Desde a primeira leitura de O Livro dos Espíritos, que trata dos princípios da Doutrina Espírita,
que uma das mensagens atribuídas a Santo Agostinho me acompanha. Ao responder
ao questionamento do organizador do livro, Allan Kardec, sobre a constante
permanência do anjo guardião ao lado de seu protegido, mesmo que este não dê
atenção às orientações recebidas, Santo Agostinho explica que há um
afastamento, mas nunca o abandono.
O anjo guardião acompanha seu protegido a todos os lugares e
sempre busca uma oportunidade de inspirá-lo a seguir os melhores caminhos, mas
a decisão é sempre do seu livre arbítrio. Porém, ressalta Santo Agostinho, após
o desencarne, todos passam pelo momento de análise daquilo que foi praticado em
vida em comparação com a aquilo que foi planejado. É o famoso check list. Já pensou?
Neste momento, explica ainda Santo Agostinho, os
questionamentos a respeito das escolhas feitas – em especial aquelas à revelia
da orientação espiritual - serão
extensivas ao anjo protetor que ressaltará: Eu avisei!
Deveríeis conhecer melhor esta verdade! Quantas vezes ela voz ajudaria em momentos de crise; quantas vezes ela voz salvaria dos maus Espíritos! Todavia, no grande dia, este anjo de bondade terá frequentemente de vos dizer: “Não te disse isto? E não o fizeste; não te mostrei o abismo? E aí te precipitaste; não te fiz ouvir na consciência a voz da verdade? E não seguiste os conselhos da mentira? Ah! Interrogai vossos anjos guardiães; estabeleceis entre eles e vós essa ternura íntima que reina entre os melhores amigos. (Q.495)
Conviver com a expectativa de encarar o momento do check list divino pode ser um tanto
assustador, mas livros como “Getúlio Vargas em Dois Mundos”, ditado pelo
espirito Eça de Queirós e psicografado por Wanda A. Canutti, acalmam o leitor
em relação a esta experiência.
Publicada em 2015 pela editora EME, a obra é dividida em
duas partes. A primeira nos traz um resumo da vida do ex-presidente do Brasil,
Getúlio Vargas, que permite ao leitor compreender a trajetória daquele que
esteve à frente da Nação durante quase 20 anos, até 24 de agosto de 1954, data
em que cometeu suicídio.
A segunda parte do livro nos remete ao momento do check list que Santo Agostinho nos
alerta. Porém, apesar de ser um momento de encarar a verdade, já que somos
colocados diante dos novos compromissos que assumimos devido ao não cumprimento
daquilo para o qual nos propomos, também temos a chance de ver tudo de bom que
fizemos e as consequências de cada uma das escolhas bem-feitas nas nossas vidas
e daqueles que nos rodeiam. Mais do que isso, ao nos revelar todo o amparo
espiritual que Getúlio Vargas teve durante este processo, a obra nos faz
lembrar que a todo momento somos amparados, seja nesta ou em qualquer outra
vida. 🙏
Vargas teve oportunidade de compreender situações das quais
não tinha visão completa dos fatos, além de descobrir as causas – em outras
vidas – que justificavam afetos e desafetos vivenciados na sua última experiência
na Terra. Entre esses casos, podemos citar as relações estabelecidas entre
Vargas e o jornalista Carlos Lacerda; assim como o vínculo entre o presidente e
o chefe de sua guarda pessoal, Gregório Fortunato.
A possibilidade de conhecer esses dois momentos da vida de
uma personagem tão relevante para a história do Brasil já seria razão
suficiente para ler esta obra. Mas, por ser um trabalho baseada nos
ensinamentos cristãos, ele nos traz outros elementos de reflexão capazes de nos
orientar a caminhada atual.
Como exemplos, podemos citar a ênfase dada na obra à
importância do não enfrentamento dos momentos de angústia a partir do
isolamento. A explicação da espiritualidade mostra que esta prática tende a
levar ao aumento da intensidade da opressão sobre si mesmo e a possibilidade de
quadros mais graves na perspectiva psíquica.
Em diálogos com aqueles que os orientam, Vargas descobre que
ao desabafar encontra auxílio e apoio nas análises que sustentam o aprendizado,
ao mesmo tempo em que encontra ânimo para continuar a caminhada. As trocas
estabelecidas com os irmãos espirituais são exemplos concretos de caridade.❤
E por falar em caminhada, esta é uma prática que representa
outro exemplo de iniciativas incentivadas em toda a obra. O caminhar, além de
oxigenar as ideias, nos ajuda a perceber a beleza que existe na Natureza.
Isso depende de exercício, de aprendizado! É necessário que aprendamos a ver a beleza que Deus colocou em torno de nós! É preciso ver em cada objeto, senão a Sua criação, a sua inspiração ao homem! Se aprendermos a nos ligar mais a Deus, erraremos menos, e sentiremos, em todos os instantes, as bênçãos da alegria e do Seu amor!
O livro Getúlio Vargas
em Dois Mundos nos orienta a simplificar a nossa vivência, em todos os
sentidos, com o objetivo de evitar os sofrimentos que nos são impostos em
consequência, apenas, das nossas escolhas, geralmente pautadas no egoísmo e no
orgulho.
Neste sentido, o próprio Vargas nos diz em trecho de nova
carta:
Que todos possam ter o meu apagado exemplo, como um alerta em nossas vidas, para não cometerem o que cometi, mas que se esforcem, por sempre fazerem o melhor, não para si próprios, mas o melhor diante de Deus! Que nunca pratiquem o que eu pratiquei, como retirada do mundo dos encarnados, porque o sofrimento que nos aguarda depois, é muito grande!
Cabe ainda registrar que este livro tem uma leitura lenta e
repetitiva em alguns pontos e, justamente por isso, que poderia ter sido
reduzido em umas cem das 344 páginas que o compõem, mas isso não tira a relevância
do trabalho publicado. Vale a leitura!
Este é o primeiro livro concluído na Maratona Literária de Inverno 2017 e está na categoria "Ler um livro que você comprou pela capa". Apesar de não ter comprado, ter ganhado, meu interesse foi despertado pela capa! 😉
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