25 agosto 2017

Pedagogia do Oprimido





Os livros clássicos são chamados clássicos devido à sua perenidade ao longo do tempo, por trazerem ao leitor temas e abordagens que não perdem valor e significado com o passar dos anos. Estar em contato com obras desta natureza é uma experiência impressionante, tendo em vista a habilidade dos autores de nos colocar diante de uma realidade tão contemporânea, independente da data da primeira publicação do texto.

Isso é o que acontece com o livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, que, apesar de sido publicado em 1974, é mais atual do que muitas das obras lançadas há pouco tempo. Não é por acaso que esta é considerada uma das obras clássicas da Educação no Brasil e no mundo.

Em um texto elaborado em formato de ensaio, Paulo Freire nos apresenta sua percepção a respeito do processo de ensino e aprendizagem, bem como o significado por trás das práticas pedagógicas e suas respectivas consequências para a construção do ser humano enquanto ser.

Paulo Freire observa que a relação entre educador e educando deve ser dialógica, partindo da perspectiva do educando enquanto ser capaz de agir e construir, ao invés do tradicional enquadramento deste como objetivo a ser moldado pelo professor.

A construção do conhecimento, segundo Freire, deve acontecer a partir de uma relação que viabiliza a ambos exercerem o papel de educador e educando, na medida em que a troca de experiências favorece a apreensão mútua de suas respectivas realidades e a consequente apropriação do conteúdo, de maneira significativa.

Em Pedagogia do Oprimido, Freire destaca que o estímulo à autonomia do indivíduo se dá a partir da orientação à percepção de si mesmo como construtor de sua realidade e do conhecimento que busca. De acordo com esta concepção, o homem só se faz homem quando consegue desenvolver o raciocínio crítico sobre si mesmo e o mundo que o rodeia e influencia.

O importante, do ponto de vista de uma educação libertadora, e não ‘bancária’, é que, em qualquer dos casos, os homens se sintam sujeitos de seu pensar, discutindo o seu pensar, sua própria visão de mundo, manifestada implícita ou explicitamente, nas suas sugestões e nas dos seus companheiros.


Porém, Paulo Freire ressalta que compreender a necessidade de estabelecimento de uma relação dialógica não significa desenvolve-la facilmente, pois para que isso aconteça é imprescindível a adoção de uma postura revolucionária por parte do educador e do educando.

Salientamos, mais uma vez, que não estabelecemos nenhuma dicotomia entre o diálogo e a ação revolucionária, como se houvesse um tempo de diálogo, e outro, diferente, de revolução. Afirmamos, pelo contrário, que o diálogo é a ‘essência’ da ação revolucionária.


O autor explica que a revolução é necessária tendo em vista que a construção de si mesmo exige a apropriação sobre seu próprio pensar, o que é evitado pelos que compõem a elite que, por sua vez, determina e controla o desenvolvimento econômico e vê na massa o conjunto de instrumentos necessários à manutenção do status quo.

É com base neste pensamento que o ensino é desenvolvido, para que os oprimidos auxiliem aos opressores a manter as coisas como estão, com base no fazer produtivo das massas.

A questão está em que pensar autenticamente é perigoso. O estranho humanismo desta concepção ‘bancária’ se reduz à tentativa de fazer dos homens o seu contrário – o autômato, que é a negação de sua ontológica vocação de ser mais.


Mais do que explicar didaticamente como se dá a relação entre opressores e oprimidos, causas e consequências desta relação, Paulo Freire expõe ao leitor como desenvolver uma prática educativa libertadora em oposição ao que chama de concepção ‘bancária’, segundo a qual, o professor deposita seu conhecimento nos alunos.

Por mais que este livro tenha sido originado para discutir uma nova forma de alfabetização, Pedagogia do Oprimido é o tipo de obra que deve ser lido por todos nós, enquanto cidadãos, tendo em vista que as amarras deste sistema opressor estão ‘hospedadas’ em cada um de nós, o que nos leva a reproduzir a sistemática que nos aliena da construção de nossa própria história, mesmo que inconscientemente.

Como se não bastasse tudo isso, Paulo Freire nos orienta ao longo do ensaio a um conjunto de referências que corroboram suas ideias e tornam nossa lista de leitura cada vez mais extensa. Entre tais referências, podemos destacar: George Lukács; Louis Althusser; Getúlio Vargas; Vladimir Lenin; Fidel Castro; Karl Marx; Ernesto Guevara; Jean-Paul Sartre; Simone de Beauvoir; Engels; entre outros.

Nesta edição, publicada pela Editora Paz e Terra, em 2005, com 213 páginas, as notas de rodapé representam um importante complemento ao conteúdo do livro que, sem dúvida, deve ser lido e relido diversas vezes na vida. 
Se nada ficar destas páginas, algo, pelo menos, esperamos que permaneça: nossa confiança no povo. Nossa fé nos homens e na criação de um mundo em que seja menos difícil amar. ❤

Uma aula para a formação cidadã!

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