A importância da leitura dos livros de e sobre a história do
Brasil é que, a partir dos relatos dos fatos passados, temos a oportunidade de
compreender como e por que a construção do nosso caminho aconteceu de
determinada maneira. Afinal, somos hoje o resultado das escolhas feitas ontem,
sejam elas individual ou coletivamente.
Essas são as características do primeiro livro sobre o ano
de 1968 publicado pelo jornalista Zuenir Ventura, “1968: O ano que não terminou”,
em 1988. Quarenta anos depois do ano de referência, em 2008, o autor nos
entregou uma nova obra “1968: O que fizemos de nós”, com uma perspectiva
analítica a respeito de fatos contemporâneos que nos leva a repetir diversas
vezes a pergunta: afinal, o que fizemos de nós?
Dividida em duas partes, a obra, que conta com apenas 211
páginas, é densa e intensa, por fazer um contraponto entre aquilo que era o
sonho da geração de 1968 e qual foi a realidade construída, ou melhor, qual é
esta realidade, já que estamos nos referindo a um passado que é totalmente presente.
Na parte I, intitulada “68 após 68”, Zuenir mantém o formato
do primeiro livro - que teve como proposta
nos apresentar a biografia daquele ano, do réveillon de 1967 para 1968 até a
publicação do Ato Institucional n°5 e a expectativa (ou a falta dela) para o
ano seguinte. Neste segundo volume, o jornalista faz um paralelo para nos
mostrar as diferenças culturais, os avanços e retrocessos que marcaram a nossa
sociedade, após o período revolucionário, nos mais diversos campos. O relato
mantém o trajeto que passa pelo que éramos, o que sonhávamos, o que enfrentamos
para tornar esses sonhos realidade e o que de fato somos, enquanto sociedade.
Neste caminho, a pergunta se mantém: o que fizemos de nós?
A segunda parte do
livro, “De olho na herança”, é composta por uma série de entrevista feitas a
personagens que deixaram suas marcas e foram fortemente marcados por esses 40
anos de história brasileira. Personalidades como Caetano Veloso, Fernando
Gabeira, Fernando Henrique Cardoso e José Dirceu apresentam suas versões e interpretações
dos fatos que transformaram a vida deles e de cada um de nós.
Registros como os feitos neste livro resultam na humanização
de elementos abstratos que parecem estar distantes de nós e não nos dizer
respeito quando, na verdade, é exatamente o contrário. Eles não apenas nos
representam, como nos constituem, enquanto seres individuais e, especialmente,
enquanto Nação. Exemplos disso são a entrevista com o ex-ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF), Eros Grau; e o relato da tortura sofrida por Criméia,
mesmo grávida, até o nascimento do filho, José Carlos de Almeida Grabois que,
em 2005, foi oficialmente reconhecido como tendo sido “torturado no ventre”.
Este não é o tipo de livro que simplesmente dizemos se
gostamos ou não, porque ele é indigesto, por nos chamar à nossa
responsabilidade enquanto cidadãos e partícipes do caos que aí está e para o
futuro que estamos construindo, ao mesmo tempo que é se apresenta em um texto
fluido e de agradável leitura. A única certeza é que é uma leitura necessária
pelo convite à reflexão sobre nós mesmos que a obra nos faz.
Vale a leitura e a tentativa de responder não só sobre o que
fizemos, mas também o que estamos fazendo de nós?
Os jovens de hoje têm dificuldade de imaginar que houve um tempo em que se vivia sem:
O que não existia
CD, DVD, Gisele Bundchen, bala perdida, telefone celular, internet (Web, Google, Orkut, site, e-mail, MSN, Second Life), alimentação diet, Viagra, Big Brother, mania de correr, notícia em tempo real, interatividade, iPod, aids, medo de colesterol, medo de assalto, grades nos prédios, piercing, depilação dos grandes lábios, Botox, seios turbinados, o “estarei fazendo”, anorexia, globalização, DNA, pensamento único, academias de musculação, Bill Gates, baile funk, controle remoto, forno de micro-ondas, TV em cores, TV a cabo, garotas de programa (com este nome), shopping centers, ecstasy e mania de fazer listas como esta.
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