02 novembro 2017

Morte em Veneza


A disciplina e a dedicação que levam ao sucesso profissional nem sempre são sinônimos de satisfação plena com a vida. A cada etapa vencida, novos desejos são despertados até que, em determinado ponto desta trajetória, a inspiração falta e busca por motivação leva a novos caminhos.

Este é o sentimento que orienta o escritor Gustav Aschenbach, protagonista da novela Morte em Veneza, de Thomas Mann, a sair de Munique, na Alemanha, e passar uma temporada em Veneza.

Ser metódico faz com que Aschenbach evite viajar, especialmente para lugares distantes, mas a necessidade de redescobrir a beleza da vida é mais forte do que as razões que o fizeram permanecer boa parte de sua trajetória naquele ambiente que já dominava.

A beleza de Veneza se revela à Aschenbach na mesma medida em que as debilidades da cidade e das pessoas que lá moram e/ou a visitam, como ele. O olhar crítico e intenso do autor a respeito da falta do que ele considera como bom-senso de alguns companheiros de viagem que pareciam não perceber que a idade avançada significa que a juventude e determinados hábitos e posturas não se faziam mais adequadas.

Os detalhes da estadia, em especial os defeitos, saltavam aos olhos de Aschenbach, até que a visão da beleza perfeita em um ser se faz presente no mesmo ambiente, personalizada na figura de um rapaz, de aproximadamente 14 anos, polonês que passava férias em Veneza com a família.

Desde a primeira visão do rapaz, Aschenbach questiona liberdade e autonomia, inclusive a de si mesmo, pois seus dias em Veneza passam a ser dedicados a admirar a beleza do rapaz que compreende se chamar Tadzio.

Mesmo sem o conhecer e/ou trocar qualquer palavra com ele, Aschenbach se descobre apaixonado por Tadzio e nem mesmo um surto de cólera, que as autoridades locais tentam omitir para não afastar os turistas, é suficiente para fazê-lo voltar para Munique. 
Poderia então, em despedida, pousar a mão sobre a cabeça daquele que fora instrumento de uma divindade sarcástica, voltar-se e escapar desse pântano. Mas, ao mesmo tempo, sentia que estava infinitamente longe de querer dar esse passo a sério. Ele o faria retroceder, recuperar-se a si mesmo, mas para quem está fora de si nada parece mais detestável do que retornar a si mesmo.


Ao receber a informação de que Tadzio e a família se preparavam para deixar Veneza levam Aschenbach a voltar à praia para apreciar a beleza do menino pela última vez, mesmo sentindo o corpo febril. É neste cenário que o corpo de Aschenbach se rende à fraqueza que agora o domina e desfalece.

A consciência de sua conivência, de sua cumplicidade, embriagou-o, tal como mínimas doses de vinho embriagam um cérebro cansado
.Aschenbach desmaia à beira-mar, é socorrido, mas o corpo não aguenta a virulência do cólera. Ecxelente estimulo para que eles leiam tudo tem, mas vamos catar, literalmente!


Leitura que sengue!!!! 😊

Sobre o autor

Thomas Mann nasceu em 1875, em Lübeck (Alemanha), e em 1891 mudou-se para Munique. Seus primeiros contos foram reunidos em O pequeno senhor Friedmann (1898). Em 1901, sai -  com enorme impacto – o romance Os Buddenbrooks, baseado na decadência de sua própria família. Em 1912, ele lança a novela Morte em Veneza. A montanha mágica, de 1924, confirma a reputação de Mann como um dos escritores de maior arrojo filosófico na modernidade. Cinco anos depois, ele receberia o Prêmio Nobel de literatura. Muda-se para a Suíça e, depois de escrever uma tetralogia de romances condenando o racismo e o antissemitismo, vai para Nova Jersey (EUA) e passa a dar aulas na Universidade de Princeton. Em 1947 é lançado Doutor Fausto, um dos maiores romances escritos sobre a arte da música. Thomas Mann volta à Suíça em 1952, onde morre em 1955.

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