A disciplina e a dedicação que levam ao sucesso profissional
nem sempre são sinônimos de satisfação plena com a vida. A cada etapa vencida,
novos desejos são despertados até que, em determinado ponto desta trajetória, a
inspiração falta e busca por motivação leva a novos caminhos.
Este é o sentimento que orienta o escritor Gustav Aschenbach,
protagonista da novela Morte em Veneza, de
Thomas Mann, a sair de Munique, na Alemanha, e passar uma temporada em Veneza.
Ser metódico faz com que Aschenbach evite viajar,
especialmente para lugares distantes, mas a necessidade de redescobrir a beleza
da vida é mais forte do que as razões que o fizeram permanecer boa parte de sua
trajetória naquele ambiente que já dominava.
A beleza de Veneza se revela à Aschenbach na mesma medida em
que as debilidades da cidade e das pessoas que lá moram e/ou a visitam, como
ele. O olhar crítico e intenso do autor a respeito da falta do que ele
considera como bom-senso de alguns companheiros de viagem que pareciam não perceber
que a idade avançada significa que a juventude e determinados hábitos e posturas
não se faziam mais adequadas.
Os detalhes da estadia, em especial os defeitos, saltavam
aos olhos de Aschenbach, até que a visão da beleza perfeita em um ser se faz
presente no mesmo ambiente, personalizada na figura de um rapaz, de
aproximadamente 14 anos, polonês que passava férias em Veneza com a família.
Desde a primeira visão do rapaz, Aschenbach questiona
liberdade e autonomia, inclusive a de si mesmo, pois seus dias em Veneza passam
a ser dedicados a admirar a beleza do rapaz que compreende se chamar Tadzio.
Mesmo sem o conhecer e/ou trocar qualquer palavra com ele, Aschenbach
se descobre apaixonado por Tadzio e nem mesmo um surto de cólera, que as
autoridades locais tentam omitir para não afastar os turistas, é suficiente
para fazê-lo voltar para Munique.
Poderia então, em despedida, pousar a mão sobre a cabeça daquele que fora instrumento de uma divindade sarcástica, voltar-se e escapar desse pântano. Mas, ao mesmo tempo, sentia que estava infinitamente longe de querer dar esse passo a sério. Ele o faria retroceder, recuperar-se a si mesmo, mas para quem está fora de si nada parece mais detestável do que retornar a si mesmo.
Ao receber a informação de que Tadzio e a família se
preparavam para deixar Veneza levam Aschenbach a voltar à praia para apreciar a
beleza do menino pela última vez, mesmo sentindo o corpo febril. É neste
cenário que o corpo de Aschenbach se rende à fraqueza que agora o domina e
desfalece.
.Aschenbach desmaia à beira-mar, é socorrido, mas o corpo não aguenta a virulência do cólera. Ecxelente estimulo para que eles leiam tudo tem, mas vamos catar, literalmente!A consciência de sua conivência, de sua cumplicidade, embriagou-o, tal como mínimas doses de vinho embriagam um cérebro cansado
Leitura que sengue!!!! 😊
Sobre o autor
Thomas Mann nasceu em 1875, em Lübeck (Alemanha), e em 1891
mudou-se para Munique. Seus primeiros contos foram reunidos em O pequeno senhor Friedmann (1898). Em
1901, sai - com enorme impacto – o
romance Os Buddenbrooks, baseado na
decadência de sua própria família. Em 1912, ele lança a novela Morte em Veneza. A montanha mágica, de
1924, confirma a reputação de Mann como um dos escritores de maior arrojo
filosófico na modernidade. Cinco anos depois, ele receberia o Prêmio Nobel de
literatura. Muda-se para a Suíça e, depois de escrever uma tetralogia de
romances condenando o racismo e o antissemitismo, vai para Nova Jersey (EUA) e
passa a dar aulas na Universidade de Princeton. Em 1947 é lançado Doutor Fausto, um dos maiores romances
escritos sobre a arte da música. Thomas Mann volta à Suíça em 1952, onde morre
em 1955.
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