O contato com o livro de Agatha Christie, Assassinato no Expresso do Oriente, pode
ser considerada uma experiência de saída da zona de conforto. Suspense não é
meu estilo de livro e filme por não despertar meu interesse, apesar de ter gostado
de alguns contos de Sherlock Holmes,
de Arthur Conan Doyle.
Li o livro da escritora inglesa em poucos dias porque queria
assistir ao filme depois da leitura concluída. Quase perdi a oportunidade de
apreciar a obra no cinema, mas na antevéspera de Natal ainda consegui pegar uma
sessão, com a sala praticamente vazia. Comigo, não havia mais do que dez
pessoas. Fantástico!
Quem já leu a resenha sobre o livro sabe que não gostei da obra e que, talvez, se fosse uma novela ou um conto
tivesse caído no meu gosto e fosse mais envolvente.
A lentidão que senti durante a leitura não se repetiu durante
o filme que, por ser mais curto e precisar compilar no pouco espaço de tempo
todo o enredo, trouxe o ritmo que achei que encontraria no texto de Agatha
Christie, escritora inglesa mais traduzida do que Shakespeare.
Com uma fotografia fascinante e que expressa bem o que o
passageiro encontra ao viajar de trem, o filme traz algumas adaptações necessárias,
e divergências em relação ao conteúdo original, que são próprias desse tipo de
produto.
Diante do livro, há para os leitores espaço de criação e idealização
das personagens, mas aos espectadores, eles já são apresentados prontos, sem
deixar margem à criatividade e interpretação de quem está do outro lado da telinha.
Neste sentido, se a caracterização do detetive Hercule Poirot
não fugiu ao estereótipo criado pelo meu imaginário de leitora, a do diretor da
Compagnie Internationale des Wagons Lits,
apresentado como um senhor atarracado e que no filme é um jovem adulto, fugiu
totalmente ao esperado.
Em linhas gerais o filme é bastante fiel ao livro, apesar de
alguns dos renomados atores que compõem o elenco serem realmente subaproveitados,
em decorrência da quantidade de personagens e do exíguo tempo para detalhar a história.
Além do gênero suspense ter sido uma novidade para mim em
termos de leitura, gostar mais do filme do que do livro foi realmente uma grata
surpresa para quem entrou na sala do cinema sem grandes expectativas.
Um dos destaques do filme é a relação de Hercule Poirot com o
livro de Charles Dickens que o acompanha durante a viagem no Expresso do Oriente,
A tale of two cities. Em algumas
cenas, Poirot aparece em momentos de grande diversão e risada enquanto lê, demonstrando
uma relação íntima com as palavras de Dickens que só os que se permitem
vivenciar esta relação com a literatura conseguem se identificar e compreender!
Também pelos momentos dedicados à leitura de Dickens, Poirot
afirma estar ocupado para se envolver em intrigas e problemas que procura
evitar, numa demonstração que a companhia de um livro é saída para as mais
diversas situações, em especial, para abrir novos caminhos!
Apesar disso, por questão de valores, o detetive é levado a
aceitar o desafio de desvendar o mistério que ocorre durante a viagem e, mesmo destacando
pautar sua vida e ações em tais valores, revela que o ambiente no qual estamos
inseridos pode influenciar de maneira significativa nossas escolhas, nem sempre
de acordo com esses mesmos valores.
Vale o filme, a reflexão e, mais do que tudo isso, sair da zona de
conforto e experimentar, sempre!!! 😊
Sinopse:
O detetive Hercule Poirot (Kenneth Branagh) embarca de
última hora no trem Expresso do Oriente, graças à amizade que possui com Bouc
(Tom Bateman), que coordena a viagem. Já a bordo, ele conhece os demais
passageiros e resiste à insistente aproximação de Edward Ratchett (Johnny
Depp), que deseja contratá-lo para ser seu segurança particular. Na noite
seguinte, Ratchett é morto em seu vagão. Com a viagem momentaneamente
interrompida devido a uma nevasca que fez com que o trem descarrilhasse, Bouc
convence Poirot para que use suas habilidades dedutivas de forma a desvendar o
crime cometido.
Elenco:
- Kenneth Branagh como Hercule Poirot; Tom Bateman como M. Bouc; Lucy Boynton como Condessa Andrenyi; Olivia Colman como Hildegarde Schmidt; Penélope Cruz como Greta Ohlsson; Willem Dafoe como Gerhard Hardman; Judi Dench como Princesa Dragomiroff; Johnny Depp como Ratchett; Josh Gad como Hector MacQueen; Manuel Garcia-Rulfo como Marquez; Derek Jacobi como Edward Masterman; Marwan Kenzari como Pierre Michel; Leslie Odom Jr. como Coronel Arbuthnot; Michelle Pfeiffer como Mrs. Hubbard; Sergei Polunin como Conde Andrenyi; Daisy Ridley como Mary Debenham.
Nenhum comentário:
Postar um comentário