25 março 2018

O Tempo e o Vento | O Continente II


Os relatos feitos por Erico Verissimo sobre a obra O Tempo e o Vento revelam que o projeto inicial tinha como meta a construção de um único volume que, em consequência da pesquisa, foi transformado em uma trilogia: O Continente, O Retrato e O Arquipélago.

O conteúdo dos três livros foi distribuído em sete volumes, publicados pela editora Companhia das Letras, em 2004. Em 2018, a mesma editora publicou o terceiro volume da Edição Econômica da obra, neste formato, a coleção custa em torno de R$ 150,00, quase a metade do valor cobrado pela edição anterior. Sigo lendo a coleção em sete volumes da biblioteca. 😊

Os dois volumes de O Continente englobam a história de formação do Rio Grande do Sul no período compreendido entre 1745 e 1895. O Retrato e O Arquipélago incluem os anos entre 1895 e 1945, fazendo de O Tempo e o Vento um século da história da província do Rio Grande, do Brasil e do mundo.

Sim, viajar pelas palavras de Erico Verissimo, nesta obra, é uma oportunidade de conhecer a história de formação do País, tanto no que diz respeito ao território, como em relação à miscigenação. Compreender as migrações e imigrações, influências políticas e ideológicas, bem como a formação cultural, nos ajuda a compreender a razão de sermos como somos, enquanto nação.

Além das guerras civis que marcam a constituição do Rio Grande do Sul, a história dos Terra Cambará é delineada pelas grandes questões políticas do momento, como, por exemplo, o abolicionismo, luta pela independência, disputas entre imperialistas, federalistas e republicanos e a industrialização.

Como todos esses elementos influenciavam a formação do Estado, eles também influenciavam a vida de pessoas que, muitas vezes, não conseguiam compreender o significado de transformações tão expressivas em suas vidas.

O Continente II  tem como personagem central Licurgo, neto de Bibiana e do capitão Rodrigo, filho de Bolívar e Luzia. A narrativa revela a criação do menino pela avó e pelos peões do Angico, com os quais convivia após a morte do pai.

Licurgo é noivo da prima Alice, filha de Florêncio, sobrinho de Bibiana. Mas, apesar de estar com data marcada para o casamento, não consegue se separar da amante Ismália.

As dificuldades e embates para a constituição do Rio Grande do Sul e de Santa Fé, agora elevada a cidade, podem ser consideradas de forma análoga à constituição de Licurgo que, como os familiares que o antecederam, mantém viva a rixa contra os Amarais. Mas não só isso, o texto de Veríssimo revela a dualidade da personagem diante das diversas situações que vida apresenta, na busca por significados, na busca pela liberdade de ser quem acredita e quer ser.

Levou a mão à testa e com a ponta dos dedos apalpou de leve as ataduras bem no ponto em que sentia o ferimento. Estava orgulhoso daquele talho. O fato de nunca ter tomado parte em nenhuma guerra ou revolução sempre o deixara numa incômoda posição de inferioridade perante seus conterrâneos de meia-idade que haviam lutado no Paraguai e os velhos que tinham feito a campanha contra Rosas e a Guerra dos Farrapos. Sempre fora considerado um ‘espada virgem’. Naquela tarde, porém, tivera seu batismo de sangue, e isso para ele tinha uma significação extraordinária. Era como se só agora se pudesse considerar completamente adulto. E essa sensação de ser homem, a certeza de que na hora do perigo a mão não lhe tremera, o coração não lhe falhara, davam-lhe uma força nova, uma confiança exaltada em si mesmo, e ao mesmo tempo uma certa impaciência que no fundo era desejo de mais ação violenta, de mais oportunidade de pôr à prova sua hombridade.

Esta é uma obra que vale ser lida por diversos aspectos. Como romance, tem as histórias muito bem amarradas, pois, apesar de já estarmos na quinta geração, os costumes e o simbolismo das pessoas e da terra são sempre retomados.

Como retrato histórico, apresenta de maneira simples e didática os fatos mais relevantes do Brasil Colônia, Império e Primeira República. O mesmo se dá em relação aos aspectos culturais. As festas dançantes, os hábitos alimentares, a relação com os animais e com o vento minuano, caracterizam muito bem a obra no tempo e no espaço.

Sem dúvida alguma, esta é leitura que segue em O Retrato I, mas antes uma parada para assistir ao filme, O tempo e Vento, lançado em 2013, que é baseado na primeira parte da obra.

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