09 agosto 2017

Getúlio | O Filme


Lançado em 2014 para marcar os 60 anos da morte do ex-presidente Getúlio Vargas, que cometeu suicídio no dia 24 de agosto de 1954, o filme Getúlio entrou neste mês de agosto no catálogo do Netflix.

Com uma narrativa que se propõe a revelar a perspectiva pessoal do presidente em relação aos fatos que culminaram com sua morte, como o atentado da rua Toneleiros, que vitimou o major Vaz, da Aeronáutica, e feriu o jornalista Carlos Lacerda, ferrenho opositor de Getúlio e alvo da tocaia; bem como a descoberta de um esquema de corrupção orquestrado por Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente e mandante do atentado.

Ao mesmo tempo, temos ainda a oportunidade de perceber o quanto os discursos parlamentares baseados em alianças bem articuladas são capazes de mobilizar a sociedade e tornar verdade aquilo que determinados atores envolvidos no jogo político julgam como sendo relevantes e prioritários à agenda pública.

Os debates entre os deputados Afonso Arinos e Gustavo Capanema (líder do governo) são exemplo disso, tendo em vista a verdade ser inevitavelmente fatiada, a partir dos interesses que motivam quem fala. Neste quesito, o grande representante é o jornalista Carlos Lacerda, que trava intensa luta pela moralidade e de combate à corrupção, mas não hesita em manter um militar da Aeronáutica como segurança particular e/ou pressionar servidores públicos a adotarem uma postura de traição não só ao presidente, mas à Constituição Federal, por aquilo que ele entende como mais importante: a queda de Getúlio.

Qualquer semelhança com os problemas do Brasil contemporâneo não é mera coincidência. O então ministro do governo Getúlio Vargas, Tancredo Neves, afirmou, após o suicídio, que:

Se não houvesse o suicídio de Vargas, 1954 já teria sido 1964. Você verifica que as lideranças de 65 são as mesmas lideranças de 54, com os mesmos objetivos. Para mim este é o aspecto mais importante do suicídio de Vargas.

A persistência dos golpistas tinha como causa, entre outras coisas, a descrença quanto ao viés democrático agora demonstrado por Vargas, que não os convencia. Para eles, era clara a ideia de que ditadores e corruptos não mudam, ‘apenas tiram férias’. Porém, de acordo com o filme, Vargas optou pelo trágico fim para evitar destruir mais uma Constituição. Se assim fizesse, esta seria a terceira Carta Magna rasgada por ele.

Além da trama política e militar, o filme também traz à tona a polêmica a respeito da autoria da carta deixada por Getúlio, para explicar sua atitude. Muitos dizem que o texto foi escrito por Maciel Filho, que trabalhava com os discursos do presidente, porém, o filme destaca que Getúlio entregou a Maciel um manuscrito, que é edita, datilografa e devolve a carta ao presidente. Portanto, há a defesa da autoria de Getúlio que, ainda segundo a obra, escolheu a data de 24 de agosto por ser aniversário de morte de um de seus filhos.

Ainda falando sobre a relatividade dos valores e da verdade, o filme mostra os inquéritos presididos pelos militares que resultavam em depoimentos falsos, prisões e investigações judicialmente questionáveis que, no mínimo, revelam a hipocrisia daqueles que se apresentavam como defensores da moral e dos bons costumes.

Esta temática é, sem dúvida, de conhecimento obrigatório para qualquer cidadão brasileiro, pois a história nacional explica quem somos, como funciona o nosso sistema político, ao mesmo tempo em que nos ajuda a refletir sobre os possíveis caminhos para a construção de uma nova história. Vale cada minuto dedicado ao filme!

Gosto mais de ser interpretado do que me explicar. Getúlio Vargas

Sobre o filme:
  • Sinopse: A intimidade de Getúlio Vargas (Tony Ramos), então presidente do Brasil, em seus 19 últimos dias de vida. Pressionado por uma crise política sem precedentes, em decorrência das acusações de que teria ordenado o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda (Alexandre Borges), ele avalia os riscos existentes até tomar a decisão de se suicidar.
  • Data de lançamento 1 de maio de 2014 (1h 40min)
  • Direção: João Jardim
  • Elenco: Tony Ramos, Drica Moraes, Alexandre Borges, Adriano Garib, Marcelo Médici, Jackson Antunes, Leonardo Medeiros, Michel Bercovitch, Fernando Eiras, Daniel Dantas, Thiago Justino, Alexandre Nero.
  • Gênero: Drama
  • Nacionalidade: Brasil

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