15 junho 2017

13 Reasons Why


Hannah Backer é uma adolescente vivendo a experiência de morar em uma nova cidade e frequentar nova escola. As novidades representam para ela o desafio de ser aceita em grupos definidos por regras que, mesmo de maneira implícita, são baseadas em valores previamente estabelecidos. Mas isso não a intimida, ao contrário, vê o momento como positivo, apesar das inseguranças inerentes à adolescência.

As coisas começam a mudar quando Hannah passa a ser alvo de diversos tipos de violência na escola e fora dela. Sim, pois, na era do compartilhamento de informações, restringir os ambientes com base em seus limites físicos é cada vez mais difícil, para não dizer impossível. A internet extrapola os ambientes físicos e faz com que a propagação de dados e fatos aconteça em fração de segundos e a em proporções incomensuráveis.

As consequências desta nova realidade podem ser tão colossais quanto a capilaridade da rede. De fato, uma realidade difícil de se medir e que, justamente por isso, não pode ser ignorada.
Hannah grava seis fitas e meia. Um lado para cada depoimento

O entusiasmo que Hanna Backer via na novidade de ser e experimentar a novidade se perde. Mais do que isso, ela se perde de si mesma ao ponto de cometer suicídio. Para explicar sua iniciativa, ela não deixa uma carta de despedida, mas fitas cassete (K7) nas quais gravou as treze razões que a levaram a tirar a própria vida.

Nessas fitas, Hannah expõe fatos que, para ela, se tivessem acontecido de forma diferente, não a teriam levado àquele momento. Expõe pessoas que poderiam tê-la ajudado e/ou dispensado a ela um tratamento diferente do que aqueles registrados nas fitas que revelam os 13 porquês.

A série “13 Reasons Why” estreou em março deste ano no Netflix e é baseada no livro “Thirteen Reasons Why”, de Jay Asher, publicado em 2007, e tem como foco o bullying, abordado a partir do caso de Hannah Backer, ao mesmo tempo que nos dá margem para debates sobre os mais variados tipos de violência.

Na medida em que os citados por Hannah têm destaque no enredo, descobrimos que cada um deles também é vítima de violências similares às que praticaram com ela ou não, mas que podem ser vistas como causas/gatilhos para suas ações, porém, nunca como justificativa.

A perspectiva cíclica da violência nos remete a tantos questionamentos que, apesar de ser uma série classificada como adolescente, deve ser vista por pessoas de todas as idades, adultos, em especial. Somos responsáveis pela orientação dos jovens, a começar pelos exemplos que damos em nossos microambientes cotidianos.

Ao assistir a série, é natural os questionamentos em relação a postura de Hannah que, como toda adolescente, também comete erros. Porém, as questões levantadas pela série não devem nos levar a reforçar os julgamentos feitos sobre Hannah (mesmo que instintivamente sejamos levados a fazer), mas sim a nos perguntar como evitar/prevenir que o bullying prevaleça ao ponto de reforçar as estatísticas de casos de suicídio de jovens.  

Existem alternativas! Precisamos discuti-las e dar acesso a elas.

O conteúdo da série, que terá nova temporada, é incômodo. Ao acompanhar a lenta escuta que Clay Jansen faz das fitas, nos perguntamos se não as escutaríamos de uma só vez. Mas ele sofre de transtorno de ansiedade e o conteúdo agrava sua condição. Ou seja, ele também é vítima da sociedade veloz em que vivemos. Como lidar como isso? 😖

Na verdade, as treze razões apresentadas por Hannah, que vão de ciberbullying a estupro, são muito mais do que essas. O convite que a série nos faz é para que saiamos de nossa zona de conforto para enfrentar temas que tendemos a ignorar ou dizer que essas pequenas violências são coisas de jovens. Será mesmo?

Cartilha sobre bullying


O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) lançou, em 2010, uma cartilha sobre bullying, disponível aqui , que integra o projeto Justiça nas Escolas.

Nesta cartilha estão disponíveis informações sobre o que é, quais são as variações e como podemos identificar e prevenir o bullying, lembrando que esta é uma responsabilidade de toda a sociedade e que os agressores tendem a reproduzir a postura violenta na vida adulta. Ou seja, este debate passa pela reflexão sobre o tipo de sociedade que queremos e o que estamos fazendo para construí-la.

No canal de streaming Netflix, além da série, está disponível o “13 Reasons Why: Tentando entender os porquês”, uma conversa com elenco, equipe de produção e profissionais da área da saúde sobre as cenas que abordam bullying, depressão e abuso sexual.

Não só vale, como precisamos encarar o problema!

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