Um capítulo destinado aos momentos finais do Segundo Reinado
e que expõe a articulação política dos últimos anos do Brasil Império, as tentativas
de preservar a monarquia, as mudanças de posição política e ideológica, entre
outros fatos e personagens que fizeram esta história. Este é o Capítulo XII de Os Donos do Poder, de Raymundo Faoro.
Intitulado O
Renascimento Liberal e a República, a décima- segunda parte do livro é
dividida em três pontos, que resumem bem o relato apresentado por Faoro: Do liberalismo à propaganda republicana;
A fazenda sem escravos e a República;
O Exército na monarquia e sua conversão republicana.
Com o mesmo nível de conteúdo e vocabulário densos que dão o
tom em todo o livro, Faoro relata como o pensamento liberal influenciou a atuação
dos políticos brasileiros e a tomada de decisão para, entre outras coisas, alavancar
o movimento abolicionista e a elaboração da Constituição de 1891, sendo esta,
para o autor, um documento hipócrita.
A República buscará suas vestes civis e organizará seu sistema financeiro, para dar amplitude e florescência ao liberalismo econômico, contraditoriamente experimentado. Na base, a “política dos governadores” apoiada no aliciamento eleitoral do “coronelismo” dará estabilidade ao sistema. Recobrindo, recobrindo mais do que ordenado normativamente, a Carta de 1891 legitimará a ordem, conservadoramente imutável.
O destaque deste capítulo está, sem dúvida, na mudança de status
sofrida pelos militares que deixam de ser uma classe de aspiração social, na
medida em que a ascensão social passa a ser resultado da formação dos bacharéis,
especialmente na Europa. A instituição de concurso de capacidade para cadete do
Exército, em 1824, também foi um agravante a esta situação.
A movimentação do Exército para restabelecer a posição social
perdida inclui apoio ao abolicionismo, por meio da recusa de atuação na
recaptura de escravos, e à causa republicana.
.O Exército, depois dos meados do século, eleva o oficial, projeta seu status, mas não o aristocratiza, nem lhe confere ingresso no palco político
Sem conseguir espaço na arena política, o Exército -
historicamente monarquista - passa a articular o golpe para destituição de Dom
Pedro II e a instituição da República, com a justificativa de ser esse o anseio
da sociedade, apesar de a população - sem poder econômico, sem altos empregos e
sem chefias partidárias – não importar aos articuladores do poder.
O vazio imperial deixa o lugar para a República, eventualmente desagregadora, somente compatível com a tradição centralizadora se tutelada pelo Exército. O pronunciamento não pode ignorar o contexto republicano, só ele capaz de legitimar o novo dia. Uma transação, é verdade, sem o sentimento do provisório, voltada, potencialmente, contra a hegemonia paulista. Provisório será apenas o governo, “simples agente temporário da soberania nacional”, declara a proclamação de 15 de novembro.
Mais uma vez, o relato da história nacional do final do
século XIX remete o leitor a movimentos similares da política nacional deste
século XXI. Se não fossem tantos outros, este fato seria suficiente para
continuar a leitura do livro.
Sem dúvida, leitura que segue!💭
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