Em uma sociedade marcada pela necessidade de enquadrar as
pessoas em rótulos, chamar alguém de feminista já ganhou o tom pejorativo que
reforça a aversão natural aos rótulos. Porém, em boa parte dos casos, isso
acontece pelo desconhecimento do real significado das palavras que passam a ser
vistas de maneira negativa, mesmo que tenham como objetivo o bem da
coletividade.
Se o senso comum nos diz que ser feminista é ser uma mulher
que repele o casamento, as convenções sociais que ele representa e, até mesmo,
odeia os homens, ignora o fato de a palavra significar apenas "uma
pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica entre os sexos".💭
Esta é a definição que Chimamanda Ngozi Adichie nos traz em
seu livro “Sejamos Todas Feministas”, publicado pela Companhia das Letras, com
base em uma palestra proferida por ela, em 2012, no TEDxEuston, disponível aqui. Diante deste significado tirado
de um dicionário, nos perguntamos: ok, qual é o problema em acreditar na
igualdade de gêneros?
O problema está nas questões culturais, como Chimamanda bem
nos mostra ao longo deste curto, mas intenso trabalho (estamos falando de cerca
de 30 páginas!). Nossa cultura nos faz crer que as mulheres têm a obrigação de
seguir determinados padrões pelo simples fato de terem nascido mulheres.
Mais do que isso, a construção social na qual estamos
inseridos, observa a autora, nos leva a subjugar a mulher e toda a sua
feminilidade.
Ensinamos as meninas a sentir vergonha. ‘Fecha as pernas, olha o decote’. Nós as fazemos sentir vergonha da condição feminina, elas já nascem culpadas. Elas crescem e se transformam em mulheres que não podem externar seus desejos. Elas se calam, não podem dizer o que realmente pensam, fazem do fingimento uma arte.
E nesta arte de fingir, todos perdem, pois, essas mulheres
acabam criando mulheres e homens que não conseguem perceber que estão
fortalecendo uma desigualdade que só se justifica pela equivocada crença do "sempre foi assim".
Chimamanda apresenta exemplos de fatos do cotidiano que
todos nós já testemunhamos e/ou vivenciamos, como o caso do garçom que só se
dirige ao homem à mesa, mesmo que quem esteja fazendo o pedido seja a mulher; ou
do troco entregue ao homem, mesmo que o pagamento seja realizado pela mulher,
com dinheiro tirado de sua própria carteira.
Situações como essas que, aparentemente, parecem banais e
corriqueiras, revelam muito sobre a cultura que ainda é predominante e nos
permite refletir sobre que tipo de sociedade queremos construir.
A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então temos que mudar nossa cultura.
Esta é uma leitura essencial para todos os gêneros, pois não
construiremos uma sociedade só de homens ou só de mulheres. Precisamos dos
dois, juntos, em igualdade. Neste sentido, Chimamanda ressalta que a pessoa
mais feminista que ela conhece é o irmão dela, um homem extremamente másculo.
Vale muito a leitura!❤
Nenhum comentário:
Postar um comentário