O Capítulo IV do livro Os
Donos do Poder | Formação do Patronato Político Brasileiro, de Raymundo
Faoro, pode ser identificado como uma etapa de negação não apenas ao que o
senso comum afirma a respeito da história do Brasil, mas também às teorias
defendidas por historiadores ao longo dos séculos.
Intitulado O Brasil até
o Governo Geral, o capítulo nos mostra detalhes da perspectiva de paraíso
na terra atribuída à nova região descoberta utilizada para atrair os imigrante;
as iniciativas para integrar o novo paraíso à atividade comercial praticada na
Europa; como o sistema de colonização do Brasil era uma extensão do sistema de
feitorias para o incremento das feitorias portuguesas; como a adoção das
capitanias hereditárias enquanto sistemas político e administrativo fortaleceu
o vínculo entre Brasil e Portugal; as mudanças na posse da terra que passa a
ter ênfase dominial sobre o administrativo; e, mais fortemente, a refutação da existência
do sistema feudal brasileiro.
A riqueza dos colonos dos primeiros séculos é uma lenda, enganadoramente criada para embelezar a história.
A linha de pensamento seguida por Faoro visa mostrar ao
leitor que a colonização do Brasil seguiu os traços mercantilistas, como
mostram a exploração do pau-brasil, do açúcar e das minas de ouro e prata,
sempre com características de produto de exportação, para fortalecer o comércio
português, abastecer o mercado consumidor europeu e manter a estrutura de
Estado de Lisboa e do Brasil.
O inglês fundou na América uma pátria, o português um prolongamento do Estado.
Sob esta perspectiva, Faoro destaca que a propriedade rural no
Brasil se organizou e expandiu com o objetivo de explorar os artigos exportáveis
que atendiam à demanda do mercado mundial, abastecido por Lisboa.
Para isso, desenvolveu um sistema colonial que era
necessário ao comércio e manutenção da conquista da terra, porém, que exigia
recursos financeiros de grande monta. Assim incentivou a migração das “sobras
da Índia, dos inadequados à jornada, famintos de terras e cobiçosos de fortuna
imediata, induzidos pela enganadora visão de paraíso terrestre.”
Para garantir o controle das ações de acordo com as
normativas do rei, Brasil “os burocratas de nobre cepa, militares de experiência
e tangidos interiormente pelo sentimento de lealdade ao rei”, para comandar a
empresa que tinha como maior valor não a terra, mas o escravo.
Não havia, no sistema brasileiro, nem feudo nem o vínculo de vassalagem, triturados ambos pela economia mercantil, derretidos pelo açúcar.
O Capítulo IV de XV, desta obra que, no formato físico conta
com 929 páginas, conta com seis partes que, finalizadas, nos levam aos 15% de
leitura concluída desta edição em e-book de 2012, publicada pela Globo, que teve a
primeira edição publicada em 1958.
Leitura que segue para o Capítulo V – A obra de centralização colonial.
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