O tempo e o contexto são capazes de mudar a perspectiva que
temos de fatos, coisas e pessoas. Quem bom que é assim, pois é essa
possibilidade de mudança que nos permite evoluir gradativamente.
Esta reflexão tomou meus pensamentos na medida em que fui
avançando nos episódios da minissérie Agosto
| 1954. Intrigas e traição em uma época que transformou o Brasil, produzida
pela Rede Globo e exibida pela emissora em 1993.
A primeira vez que assisti, não gostei do formato e do
conteúdo. Achei tudo muito escuro! 😊
Isso mesmo, escuro! E de fato é! Mas hoje, depois da leitura do livro de RubemFonseca, Agosto, que dá base à obra,
minha perspectiva e, porque não dizer, compreensão mudaram.
As cenas são escuras mesmo, mas têm um significado para
isso. Boa parte dos diálogos envolve corrupção, assassinato, briga pelo poder e
sexo. Além disso, ocorrem em delegacias, esconderijos, durante a noite e/ou
madrugada. Tudo isso para nos dar a ideia das coisas que acontecem no submundo
da sociedade, que nós não vemos, mas que sustentam (ou derrubam) aqueles que
estão no poder.
As recorrentes discussões entre os comissários de Polícia
Matos e Pádua, ambos defendendo a legalidade/honestidade a partir de suas
respectivas perspectivas, norteia os caminhos seguidos por Rubem Fonseca, no
livro, para nos mostrar os fatos ocorridos no mês de agosto de 1954, no Brasil,
que culminaram com o suicídio do então presidente da República, Getúlio Vargas.
Com a participação de José Mayer, Letícia Sabatella e Vera
Fischer, direção artística de Carlos Marga e direção geral de Paulo José, a
minissérie ressalta que a perspectiva limitada que temos do cotidiano pode nos
levar a prejulgamentos equivocados que, ao invés de corrigir levam ao
fortalecimento de equívocos. Isso pode acontecer mesmo quando as decisões
tomadas estão baseadas em valores ditos corretos.
Nossa visão sobre o mundo é limitada, por isso as trocas que
a vida em sociedade nos propicia são tão importantes. Elas nos colocam em
contato com pontos de vista diferentes, divergentes, convergentes e/ou
complementares. Mas para isso precisamos nos permitir sair da zona de conforto
que nos dá as certezas que, como já sabemos, são relativas e, em boa parte dos
casos, ilusórias.
A segunda experiência com a minissérie, composta por 16
capítulos, foi significativa. A leitura do livro base da obra fez diferença
neste novo momento. Aliás, apesar de algumas adaptações, o conteúdo da série
global é bem fiel ao do trabalho elaborado por Rubem Fonseca.
Seja por entretenimento, como se colocar em contato com um
importante e turbulento período histórico nacional, vale assistir à produção da
Globo.
Ficha Técnica:
v
Agosto
da obra de Rubem Fonseca, com José Mayer, Vera Fischer, Letícia Sabatella,
Lúcia Veríssimo, Elias Gleiser, Hugo Carvana, Rodolfo Bottino, Sérgio Mamberti,
Marcos Winter, Tony Tornado, e Norton Nascimento.
v
Participações especiais Lima Barreto, José
Wilker, Carlos Vereza, Stênio Garcia, Ary Fontoura, Cláudio Correia e Castro,
Mário Lago, Milton Gonçalves, Othon Bastos e Paulo Gracindo.
v
Adaptação José Furtado e Giba Assis Brasil.
v
Direção Paulo José, Denise Saraceni e José
Henrique Fonseca.
v
Direção Geral Paulo José.
v
Direção Artística Carlos Manga.
v
Duração 451 minutos | Dois DVDs.
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