Há alguns dias li, por acaso em sites que acompanho, artigos
e reportagens a respeito de um documentário intitulado The Mask You Live In, que aborda o estereótipo seguido para a
criação dos homens enquanto seres másculos e os impactos disso na compreensão
de cada indivíduo sobre si mesmo e nas relações interpessoais estabelecidas.
Na medida em que as leituras foram avançando, a memória me
remeteu às lembranças de um diálogo com uma pessoa que conheci há alguns anos.
Um homem bonito, inteligente, bem-sucedido, desportista que facilmente atende
aos modelos sociais preestabelecidos, consciente ou inconscientemente, não sei.
O perfil másculo constantemente reafirmado não é capaz de
esconder, aos olhares mais atentos, a sensibilidade de ser e agir que o tornam
aquele tipo de pessoa que fazemos questão de ter por perto, mesmo que a rigidez
adotada tenha o objetivo de esconder a essência.
Um dia, durante uma conversa regada a um bom café, eis que o
amigo faz menção às coisas genéricas que, na vida, nos dão medo. Surpresa
diante da exposição de fragilidade, inerente ao medo, questionei se ele tinha
medo de alguma coisa, pois sua postura e ações demonstravam que diante de mim
estava um ser destemido em sua forma mais incisiva. A resposta, num tom de
cautela e/ou receio de estar revelando demais, foi: sim, eu tenho meus medos,
quem não os têm?
Concordo com a indagação de que todos nós sentimentos medo,
mas o que frequentemente observamos é que nem todos conseguem admitir e lidar
com aquilo que nos enfraquece. E é essa a perspectiva que o documentário
aborda, especificamente no tocante à criação dos homens que, desde a primeira
infância são incentivados a esconder sentimentos e emoções, pois externa-los é “sinônimo
de fraqueza”, “coisa de mulher”.
Não, não pense que o documentário - disponível no YouTube e no
Netflix – se restringe a uma discussão sobre gêneros. Não é isso, apesar de
também passar por isso. A proposta é observar que, independente de sermos do
sexo masculino ou feminino, somos seres humanos, complexos por natureza, e que
carregamos cargas de ambos os gêneros que nos identificam em nossa
individualidade, mesmo que o mundo determine o contrário.
Essa dualidade entre o que somos e aquilo que o mundo espera
que sejamos leva a conflitos que culminam em depressão, abusos dos mais
diversos e à violência generalizada às negativas que o muno nos dá.
Com base nas características culturais dos Estados Unidos, o
filme nos mostra como os meninos são obrigados a sufocar sentimentos, assumir
posturas que não necessariamente são corretas ou estão de acordo com a
percepção que eles têm do mundo, mas que devem ser seguidas, por ser o que
esperam dele. Isso inclui a ver as mulheres como objetivos ou seres inferiores
que existem apenas para servi-los.
Lançado em 2015, sob a direção de Jennifer Siebel Newson,
com a participação de especialistas, desportistas e acadêmicos, além de
depoimentos de meninos e homens que aprenderam a lidar com essa dualidade, The Mask You Live In questiona como os
meninos estão sendo criados e como trabalhar no desenvolvimento de uma geração
de homens mais saudáveis, que se vejam enquanto seres únicos, a partir da compreensão
de que não precisam seguir padrões, mas, essencialmente aceitar a própria
individualidade e respeitar a do outro, para, assim, estabelecer relações reais.
Só assim perceberemos que não há problema em sentir medo e
que isso não é motivo de vergonha, mas sim, ser humano.
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