De tempos em tempos, a defesa pela desregulação do mercado
torna-se mais forte. E justamente pelo fato de a perspectiva cíclica dos
processos gerenciais seguir a evolução histórica, observar os equívocos identificados
no estabelecimento de relações não muito claras entre o mercado e o governo,
bem como as consequências da livre iniciativa a qualquer custo para a sociedade,
nos dá, ao menos, parâmetros para defender ou não aquilo que Adam Smith prega
como o melhor caminho para viabilizar “A Riqueza das Nações”, desde o século
XVIII.
Casos como o escândalo da empresa norte-americana de energia
Enron, que entrou em processo de falência em 2001 depois de ter sido a sétima
maior companhia dos Estados Unidos, revelam como as relações de poder podem ser
permeadas por interesses puramente pessoais, o que, em se tratando do
envolvimento do setor público - na
regulação e/ou oferta de serviços – esta perspectiva é inadmissível. Ou deveria
ser.
Com roteiro e direção de Alex Gibney, o documentário Enron: Os mais espertos da sala, de
2005, revela como a empresa manipulou os balanços contábeis para atrair novos
investidores e conseguiu. A manobra elevou o preço das ações da Eron, ano a
ano, e a empresa em um dos melhores investimentos no mundo, que chegou a ser
avaliada em 68 milhões de dólares, até que no ano de sua falência, este mesmo
preço caiu para 30 centavos de dólares.
O documentário, disponível no YouTube, revela que a história
da Enron, criada em 1985, foi boa parte baseada em fraudes, com atuação no
mercado de seguro de energia, banda larga e energia elétrica.
As relações pessoais do presidente da companhia, Ken Lay, com
a família Bush, é apontada como uma das armas usadas pela Enron, pois, de acordo
com o filme, tais relações beneficiaram a atuação da empresa. Um exemplo disso
está no fato de que, durante a gestão de George W. Bush, o órgão responsável
pela regulação do serviço de energia no país foi indicado por Lay que, não fiscalizou
o serviço.
O resultado desta não ação permitiu que a Eron se
aproveitasse da crise energética registrada no Estado da Califórnia em 2001.
Neste período, a empresa usou estratégias ilícitas para viabilizar o aumento do
preço da energia ao consumidor, inclusive com a ocorrência de blackouts. Foi
neste contexto, e com apoio da Eron que, por exemplo, Arnold Schwarzenegger foi
eleito governador da Califórnia.
A atuação dos principais gestores da Enron, bem como suas
respectivas relações políticas, é destacada no filme, através dos depoimentos e
gravações que mostram como a hierarquia da companhia funcionava. Os envolvidos
foram condenados a anos de prisão e multa, mas nada disso viabilizou a recuperação
dos prejuízos causados aos milhares de funcionários, pensionistas e
investidores. Só por isso, já vale conhecer este caso!
Nenhum comentário:
Postar um comentário