Pode parecer clichê dizer que quando observamos as pessoas não
temos condições de compreender as razões que as levaram a ser o que e como são neste
momento. Temos condições de identificar características, perceber tendências,
mas o conjunto da obra somente nos é parcialmente revelado quando conhecemos a
trajetória de vida daquelas pessoas. Afinal, são as experiências vivenciadas,
negativas e positivas, e a forma como lidamos com elas que nos formam enquanto
ser.
É revelando a trajetória de Lara que a autora Tereza
Custódio constrói a narrativa para nos levar a entender, minimamente, quem é
aquela personagem e as razões que a levaram a ser quem é.
A perda da mãe, o abandono do pai, os maus tratos sofridos
em casa ainda na infância e, posteriormente, em um relacionamento abusivo com
um marido agressivo de quem precisou fugir durante a gravidez foram
experiências que tiveram como contrapeso a convivência, mesmo que em alguns
casos breve, com pessoas que orientaram e deram atenção, respeito e amor a
Lara.
Do balanço entre as boas relações e as nem tão boas assim, a
percepção da necessidade de se refazer a partir do reencontro consigo mesma.
Investimento em uma nova profissão, cuidados com a saúde e autoestima, fortalecimento
da parceria com o filho e com os familiares, até encontrar um amor, que
considera o bálsamo para sua vida.
Este livro foi incluído na Maratona Literária de Inverno
2017, na categoria “Ler um livro sem saber a sinopse ou do que se trata”.
Chegou às minhas mãos pela autora, num encontro do grupo #leiamulheresnatal ,
que pediu uma opinião a respeito da obra.
Publicado pela editora Chiado, em 2016, conta com 270
páginas das quais facilmente tiraria uma centena. A narrativa é esticada e só
consegui compreender que o livro é baseado nas memórias de Lara a partir do 13°
capítulo, de 28. Até aí, diálogos em tons e estruturas formais que destoam da
realidade informal vivenciada em casa, onde se passam, cansam o leitor. A
revisão também precisa de atenção, tendo em vista equívocos como a troca de
nome de personagens.
A respeito do conteúdo, acompanhar histórias de superação de
si mesmo é sempre algo inspirador, porém, quando a personagem coloca seu
bálsamo no outro, neste caso no amor que surge de maneira inesperada, revela
estar persistindo no equívoco cometido ao longo da vida de colocar no outro a
expectativa da própria felicidade. Com o claro objetivo de contextualização dos
fatos narrados, há ainda inserções da história do Brasil e do mundo,
interessantes, porém desconexas, além de incômodas (e desnecessárias) especificações
de procedimentos médicos.
Não é um livro ruim, mas também não é o tipo de obra que eu recomende.
Mas, pode ser que você se identifique e, quem sabe, este seja o seu bálsamo.
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