14 agosto 2017

Anna Kariênina | Parte II


Nos 35 capítulos que compõem a segunda parte do romance Anna Kariênina, de Liev Tolstói, o autor mantém o leitor em contato próximo com as personagens que se entrelaçam na sociedade russa do século XIX, a partir de um texto leve e, ao mesmo tempo, surpreendente.

Depois de um ano de flerte sob os olhares questionadores da sociedade e das dúvidas que do marido a respeito de sua fidelidade, Anna Kariênina se rende ao sentimento que envolve tanto a ela quanto a Vrónski.

A paixão que uniu os amantes não foi capaz de tirar de suas consciências o sentimento de culpa, tanto pela relação de amantes que passaram a vivenciar e o que ela representa, como pelas mentiras que se percebem obrigados a contar, para viabilizar os encontros amorosos.

sentia toda a dificuldade que havia, para eles, de esconder seu amor, de mentir e de enganar; e mentir, enganar, usar de astúcia e pensar constantemente nos outros, quando a paixão que os unia era tão forte que ambos esqueciam tudo, exceto o seu amor.


Os recorrentes pesadelos que Anna passa a vivenciar a fazem experimentar a sensação de ser casada com os dois homens de sua vida, Aleksiei Aleksándrovitch e Vrósnki. E se nos sonhos não encontrava a paz, no estado de vigília muito menos.

Apesar de não conseguirem ficar longe um do outro, Anna e Vrónski demonstram incômodo com a presença do filho dela, Serioja, que os vê juntos, porém não entende a relação entre eles, nem muito menos qual a relação daquele homem que agora frequenta sua casa com o pai, geralmente ausente.

Aleksiei Aleksándrovitch encontrou no trabalho a fuga para não encarar a realidade que cada vez menos o casal de amantes conseguia esconder. Durante uma corrida de cavalos, na qual Vrónski foi um dos competidores, Anna Kariênina não conseguiu conter as lágrimas diante do acidente que o cavaleiro sofreu. O marido, tentando proteger a mulher e a si mesmo de situação ainda mais constrangedora, leva Anna para casa.

Via que as profundezas da alma de Anna, antes sempre abertas para ele, se haviam fechado. Mais ainda, pelo tom de voz da esposa, via que ela não se perturbava com isso e parecia dizer-lhe de forma direta: sim, estão fechadas, assim deve ser e assim será, daqui em diante. Ele agora experimentava um sentimento semelhante ao de um homem que, ao voltar para casa, encontra a porta trancada. “Mas talvez ainda possa encontrar a chave”, pensou Aleksiei Aleksándrovitch.


No caminho, Aleksiei Aleksándrovitch volta a confrontar Anna a respeito da situação, porém, desta vez, ela não nega o sentimento e o envolvimento com Vrónski, de quem já está grávida, apesar de o marido ainda não saber.

Aleksándrovitch diz a mulher que tomará as precauções devidas para não ter seu prestígio político e social prejudicados perante a sociedade de São Petersburgo e, assim que possível, manterá Anna informada. Para ela, parecia que a conversa que acabara de ter não tinha importância, já que estava tomada pela ansiedade de receber notícias sobre o estado de saúde de Vrónski e se ele teria condições de ir ao seu encontro.

Ao mesmo tempo em que o romance entre Anna e Vrónksi se consolida e passa a ser questionado pelas famílias de ambos, Kitty não consegue se restabelecer após ter sido preterida por Vrónski, por causa de Anna Kariênina, e adoece.

Meses depois do baile realizado em Moscou, no qual o encontro entre Anna e Vrónski marcou a vida de tantas pessoas, a cunhada de Stiepan Arcáditch Oblonsky não conseguia superar a vergonha e a humilhação que sentia e sucumbiu à tristeza. Para tentar reverter a situação, os pais de Kitty foram para a Alemanha com ela passar um período de férias.

O contato com pessoas doentes, inclusive com o irmão de Konstantin Liéven, Nikolai, a fizeram rever posicionamentos e a decidir retomar o controle da própria vida. A hipocrisia da sociedade não era para ela, afirmava.

Não posso viver senão segundo o meu coração


Enquanto isso, Liéven também se entregou ao trabalho em sua propriedade no campo para esquecer o orgulho ferido após a recursa de Kitty em aceitar seu pedido de casamento. Porém, meses depois do ocorrido, ele percebia que o sentimento que nutria por ela não mudara, assim como a dor da rejeição.

Mas o tempo e o trabalho faziam a sua parte. As lembranças penosas ficavam cada vez mais encobertas pelos acontecimentos triviais

Tudo isso ficou ainda mais forte quando Oblonsky vai visitá-lo, com o propósito de vender umas terras para um comerciante local que Liéven considerava de caráter duvidoso. Apesar de seu posicionamento, Oblonsky manteve o negócio por já ter empenhado a palavra.

Durante a estadia, Oblonsky revelou a Liéven a condição frágil na qual Kitty se encontrava. A notícia foi para Liéven um alívio, pois descobriu que além de ainda não ter casado, também sentiu uma espécie de vingança, por saber que não foi o único a sofrer.

A leitura continua na terceira parte de oito desta obra magnífica de Liev Tolstói. 

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