Publicado em 2012, pela editora Papirus 7 Mares, como parte integrante
da coleção Papirus Debates, o livro Política
para não ser idiota, apresenta ao leitor um diálogo leve e, ao mesmo tempo,
necessário e pertinente entre os filósofos Mário Sérgio Cortella e Renato
Janine Ribeiro, sobre o exercício da cidadania.
Com apenas 103 páginas divididas em 12 tópicos que orientam
os caminhos que a discussão entre os educadores se desenvolve, a obra
representa leitura obrigatória em tempos de intolerância – não só política – os
quais vivemos no Brasil.
Abordando conceitos como política, corrupção, conflito,
confronto, divergência, consenso, transparência, eficácia, proatividade,
educação e exercício de cidadania, os autores destacam que conceitos como esses
podem sofrer mudanças de significados, de acordo com o contexto vigente.
Para confirmar esta realidade, Cortella e Janine Ribeiro
comparam a postura adotada pela geração que vivenciou o período militar no
Brasil e a que não conheceu, entre outras coisas, na prática, a supressão das
liberdades civis e as consequências de iniciativas como esta.
Para os autores, a falta de compreensão sobre o antagonismo e
como as divergências representam a base da vida em democracia leva a sociedade
a cometer diversos equívocos.
A política não pode ser anulação, tem de propiciar possibilidades de convivência.
Cortella e Janine Ribeiro ressaltam que como seres sociais
somos, naturalmente, políticos e a confusão das ações políticas com a política
partidária leva boa parte das pessoas a se opor até mesmo a refletir sobre o
tema, mesmo que este seja diretamente relacionado ao seu próprio cotidiano.
A dificuldade para se comunicar com quem pensa diferente é
uma das consequências mais nefastas, apontam, que esta falta de entendimento a
respeito da política pode causar, pois tende a nos fazer ver o outro como
inimigo quando, na verdade, ele é apenas alguém que diverge das nossas
opiniões.
Antes de tudo, política não é obrigatoriamente consenso. Consenso é uma parte do ato político, mas não é a única forma de lidar com as diferenças. A palavra consenso, às vezes, passa a sensação de que é necessário reduzir, abrandar as divergências – e, portanto, impedi-las. (...), democracia não é ausência de divergências mediante anulação. É a convivência das divergências sem que se chegue ao confronto. (...). Conflito é a divergência de posturas, de ideias, de situações; confronto é a tentativa de anular o outro.
Ao não estabelecer relações com quem diverge dos seus pensamentos,
a tendência do indivíduo é de se afastar do processo decisório, apesar de
cobrar respostas às demandas pessoais e coletivas, mesmo que não saiba a quem
e/ou a qual esfera específica direcionar os questionamentos. Soma-se a isso ao
fato de quase nunca querer assumir a responsabilidade que tem na esfera
pública.
A sociedade brasileira tem uma noção bastante limitada de responsabilidade.
A discussão a respeito de casos práticos é embasada por um
breve esclarecimento a respeito de conceitos como liberalismo e socialismo, que
dão base à polarização contemporânea, mesmo que no cotidiano político do Estado
não haja pureza de atuação.
Esta falta de pureza é um imperativo a uma postura
divergente da adotada pela maioria da sociedade e apresentada até aqui, pois se
o indivíduo precisa lidar diariamente com posicionamentos e decisões
divergentes de suas ideias, é imprescindível que ele conheça o que pensa e o
significado desta perspectiva para aquele que a defende e para o trabalho a ser
desenvolvido.
A partir da consciência de si mesmo e do mundo que o rodeia
é que o indivíduo terá condições de perceber que a adequação de sua própria
conduta diante do coletivo tem impacto significativo no combate daquilo que ele
mesmo reclama e espera por soluções.
Outro dia estive em um debate com empresários sobre a temática da corrupção. E um deles me perguntou: “Você não acha que a eliminação da corrupção no Brasil é uma questão de educação? Isto é, não caberia à escola formar os jovens para não serem corruptos?”. Respondi: “Pode até ser, mas há um jeito mais fácil de extinguir a corrupção. Como, para existir corrupção, tem de haver um corrupto e um corruptor, e como o corruptor, de maneira geral, é aquele que tem dinheiro para corromper, basta que este indivíduo não corrompa a outros”. Do ponto de vista operacional, não é difícil. Se o empresário é aquele que possui dinheiro e a corrupção é feita com esse capital, não o utilize para fazer isso e a corrupção acaba. Pode parecer obvio, mas o espanto é grande, porque sempre se supõe que o processo da higiene política tem de ser feito num outro lugar que não aquele em que estou.
Renato Janine Ribeiro e Mário Sérgio Cortella destacam que
independente do viés político adotado por cada indivíduo, a participação
política nas decisões do Estado diz respeito ao conjunto da sociedade.
A dificuldade que enfrentamos é conseguir estabelecer um laço social entre todos os membros da sociedade, pelo menos um laço social forte a ponto de permitir o exercício mesmo da democracia.
Leitura simples, relevante e de super recomendada! 😊
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