Reflexões sobre a educação e as melhores práticas para
desenvolvê-la passam, necessariamente, pela definição do conteúdo e formas de
difusão do mesmo. Porém, a definição desses elementos tem como fundamento que
os precedem o desenvolvimento da sociedade e a consequente identificação do
tipo de cidadão que viabilizará tal construção, a partir da formação recebida.
Neste sentido, o currículo é o documento que reflete a estruturação
da sociedade almejada, a partir dos valores, habilidades, competências e
demandas considerados como prioritários para segmentos específicos e que
orientarão a prática da educação.
Diante disso, é perceptível a identificação do currículo
enquanto “documento de identidade”, como propõe Tomaz Tadeu da Silva no livro Documentos de Identidade | Uma introdução às
teorias do currículo, publicado pela editora Autêntica (2015), e que conta
com 150 páginas.
A obra apresenta ao leitor a concepção teórica das teorias
do currículo e orienta a caminhada entre elas, das tradicionais passando pelas
críticas, até chegar às teorias pós–críticas e ao que tem sido discutido depois
dessas perspectivas.
O que Tomaz Tadeu da Silva nos ajuda a perceber é que, de
fato, a orientação de cada vertente teórica representa um período histórico da
humanidade e, consequentemente, os valores e demandas que se sobressaem em cada
época.
Se na perspectiva tradicional temos a forte percepção da
transmissão do saber de professores para os alunos de um conhecimento
previamente definido como essencial, com ênfase na absorção do mesmo sem uma
necessária reflexão crítica; a concepção crítica incorpora a relevância do questionamento
da ideologia dominante e da resistência à homogeneização do ser humano.
Deste ponto em diante, há a inserção, ou melhor, a não negação
da diversidade na sociedade que deve não apenas ser tolerada, mas observada em
seus aspectos mais complexos, tendo em vista serem esses os determinantes da
cultura e da identidade dos grupos.
Deve-se tolerar e respeitar a diferença porque sob a aparente diferença há uma mesma humanidade. (p.86)
Ao ter a diversidade incorporada à sua estrutura, o autor
demonstra que o currículo é um elemento com estrutura política na qual as relações
de poder se desencadeiam, ao orientar as reflexões a serem realizadas no
processo educativo. A consequência disso é a orientação ao desenvolvimento de
um olhar crítico sobre as estruturas sociais que nos envolvem e moldam o nosso
ser e fazer humano.
O currículo é uma questão de saber, identidade e poder. (p.147)
O currículo é, portanto, um dos espaços para a definição da
estrutura social e dos caminhos para a concretização deste projeto coletivo e,
como tal, não há consenso nem muito menos uma única resposta correta sobre como
defini-lo, o que reforça a importância de uma análise crítica a respeito de sua
definição, tendo em vista a escolha de determinados elementos ser também um exercício
de poder.
O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo se forja nossa identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade. (p.150)
Este é um livro de fácil leitura e de relevantes reflexões sobre
a educação, sociedade na qual estamos inseridos e as mudanças que almejamos a
partir da formação do indivíduo. Vale a leitura!
Nenhum comentário:
Postar um comentário