28 agosto 2017

Documentos de Identidade


Reflexões sobre a educação e as melhores práticas para desenvolvê-la passam, necessariamente, pela definição do conteúdo e formas de difusão do mesmo. Porém, a definição desses elementos tem como fundamento que os precedem o desenvolvimento da sociedade e a consequente identificação do tipo de cidadão que viabilizará tal construção, a partir da formação recebida.

Neste sentido, o currículo é o documento que reflete a estruturação da sociedade almejada, a partir dos valores, habilidades, competências e demandas considerados como prioritários para segmentos específicos e que orientarão a prática da educação.

Diante disso, é perceptível a identificação do currículo enquanto “documento de identidade”, como propõe Tomaz Tadeu da Silva no livro Documentos de Identidade | Uma introdução às teorias do currículo, publicado pela editora Autêntica (2015), e que conta com 150 páginas.

A obra apresenta ao leitor a concepção teórica das teorias do currículo e orienta a caminhada entre elas, das tradicionais passando pelas críticas, até chegar às teorias pós–críticas e ao que tem sido discutido depois dessas perspectivas.

O que Tomaz Tadeu da Silva nos ajuda a perceber é que, de fato, a orientação de cada vertente teórica representa um período histórico da humanidade e, consequentemente, os valores e demandas que se sobressaem em cada época.

Se na perspectiva tradicional temos a forte percepção da transmissão do saber de professores para os alunos de um conhecimento previamente definido como essencial, com ênfase na absorção do mesmo sem uma necessária reflexão crítica; a concepção crítica incorpora a relevância do questionamento da ideologia dominante e da resistência à homogeneização do ser humano.

Deste ponto em diante, há a inserção, ou melhor, a não negação da diversidade na sociedade que deve não apenas ser tolerada, mas observada em seus aspectos mais complexos, tendo em vista serem esses os determinantes da cultura e da identidade dos grupos.

Deve-se tolerar e respeitar a diferença porque sob a aparente diferença há uma mesma humanidade. (p.86)


Ao ter a diversidade incorporada à sua estrutura, o autor demonstra que o currículo é um elemento com estrutura política na qual as relações de poder se desencadeiam, ao orientar as reflexões a serem realizadas no processo educativo. A consequência disso é a orientação ao desenvolvimento de um olhar crítico sobre as estruturas sociais que nos envolvem e moldam o nosso ser e fazer humano.

O currículo é uma questão de saber, identidade e poder. (p.147)


O currículo é, portanto, um dos espaços para a definição da estrutura social e dos caminhos para a concretização deste projeto coletivo e, como tal, não há consenso nem muito menos uma única resposta correta sobre como defini-lo, o que reforça a importância de uma análise crítica a respeito de sua definição, tendo em vista a escolha de determinados elementos ser também um exercício de poder.

O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo se forja nossa identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade. (p.150)


Este é um livro de fácil leitura e de relevantes reflexões sobre a educação, sociedade na qual estamos inseridos e as mudanças que almejamos a partir da formação do indivíduo. Vale a leitura!

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