A
redução dos espaços proporcionada pelas novas tecnologias nos
coloca em plataformas virtuais nas quais, cada vez mais, o mais
íntimo de cada um é exposto, mesmo que a maioria não se dê conta
disso e, muito menos, das consequências. O processo de
autoconhecimento é premissa básica para o bom uso das ferramentas
que temos à nossa disposição. Mas, se lidar com o exterior não é
fácil, encarar a si mesmo é menos ainda, porém, essencial.
O
livro “Eat Pray Love” (Comer Rezar Amar), de Elizabeth Gilbert,
revela a trajetória da autora durante o ano que dedicou a conhecer a
Itália, a Índia e a Indonésia. Uma fuga ao encontro de si mesma.
Com histórico de depressão na família, Liz enfrentou os piores
momentos da doença durante um doloroso processo de divórcio.
A
decisão de dar fim ao relacionamento foi tomada após anos de
sofrimento, nos quais a exigência de cumprir os papéis impostos
pela sociedade, mas sem significado para ela, ao menos naquele
período, passaram a sufocá-la. Uma nova relação não menos
problemática se seguiu acompanhada dos momentos de angústia e
incerteza.
Dizem
que a maioria das pessoas descobre a fé pela dor e com Liz não foi
diferente. Os diálogos que passou a estabelecer com a divindade
superior a impulsionou a buscar mais sobre si mesma e a fazer o que
gosta. Daí a decisão de aprender italiano, apesar de ser um idioma
sem muita utilidade, segundo ela.
Assim,
Liz seguiu em viagem para a Itália em busca de vivenciar os prazeres
que a vida pode oferecer, sem culpa. Ela encontra! Comida, bebida,
alguns quilos a mais, o idioma e, também, a depressão. Como lidar
com a doença tão longe de casa – ela mora nos Estados Unidos - e
sem querer se render aos medicamentos? Liz encontra na fé as
respostas.
O
relato do período que Liz passa na Índia é, sem dúvida, o mais
intenso. É lá onde ela realmente enfrenta a si mesma. É onde ela é
levada a experimentar, por exemplo, ouvir os próprios pensamentos.
Ah, como é difícil! Mas quando descobrimos o caminho, temos a clara
percepção de que todas as respostas estão em nós.
Encontrar
o equilíbrio ou caminho para minimizar os impactos dos fatos do
cotidiano é o que todos nós queremos, mas o enfrentamento de si
mesmo, leva a maioria das pessoas a buscar outros caminhos. Ao
encontrar a ‘fórmula’, Liz dá continuidade à viagem com
destino à Indonésia.
Desde
os Estados Unidso, Liz não se relacionava com ninguém, mas na
Indonésia ela se envolve com um homem – um brasileiro - e teme
colocar todas as conquistas a perder. O Guru dela explica que
“algumas vezes, perder o equilíbrio por amor é parte de uma vida
equilibrada”.💖
O
aprendizado adquirido por Liz nos doze meses de viagem representa o
processo de autoconhecimento pelo qual precisamos passar, não
necessariamente em um ano sabático, como o dela, para que possamos
viver o estado de felicidade que tanto buscamos.
Um
dos trechos de destaque do livro, para mim, é justamente um dos
ensinamentos do Guru a respeito da felicidade. Ele diz que
“felicidade é consequência de um esforço pessoal. (…). E uma
vez você tenha conquistado este estado de felicidade, você não
deve nunca relaxar, mas sim se esforçar para mantê-lo. Caso
contrário, você vai perdê-lo.” Ainda segundo ele, “é muito
fácil rezar quando você está com problemas, mas continuar rezando
quando a crise passar é como um processo de autoproteção que ajuda
a sua alma a se manter firme.” 🙏
Ou
seja, este é um trabalho preventivo! A ideia é que esperamos a
divindade fazer a parte dela, mas e a nossa contrapartida?
Esta
edição do livro é em inglês e foi publicada em 2006 pela
Bloomsbury. Esta foi minha segunda leitura e foi ainda mais
impactante do que a primeira experiência, acredito que nossa intensa
relação com o mundo virtual tem sua parte de responsabilidade
nisso. E, apesar de o filme ser bom, nem de longe aborda todos os
aspectos que são base do livro, como a questão da depressão.
“I
was not rescued by a prince; I was the administrator of my own
rescue.”📚💭
Enfim, é um livro lindo! ☆☆☆☆