03 julho 2017

1968: O que fizemos de nós

A importância da leitura dos livros de e sobre a história do Brasil é que, a partir dos relatos dos fatos passados, temos a oportunidade de compreender como e por que a construção do nosso caminho aconteceu de determinada maneira. Afinal, somos hoje o resultado das escolhas feitas ontem, sejam elas individual ou coletivamente.

Essas são as características do primeiro livro sobre o ano de 1968 publicado pelo jornalista Zuenir Ventura, “1968: O ano que não terminou”, em 1988. Quarenta anos depois do ano de referência, em 2008, o autor nos entregou uma nova obra “1968: O que fizemos de nós”, com uma perspectiva analítica a respeito de fatos contemporâneos que nos leva a repetir diversas vezes a pergunta: afinal, o que fizemos de nós?

Dividida em duas partes, a obra, que conta com apenas 211 páginas, é densa e intensa, por fazer um contraponto entre aquilo que era o sonho da geração de 1968 e qual foi a realidade construída, ou melhor, qual é esta realidade, já que estamos nos referindo a um passado que é totalmente presente.

Na parte I, intitulada “68 após 68”, Zuenir mantém o formato do primeiro livro -  que teve como proposta nos apresentar a biografia daquele ano, do réveillon de 1967 para 1968 até a publicação do Ato Institucional n°5 e a expectativa (ou a falta dela) para o ano seguinte. Neste segundo volume, o jornalista faz um paralelo para nos mostrar as diferenças culturais, os avanços e retrocessos que marcaram a nossa sociedade, após o período revolucionário, nos mais diversos campos. O relato mantém o trajeto que passa pelo que éramos, o que sonhávamos, o que enfrentamos para tornar esses sonhos realidade e o que de fato somos, enquanto sociedade.

Neste caminho, a pergunta se mantém: o que fizemos de nós?

A segunda parte do livro, “De olho na herança”, é composta por uma série de entrevista feitas a personagens que deixaram suas marcas e foram fortemente marcados por esses 40 anos de história brasileira. Personalidades como Caetano Veloso, Fernando Gabeira, Fernando Henrique Cardoso e José Dirceu apresentam suas versões e interpretações dos fatos que transformaram a vida deles e de cada um de nós.

Registros como os feitos neste livro resultam na humanização de elementos abstratos que parecem estar distantes de nós e não nos dizer respeito quando, na verdade, é exatamente o contrário. Eles não apenas nos representam, como nos constituem, enquanto seres individuais e, especialmente, enquanto Nação. Exemplos disso são a entrevista com o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Eros Grau; e o relato da tortura sofrida por Criméia, mesmo grávida, até o nascimento do filho, José Carlos de Almeida Grabois que, em 2005, foi oficialmente reconhecido como tendo sido “torturado no ventre”.

Este não é o tipo de livro que simplesmente dizemos se gostamos ou não, porque ele é indigesto, por nos chamar à nossa responsabilidade enquanto cidadãos e partícipes do caos que aí está e para o futuro que estamos construindo, ao mesmo tempo que é se apresenta em um texto fluido e de agradável leitura. A única certeza é que é uma leitura necessária pelo convite à reflexão sobre nós mesmos que a obra nos faz.

Vale a leitura e a tentativa de responder não só sobre o que fizemos, mas também o que estamos fazendo de nós?


O que não existia
Os jovens de hoje têm dificuldade de imaginar que houve um tempo em que se vivia sem:
CD, DVD, Gisele Bundchen, bala perdida, telefone celular, internet (Web, Google, Orkut, site, e-mail, MSN, Second Life), alimentação diet, Viagra, Big Brother, mania de correr, notícia em tempo real, interatividade, iPod, aids, medo de colesterol, medo de assalto, grades nos prédios, piercing, depilação dos grandes lábios, Botox, seios turbinados, o “estarei fazendo”, anorexia, globalização, DNA, pensamento único, academias de musculação, Bill Gates, baile funk, controle remoto, forno de micro-ondas, TV em cores, TV a cabo, garotas de programa (com este nome), shopping centers, ecstasy e mania de fazer listas como esta.

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