05 janeiro 2017

The Crown – O humano além da espetacularização

O lançamento da série original Netflix, “The Crown”, foi uma das boas surpresas de 2016. Goste ou não você do que a Casa de Windsor representa, é inegável o papel político, econômico e histórico dos integrantes da família real para a nossa constituição enquanto sociedade.
Se num primeiro olhar, o glamour que envolve a realeza nos remete aos contos de fadas, nos quais reis, rainhas, príncipes, princesas e seus súditos nos são apresentados como seres acima do normal, ou seja, acima de nós, simples mortais, séries como “The Crown” desmistificam esta realidade ao nos levar a identificar a humanidade de cada um, normalmente deixada de lado pela espetacularização da vida.
Os dez episódios que integram a primeira temporada de seis da série, que se propõe a contar a vida da rainha Elizabeth II desde 1947 – ano do casamento com o Príncipe Philip – até os dias atuais, é repleto dessa humanidade esquecida.
A obra nos convida a perceber que dos portões para dentro do Palácio de Buckingham existem pessoas que, sim, são como eu e você. São complexas e com responsabilidades que extrapolam nossa compreensão e, muitas vezes, a racionalidade, o que as leva a enfrentar uma constante batalha entre o racional e o emocional.
Você consegue imaginar o que significou para uma mulher, em 1953, ser coroada rainha, aos 27 anos? Se a Rainha Elizabeth II teve a árdua missão de liderar uma nação em um mundo eminentemente machista, mesmo com o legado deixado por outras mulheres que a antecederam, não podemos esquecer os dilemas enfrentados pelo Príncipe Philip.
Neste mesmo ambiente machista, abrir mão da carreira para servir à mulher não é o tipo de pressão que qualquer pessoa suporta. E se suporta, qual é o preço que paga? A série nos mostra um pouco desta realidade, tema de reflexão de poucos, certamente. Afinal, quem é capaz de dizer o que verdadeiramente acontece na vida de cada um de nós?
Os aspectos da cultura inglesa são fortemente trabalhados a cada episódio. Desde as estruturas de poder, das quais Winston Churchill não se dispôs a largar com facilidade, apesar das limitações impostas por problemas de saúde.
Alias, esta personagem é daquelas que quanto mais conhecemos, mais queremos conhecer. O papel político do ex-PrimeiroPinistro britânico é memorável, mesmo quando a história não é bem relatada, como citei no post "Churchill e a liderança circunstacial".
A relação da Rainha Elizabeth II com a irmã, a Princesa Margaret, é algo que também merece destaque, pois é um claro reflexo dos valores cultivados na relação delas com o pai, o Rei George VI.
A respeito dele, vale assistir ao filme “The King’s Speech”, com Colin Firth e Geoffrey Rush no elenco, e que mostra a luta do Príncipe Albert para superar os problemas de fala e conseguir se comunicar com seu povo, ao se tornar Rei após a abdicação do irmão, Rei Eduardo VIII. Tem também na Netflix.
Os elementos que chamam a atenção na produção da Netflix são vários, mas em relação à personalidade da Rainha, destaco a preocupação na busca pelo conhecimento, ao diante de grandes debates com as maiores personalidades da época, o que a levou a contratar um professor particular para ajudá-la a minimizar esta carência.
Sem dúvida esta é uma série que vale cada minuto de dedicação. Agora é aguardar as novas temporadas!