Confiamos cegamente na liberdade de comércio, sem que o governo interfira de algum modo, para sempre obtermos todos os vinhos de que temos necessidade; podemos então confiar, com a mesma segurança, que a liberdade sempre nos fornecerá todo ouro e a prata que consigamos comprar ou empregar, seja na circulação de nossas mercadorias, ou em outros bens.
Esta citação de Adam Smith no início do Livro IV de “A
Riqueza das Nações”, intitulado “Sistemas de Economia Política”, representa bem
o conteúdo trabalhado nos três capítulos que encerram o primeiro volume da
obra. Neles, Smith começa explicando a razão de compreendermos riqueza e grande
quantidade de dinheiro como sinônimos. A partir daí o autor observa que existem
dois sistemas que levam à riqueza das nações que são o Sistema Comercial e o
Sistema de Agricultura.
De forma bastante didática, porém com densidade
característica ao tema, Adam Smith apresenta ao leitor sua análise a respeito
de como o comércio deve funcionar, como de fato funciona e as consequências à
sociedade.
A partir de exemplos práticos, ressalta que a intervenção do
Estado na dinâmica natural dos processos de troca, incremento e/ou redução da
demanda e do poder de compra tem resultados incontroláveis, apesar da
previsibilidade de alguns cursos de ação. Ao mesmo tempo, Adam Smith aborda a absorção
dos trabalhadores por este mesmo mercado, de maneira natural, caso a intervenção
do Estado não seja uma realidade.
Para Smith, o direcionamento à dinâmica do mercado pode sim
ser dado, porém, a garantia de que as consequências serão exatamente como as
previstas e, principalmente, que este garantirá o aumento da riqueza das nações,
é algo impossível.
Esta perspectiva inclui a reflexão a respeito do perfil
intervencionista do mercado interno, a partir da pressão para a proibição de importações
com o objetivo de estimular a produção interna e, consequentemente, as exportações.
Segundo Adam Smith, apesar de a riqueza de nações vizinhas poderem significar
perigo em períodos de guerra, as relações comerciais deveriam se trabalhadas
para que fossem benéficas a todos, tendo em vista que o mercado externo
representa mais possibilidades de ganhos e espaço de trocas. Ou seja, o
crescimento coletivo seria o caminho ideal.
Mesmo assim, o economista inglês observa que a prioridade de
qualquer nação está no desenvolvimento do seu mercado interno, não só por estar
mais próximo, mas por representar, entre outras coisas, maior autonomia deste
Estado. Apesar disso, não deixa de destacar a importância do comércio exterior,
pois o que falta em nossa casa é possível adquirir no mercado mais próximo,
desde que haja dinheiro para isso!
Adam Smith cita como exemplo desta realidade a descoberta da
América que, segundo o autor, nada mais representou do que novos mercados para
a Europa e também para a própria América. A respeito do acúmulo de ouro e
prata, Adam Smith ressalta que "não foi
por causa da importação de outro e prata que a descoberta da América enriqueceu
a Europa. A abundância das minas americanas tornou esses metais mais baratos",
diz ao explicar que a riqueza resultou da própria dinâmica do mercado.
O desenrolar da leitura favorece a compreensão da forma e do
conteúdo do texto cuidadosamente elaborado por Adam Smith ainda no século
XVIII. O conteúdo deste Livro IV é retomado no Volume II de “A Riqueza das
Nações” que, em breve, será apresentado aqui, pois, apesar do trabalho de
persistência necessário aos não economistas, esta é uma obra que vale a
leitura!
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