Uma narrativa intensa que retrata os últimos sete dias do mês
de setembro de 1938 e a expectativa dos franceses para o início da Segunda
Guerra Mundial. Este é Sursis, de
Jean-Paul Sartre e que integra, como segunda obra, a trilogia Os Caminhos da Liberdade relançada em
2017 pela Nova Fronteira e venda exclusiva pela Amazon.
Publicado pela primeira vez em 1945 pela editora Gallimard, Sursis leva o leitor a acompanha não apenas
a trajetória de Mathieu neste momento específico da França, mas de diversas outras
personagens que se entrelaçam a cada linha do texto.
Os diálogos e pensamentos expostos por Sartre não permitem
ao leitor compreender já no primeiro momento que o texto estruturado em fluxo
de consciência de várias pessoas ao mesmo tempo visa transmitir a angustia
daqueles indivíduos diante da incerteza de uma nova guerra.
Sim, Sartre alcança o objetivo ao qual se propõe na medida
em que, no decorrer das 399 páginas que compõem o livro, o leitor passa a identificar
narradores e compartilhar sentimentos das mais diversas personagens.
Mais do que isso, o autor nos leva a refletir sobre o quanto
a trajetória de nossas vidas é alterada de acordo com as pessoas que cruzam
nosso caminho e das contingencias da vida, como uma guerra, por exemplo.
A convocação dos homens para um conflito armado ainda não declarado,
as mudanças no cotidiano social causadas por esta convocação, a expectativa da população
diante da negociação dos representantes de grandes nações, como Reino Unido,
França, Alemanha e Itália, a respeito da soberania de um país, a Checoslováquia,
que nem mesmo teve a chance de argumentar.
O texto ressalta como a adaptação à uma nova realidade nos
leva a abrir mão de coisas que nos representam e identificam, e que quanto as
contingências não se confirmam e somos levados a retornar ao ponto de partida, o
contexto anterior, que nos parecia tão natural, perde o sentido.
Sentia-se forte; havia no fundo dele uma pequena angústia que começava a conhecer, uma pequena angustia que lhe dava confiança. Uma pessoa qualquer, num lugar qualquer. Não possuía mais nada, não era mais nada. A noite sombria da antevéspera não seria perdida; aquela enorme agitação não seria inteiramente inútil. Quer recoloquem o sabre na bainha se quiserem, que façam sua guerra ou não façam, pouco importa; não sou trouxa. A sanfona emudecera. Mathieu recomeçou a andar pelo pátio. “Permanecerei livre”, pensou.
Nesta obra, Sartre nos leva tanto a retomar detalhes da história
mundial como a refletir sobre até que ponto temos a liberdade para, realmente, ser
e viver como escolhemos.
Leitura que segue com o terceiro volume da trilogia Com a morte na alma. 💭
Nenhum comentário:
Postar um comentário