma.

Lá atrás, quando li a trilogia de Laurentino Gomes sobre a história do Brasil – 1808, 1822 e 1889 – inseri diversas obras na lista de livros a serem lidos, entre eles Esaú e Jacó, de Machado de Assis. A leitura desta obra me levou a ler outras, como O Memorial de Aires, que é uma das personagens citadas em Esaú e Jacó.

A intertextualidade somada às indicações que surgem, associa-se aos lançamentos e as novas descobertas de textos e autores que abordam temas do nosso interesse e/ou que são importantes à nossa construção e reconstrução como cidadãos do mundo, já que a literatura nos dá a oportunidade de conhecer fatos e personagens que, sem ela, jamais teríamos contato.

Por isso, leia sempre, pois esta é uma viagem fantástica com bilhete apenas de ida! 😊

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