29 julho 2017

O Bálsamo


Pode parecer clichê dizer que quando observamos as pessoas não temos condições de compreender as razões que as levaram a ser o que e como são neste momento. Temos condições de identificar características, perceber tendências, mas o conjunto da obra somente nos é parcialmente revelado quando conhecemos a trajetória de vida daquelas pessoas. Afinal, são as experiências vivenciadas, negativas e positivas, e a forma como lidamos com elas que nos formam enquanto ser.

É revelando a trajetória de Lara que a autora Tereza Custódio constrói a narrativa para nos levar a entender, minimamente, quem é aquela personagem e as razões que a levaram a ser quem é.

A perda da mãe, o abandono do pai, os maus tratos sofridos em casa ainda na infância e, posteriormente, em um relacionamento abusivo com um marido agressivo de quem precisou fugir durante a gravidez foram experiências que tiveram como contrapeso a convivência, mesmo que em alguns casos breve, com pessoas que orientaram e deram atenção, respeito e amor a Lara.

Do balanço entre as boas relações e as nem tão boas assim, a percepção da necessidade de se refazer a partir do reencontro consigo mesma. Investimento em uma nova profissão, cuidados com a saúde e autoestima, fortalecimento da parceria com o filho e com os familiares, até encontrar um amor, que considera o bálsamo para sua vida.

Este livro foi incluído na Maratona Literária de Inverno 2017, na categoria “Ler um livro sem saber a sinopse ou do que se trata”. Chegou às minhas mãos pela autora, num encontro do grupo #leiamulheresnatal , que pediu uma opinião a respeito da obra.

Publicado pela editora Chiado, em 2016, conta com 270 páginas das quais facilmente tiraria uma centena. A narrativa é esticada e só consegui compreender que o livro é baseado nas memórias de Lara a partir do 13° capítulo, de 28. Até aí, diálogos em tons e estruturas formais que destoam da realidade informal vivenciada em casa, onde se passam, cansam o leitor. A revisão também precisa de atenção, tendo em vista equívocos como a troca de nome de personagens.

A respeito do conteúdo, acompanhar histórias de superação de si mesmo é sempre algo inspirador, porém, quando a personagem coloca seu bálsamo no outro, neste caso no amor que surge de maneira inesperada, revela estar persistindo no equívoco cometido ao longo da vida de colocar no outro a expectativa da própria felicidade. Com o claro objetivo de contextualização dos fatos narrados, há ainda inserções da história do Brasil e do mundo, interessantes, porém desconexas, além de incômodas (e desnecessárias) especificações de procedimentos médicos.

Não é um livro ruim, mas também não é o tipo de obra que eu recomende. Mas, pode ser que você se identifique e, quem sabe, este seja o seu bálsamo. 

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