Esta
é a inquietude que causa a leitura de Adeus
ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho,
livro escrito por Ricardo Antunes e
publicado pela Cortez Editora, nesta 14 edição em 2010, com 214 páginas.
Especialista
em sociologia do trabalho, Ricardo Antunes levanta o questionamento sobre o
possível fim do trabalho, por ser esta a afirmação de diversos estudiosos da
área, ao considerar as transformações geradas pelo desenvolvimento tecnológico,
tanto no processo produtivo, quanto nas relações de trabalho.
Os
que defendem o fim do trabalho veem na classe operária a caracterização do
trabalho e como este passa por transformações, que incluem a substituição do
homem pela máquina, há a defesa do fim do trabalho.
O
que Antunes (2010) ressalta é que, na verdade, a transformação do processo de
trabalho também é uma transformação da classe trabalhadora que, nesta obra, é
denominada por ele de classe-que-vive-do trabalho.
As
mudanças no perfil do trabalhador, em decorrência da evolução do perfil do
operário para a de um trabalhador intelectualizado – consequência da mudança do
fordismo para o toyotismo enquanto modelo de produção e sociedade – está longe
de representar o fim do trabalho.
Para
Antunes (2010), o impacto das novas tecnologias no processo de trabalho levou à
heterogeneidade da classe-que-vive-do-trabalho, incluindo a significativa inserção
da mulher, e a consequente incremento da complexidade das relações de trabalho.
[...]fragmentação e heterogeneização dos trabalhadores. [...]. Tudo isso dificulta ainda mais as possibilidades do desenvolvimento de uma consciência de classe dos trabalhadores fundada em um sentimento de pertencimento de classe, aumentando consequentemente os riscos de expansão de movimentos xenofóbicos, corporativistas, racistas, paternalistas, no interior do próprio mundo do trabalho.
Se
as novas tecnologias inserem a flexibilidade no processos de trabalho, para que
isso aconteça, explica o autor, é necessário que a força de trabalho também seja
flexível. Daí surge a mudança no discurso que, ao período fordista, tinha como um
de seus fundamentos a separação entre aqueles que pensam e os que executam, tendo
como resultado, a alienação do trabalhador do produto de seu trabalho.
A
perspectiva toyotista, por sua vez, visando estimular a flexibilidade do
trabalhador para ter condições de atender às demandas do consumidor, leva uma nova
postura que faz crer que parece
desaparecer o trabalho repetitivo, ultra-simples, desmotivante, e embrutecedor.
Finalmente estamos na fase do enriquecimento das tarefas da satisfação do
consumidor, do controle de qualidade.
Porém,
Antunes (2010) destaca que, na prática, o modelo Toyota representa uma intensificação
da exploração do trabalho.
A subsunção do ideário do trabalhador àquele veiculado pelo capital, a sujeição do ser que trabalha ao “espírito” Toyota, à “família Toyota”, é de muito maior intensidade, é qualitativamente distinta daquele existente na era do fordismo. Esta era movida centralmente por uma lógica mais despótica, aquela, a do toyotismo, é mais consensual, mais envolvente, mais participativa, em verdade mais manipulatória.
Este
é o tipo de leitura que precisa de uma preparação para ser feita, pois a perspectiva
negativa é capa de gerar desencanto significativo ao leitor que acredita na possibilidade
de integração entre o capital e o trabalho. Ricardo Antunes é declaramente
contrário a esta ideia, mas ressalta que nem tudo está perdido. Para ele, por
mais difícil que seja, há alternativa.
Não cremos que esta heterogeneidade impossibilite uma atuação conjunta destes segmentos sociais enquanto classe, ainda que a aproximação, articulação e unificação destes estratos que compõem a classe trabalhadora sejam, não é demais repetir, um desafio de muito maior envergadura do que aquele imaginado pela esquerda socialista.😟
Difícil
digerir, mas não podemos perder a esperança da possível construção de caminhos
que levem a redução das desigualdades sociais.
Leitura
mais que indicada! 😊
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