A leitura do livro Poemas
Escolhidos, de Ferreira Gullar, nos últimos meses, transformou em receio o
desejo de aventura por poesias de outros autores. O medo de não compreender a
forma e o conteúdo de boa parte da obra precisou ser vencido, pois o livro selecionado
para o mês de novembro do grupo de leitura #leiamulheresnatal foi Exercícios de Poesia: Textos Esparsos,
de Zila Mamede.
Com organização de Humberto Hermenegildo de Araújo, Maria
José Mamede Galvão e Marise Adriana Mamede Galvão, a obra foi publicada em 2009
pela Editora da UFRN (Edfurn), em parceria com o Núcleo Câmara Cascudo de
Estudos Norte-Rio-Grandenses da UFRN, e integra a coleção Estudos
Norte-Rio-Grandenses.
Composto por poesias e prosas de Zila Mamede no jornal Tribuna
do Norte em 1951 e 1952, o livro é resultado de um trabalho de compilação que reúne
textos que não foram incluídos na primeira obra publicada pela autora, em 1953.
Com simplicidade que dá ao trabalho quase que um perfil antagônico
ao de Ferreira Gullar, em razão da complexidade textual, Zila Mamede descreve
fatos, sentimentos e pessoas, sem rebuscamento.
É difícil dizer até que ponto esta simplicidade, exacerbada
em alguns textos, não se torna característica negativa, pois a sensação é de leitura
de clássicos do adágio popular como “Batatinha quando nasce...”.
Em alguns poemas, a estrutura textual é capaz de fazer o
leitor se perguntar sobre o porquê de a poetisa optar pela estrutura em versos,
se determinado pensamento fluiria melhor em prosa.
Aliás, na prosa, Zila Mamede revela um olhar crítico sobre
os problemas sociais, como a inexistência de um posto de salvamento na Praia do
Meio, local de grande fluxo de pessoas, mas de banho perigoso, onde, em 1985, a
própria escritora perderia a vida, vítima de afogamento.
Sobre os temas tratados pela paraibana que se tornou um
marco na literatura potiguar, Zila fala sobre liberdade, cotidiano, descoberta
de si mesmo, política, por exemplo.
Vale ressaltar que os poemas para políticos como Aluízio
Alves reforçam a avaliação da obra como “ok”. Vale a leitura para conhecer o trabalho
da escritora, mas sem muito entusiasmo.
Momentos
Por que temes a tua hora
De libertação?!
Aceita-a com a mesma força
Como a desejas.
Se a Buscas
Sê indômito para recebe-la
E não te finques apenas no desejo.
A posse é muito mais importante.
E te conduzirá
Para além dos teus limites.
Quando a libertação vier
Não desperdices um sequer instante seu.
Vive-a
Porque somente aí serás tu mesmo.
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