08 janeiro 2017

Adam Smith e a pesquisa em “A Riqueza das Nações” #1

À medida que fui avançando nas páginas para acompanhar – ou ao menos tentar – o pensamento desenvolvido por Adam Smith em sua obra “A Riqueza das Nações”, uma constatação recorrente me vinha à mente: pesquisadores, aprendam com este senhor o que é um trabalho de pesquisa!

Chega a ser inacreditável o que o filósofo e economista escocês conseguiu fazer em meados do século XVIII, um período no qual o acesso à informação, nem nos melhores sonhos, se aproximava do que temos hoje. E mesmo assim, temos uma obra digna de ser chamada de pesquisa. 

Adam Smith compilou quantidade significativa de dados que incluem preços de determinados produtos, praticados em diversas localidades da Europa, nas colônias europeias na Africa e América; a influência das descobertas de riqueza ao redor do mundo no desenvolvimento da atividade produtiva das metrópoles; o impacto da cultura nas relações entre proprietários, trabalhadores e empregadores; a importância da cadeia produtiva e como ela pode ser determinante na formação de preços; entre outros dados, sempre apresentados de forma explicativa para que o leitor - independente do seu nível de compreensão a respeito da economia -, compreenda seus fundamentos sobre a riqueza das nações e formação da sociedade como conhecemos.

Publicado em 1776, a obra “A Riqueza das Nações” é composta por cinco livros divididos em dois tomos. Cada livro, considerado um capítulo, aborda uma temática que, de acordo com o autor, auxilia a investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações. O tomo I inclui dos Livro I ao IV, que tem continuidade no tomo 2, composto também pelo Livro V. 

Conclui a leitura do Livro I, intitulado “Causas do aprimoramento das forças produtivas do trabalho, e da ordem segundo a qual seu produto é naturalmente distribuído entre os diferentes estratos do povo”. Sim, o capítulo é tão grande quanto o título e consome mais de 50% das 623 páginas da obra. Trezentas e trinta e cinco, para ser mais precisa.

Apesar de não ser uma leitura fácil, daquela com as quais nos jogamos no sofá para relaxar, pois esta obra que exige um significativo esforço mental, ela nos orienta por reflexões essenciais, não somente nos aspectos econômicos, mas também históricos a respeito de aspectos culturais de uma sociedade que ainda serve como base para muitas das nossas práticas cotidianas.

Quais as consequências para a sociedade brasileira contemporânea da informação que Smith nos dá ao dizer que:

(…) poderíamos afirmar que a quantidade de ouro anualmente importada do Brasil para Lisboa foi de 18 milhões de cruzados, ou 45 milhões de libras francesas, equivalentes a 2 milhões de libras esterlinas. (…) levando em conta o que pode ter sido contrabandeado, podemos seguramente adicionar a essa soma mais 1/8, ou 250 mil libras esterlinas.
E para nós, o que restou?

Ao abordar questões como a divisão do trabalho, a origem e o uso do dinheiro, as partes componentes do preço, os salários do trabalho, o lucro do capital e a renda da terra, por exemplo, Adam Smith revela a base machista da diferenciação do salário de homens e mulheres, pois cabe a estas a obrigação (termo utilizado pelo autor) de cuidar dos filhos. Assim, apesar de ter que trabalhar para suprir as demandas do mercado, não é necessário pagar a elas o mesmo salário, pois o básico à subsistência é suficiente.

Famoso por ser um dos nomes mais importantes do liberalismo, Smith destaca a importância da livre iniciativa e os problemas causados ao mercado pela intervenção do Estado com o objetivo de regular as relações entre proprietários, trabalhadores e empregadores. Porém, o autor faz a ressalva de que o grupo que efetivamente pressiona o Estado para garantir seus interesses é a dos empregadores e, diferentes dos outros dois grupos, este não pensa na coletividade, tendo em vista ter como foco o aumento do lucro do capital. Irônico, não?

Até este ponto da leitura, é possível afirmar que através de uma argumentação bem embasada, Adam Smith é capaz, sim, de nos fazer refletir a respeito dos malefícios que podem ser causados pela intervenção do Estado na economia, ao mesmo tempo em que considera essencial a manutenção da subsistência digna (termo também usado pelo autor) dos trabalhadores. Assim, o que me parece, este antagonismo nos leva ao necessário equilíbrio entre os dois caminhos, mesmo que ele seja utópico.

Sigo a leitura para ver se o autor nos mostra o caminho para esta resposta. Volto com Adam Smith ao final do Livro II - “Natureza, acumulação e emprego do capital.” Até lá! 








Decerto, nenhuma sociedade pode ser próspera e feliz, se a maior parte dos seus membros está reduzida à pobreza e à miséria.☕💭