As Crônicas de Gelo e Fogo | Game of Thrones

Um bom texto é aquele que prende o leitor a cada linha sem que ele se dê conta do tempo destinado à leitura, pois o conteúdo simplesmente flui. É exatamente isso o que George R. R. Martin consegue fazer no Livro Um de “As Crônicas de Gelo e Fogo - A Guerra dos Tronos”, publicado pela Editora LeYa. A obra é a primeira da série que, atualmente, conta com cinco volumes e é a base do seriado da HBO “A Game of Thrones.”

O primeiro volume de “As Crônicas de Gelo e Fogo” conta com 592 páginas no livro físico. O título foi o escolhido para ficar disponível no Kindle, em formato de e-book, para ser lido despretensiosamente ao longo dos meses, para pouco a pouco conhecer a série. Porém, a forma como a trama é desenvolvida torna quase impossível parar a leitura, que conclui em duas semanas.

Catalogada como literatura fantástica, o livro conta a história da briga pelo trono de ferro que coloca o seu ocupante à frente de Sete Reinos. Com um enredo que envolve elementos místicos e sobrenaturais, a narrativa de entretenimento também nos leva a reflexões sobre os tripé que move o mundo - poder, sexo e dinheiro – e como os valores pessoais resultam no emprego diferenciado desses elementos.

Os valores morais que moldam o caráter dos indivíduos são tão fortemente apresentados que tornam-se as características que identificam as famílias envolvidas na luta pelo trono de ferro. Ao mesmo tempo em que os traços da criação representam clãs específicos, George Martin também faz a ressalva de que não há determinismo, mas sim escolhas.

Os capítulos são identificados com os nomes das personagens mais relevantes para a trama do volume. E, apesar de serem mais de 70 capítulos, além do Prólogo e do Apêndice no qual é apresentada a genealogia das famílias que integram o enredo, a retomada de diálogos, sentimentos e sensações ao longo do livro chega a impressionar, assim como a violência e a sexualidade exploradas no decorrer da história de maneira nada sutil.

Sexo, violência e questões morais resultam em um livro destinado ao público adulto, não apenas pela exposição da temática de forma a explorar intensamente os sentidos do leitor, com sangue, suor, dor e prazer, mas também pelas reflexões pertinentes a esses elementos.

Exemplo disso é a forma como a mulher é retratada em uma sociedade machista que subjuga o sexo feminino aos seus interesses e restringe o seu poder de atuação ao lar e criação dos filhos. Não muito diferente do que vivenciamos no mundo real, algumas das personagens femininas se sobressaem por caminhos distintos e conquistam posições estratégicas na história.

Alias, uma das coisas que me foi dita antes do início da leitura foi que amaria e odiaria algumas das personagens, ou quase todas. É perceptível que George Martin as apresenta com toda a complexidade humana, o que significa dizer que a depender das circunstâncias os valores as levam a agir de maneira inesperada, em desacordo com o julgamento prévio que fazemos delas a cada linhas, ou não. Perceber, entre outras coisas, que o mais medieval dos homens pode ser, afinal, o de melhor caráter, põe em xeque os estereótipos sociais que nos orientam.

Enfim, as personagens nos surpreendem, assim como as reviravoltas na história que deixou excelentes ganchos para o Livro Dois de “As Crônicas de Gelo e Fogo” que tem como título “A Fúria dos Reis”, a ser apreciado em breve, pois vale a leitura.

Este é o segundo livro lido em 2017 e que livro! ✰✰✰✰✰

Uma mente necessita de livros da mesma forma que uma espada necessita de uma pedra de amolar para se manter afiada.