Os livros clássicos são chamados clássicos devido à sua
perenidade ao longo do tempo, por trazerem ao leitor temas e abordagens que não
perdem valor e significado com o passar dos anos. Estar em contato com obras
desta natureza é uma experiência impressionante, tendo em vista a habilidade
dos autores de nos colocar diante de uma realidade tão contemporânea, independente
da data da primeira publicação do texto.
Isso é o que acontece com o livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, que, apesar de sido
publicado em 1974, é mais atual do que muitas das obras lançadas há pouco tempo.
Não é por acaso que esta é considerada uma das obras clássicas da Educação no
Brasil e no mundo.
Em um texto elaborado em formato de ensaio, Paulo Freire nos
apresenta sua percepção a respeito do processo de ensino e aprendizagem, bem
como o significado por trás das práticas pedagógicas e suas respectivas consequências
para a construção do ser humano enquanto ser.
Paulo Freire observa que a relação entre educador e educando
deve ser dialógica, partindo da perspectiva do educando enquanto ser capaz de
agir e construir, ao invés do tradicional enquadramento deste como objetivo a
ser moldado pelo professor.
A construção do conhecimento, segundo Freire, deve acontecer
a partir de uma relação que viabiliza a ambos exercerem o papel de educador e educando,
na medida em que a troca de experiências favorece a apreensão mútua de suas
respectivas realidades e a consequente apropriação do conteúdo, de maneira
significativa.
Em Pedagogia do
Oprimido, Freire destaca que o estímulo à autonomia do indivíduo se dá a
partir da orientação à percepção de si mesmo como construtor de sua realidade e
do conhecimento que busca. De acordo com esta concepção, o homem só se faz
homem quando consegue desenvolver o raciocínio crítico sobre si mesmo e o mundo
que o rodeia e influencia.
O importante, do ponto de vista de uma educação libertadora, e não ‘bancária’, é que, em qualquer dos casos, os homens se sintam sujeitos de seu pensar, discutindo o seu pensar, sua própria visão de mundo, manifestada implícita ou explicitamente, nas suas sugestões e nas dos seus companheiros.
Porém, Paulo Freire ressalta que compreender a necessidade
de estabelecimento de uma relação dialógica não significa desenvolve-la
facilmente, pois para que isso aconteça é imprescindível a adoção de uma
postura revolucionária por parte do educador e do educando.
Salientamos, mais uma vez, que não estabelecemos nenhuma dicotomia entre o diálogo e a ação revolucionária, como se houvesse um tempo de diálogo, e outro, diferente, de revolução. Afirmamos, pelo contrário, que o diálogo é a ‘essência’ da ação revolucionária.
O autor explica que a revolução é necessária tendo em vista
que a construção de si mesmo exige a apropriação sobre seu próprio pensar, o
que é evitado pelos que compõem a elite que, por sua vez, determina e controla
o desenvolvimento econômico e vê na massa o conjunto de instrumentos
necessários à manutenção do status quo.
É com base neste pensamento que o ensino é desenvolvido,
para que os oprimidos auxiliem aos opressores a manter as coisas como estão,
com base no fazer produtivo das massas.
A questão está em que pensar autenticamente é perigoso. O estranho humanismo desta concepção ‘bancária’ se reduz à tentativa de fazer dos homens o seu contrário – o autômato, que é a negação de sua ontológica vocação de ser mais.
Mais do que explicar didaticamente como se dá a relação entre
opressores e oprimidos, causas e consequências desta relação, Paulo Freire expõe
ao leitor como desenvolver uma prática educativa libertadora em oposição ao que
chama de concepção ‘bancária’, segundo a qual, o professor deposita seu
conhecimento nos alunos.
Por mais que este livro tenha sido originado para discutir
uma nova forma de alfabetização, Pedagogia
do Oprimido é o tipo de obra que deve ser lido por todos nós, enquanto cidadãos,
tendo em vista que as amarras deste sistema opressor estão ‘hospedadas’ em cada
um de nós, o que nos leva a reproduzir a sistemática que nos aliena da construção
de nossa própria história, mesmo que inconscientemente.
Como se não bastasse tudo isso, Paulo Freire nos orienta ao
longo do ensaio a um conjunto de referências que corroboram suas ideias e
tornam nossa lista de leitura cada vez mais extensa. Entre tais referências,
podemos destacar: George Lukács; Louis Althusser; Getúlio Vargas; Vladimir
Lenin; Fidel Castro; Karl Marx; Ernesto Guevara; Jean-Paul Sartre; Simone de
Beauvoir; Engels; entre outros.
Nesta edição, publicada pela Editora Paz e Terra, em 2005,
com 213 páginas, as notas de rodapé representam um importante complemento ao
conteúdo do livro que, sem dúvida, deve ser lido e relido diversas vezes na
vida.
Se nada ficar destas páginas, algo, pelo menos, esperamos que permaneça: nossa confiança no povo. Nossa fé nos homens e na criação de um mundo em que seja menos difícil amar. ❤
Uma aula para a formação cidadã!
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