O
lançamento da série original Netflix, “The Crown”, foi uma das
boas surpresas de 2016. Goste ou não você do que a Casa de Windsor
representa, é inegável o papel político, econômico e histórico
dos integrantes da família real para a nossa constituição enquanto
sociedade.
Se
num primeiro olhar, o glamour que envolve a realeza nos remete aos
contos de fadas, nos quais reis, rainhas, príncipes, princesas e
seus súditos nos são apresentados como seres acima do normal, ou
seja, acima de nós, simples mortais, séries como “The Crown”
desmistificam esta realidade ao nos levar a identificar a humanidade
de cada um, normalmente deixada de lado pela espetacularização da
vida.
Os
dez episódios que integram a primeira temporada de seis da série,
que se propõe a contar a vida da rainha Elizabeth II desde 1947 –
ano do casamento com o Príncipe Philip – até os dias atuais, é
repleto dessa humanidade esquecida.
A
obra nos convida a perceber que dos portões para dentro do Palácio
de Buckingham existem pessoas que, sim, são como eu e você. São
complexas e com responsabilidades que extrapolam nossa compreensão
e, muitas vezes, a racionalidade, o que as leva a enfrentar uma
constante batalha entre o racional e o emocional.
Você
consegue imaginar o que significou para uma mulher, em 1953, ser
coroada rainha, aos 27 anos? Se a Rainha Elizabeth II teve a árdua
missão de liderar uma nação em um mundo eminentemente machista,
mesmo com o legado deixado por outras mulheres que a antecederam, não
podemos esquecer os dilemas enfrentados pelo Príncipe Philip.
Neste
mesmo ambiente machista, abrir mão da carreira para servir à mulher
não é o tipo de pressão que qualquer pessoa suporta. E se suporta,
qual é o preço que paga? A série nos mostra um pouco desta
realidade, tema de reflexão de poucos, certamente. Afinal, quem é capaz de dizer o que verdadeiramente acontece na vida de cada um de nós?
Os
aspectos da cultura inglesa são fortemente trabalhados a cada
episódio. Desde as estruturas de poder, das quais Winston Churchill
não se dispôs a largar com facilidade, apesar das limitações
impostas por problemas de saúde.
Alias,
esta personagem é daquelas que quanto mais conhecemos, mais queremos
conhecer. O papel político do ex-PrimeiroPinistro britânico é
memorável, mesmo quando a história não é bem relatada, como citei
no post "Churchill e a liderança circunstacial".
A
relação da Rainha Elizabeth II com a irmã, a Princesa Margaret, é
algo que também merece destaque, pois é um claro reflexo dos
valores cultivados na relação delas com o pai, o Rei George VI.
A
respeito dele, vale assistir ao filme “The King’s Speech”, com
Colin Firth e Geoffrey Rush no elenco, e que mostra a luta do
Príncipe Albert para superar os problemas de fala e conseguir se
comunicar com seu povo, ao se tornar Rei após a abdicação do
irmão, Rei Eduardo VIII. Tem também na Netflix.
Os
elementos que chamam a atenção na produção da Netflix são
vários, mas em relação à personalidade da Rainha, destaco a
preocupação na busca pelo conhecimento, ao diante de grandes
debates com as maiores personalidades da época, o que a levou a
contratar um professor particular para ajudá-la a minimizar esta
carência.
Sem
dúvida esta é uma série que vale cada minuto de dedicação. Agora
é aguardar as novas temporadas!