27 julho 2018

Adeus ao trabalho?

Um livro que tem uma pergunta como título é um indicativo de que a reflexão proposta pelo autor deverá resultar em mais questionamentos do que em respostas, sem deixar de delinear os possíveis caminhos a serem seguidos pelo leitor.

Esta é a inquietude que causa a leitura de Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho, livro escrito por Ricardo Antunes  e publicado pela Cortez Editora, nesta 14 edição em 2010, com 214 páginas.

Especialista em sociologia do trabalho, Ricardo Antunes levanta o questionamento sobre o possível fim do trabalho, por ser esta a afirmação de diversos estudiosos da área, ao considerar as transformações geradas pelo desenvolvimento tecnológico, tanto no processo produtivo, quanto nas relações de trabalho.

Os que defendem o fim do trabalho veem na classe operária a caracterização do trabalho e como este passa por transformações, que incluem a substituição do homem pela máquina, há a defesa do fim do trabalho.

O que Antunes (2010) ressalta é que, na verdade, a transformação do processo de trabalho também é uma transformação da classe trabalhadora que, nesta obra, é denominada por ele de classe-que-vive-do trabalho.

As mudanças no perfil do trabalhador, em decorrência da evolução do perfil do operário para a de um trabalhador intelectualizado – consequência da mudança do fordismo para o toyotismo enquanto modelo de produção e sociedade – está longe de representar o fim do trabalho.

Para Antunes (2010), o impacto das novas tecnologias no processo de trabalho levou à heterogeneidade da classe-que-vive-do-trabalho, incluindo a significativa inserção da mulher, e a consequente incremento da complexidade das relações de trabalho.


[...]fragmentação e heterogeneização dos trabalhadores. [...]. Tudo isso dificulta ainda mais as possibilidades do desenvolvimento de uma consciência de classe dos trabalhadores fundada em um sentimento de pertencimento de classe, aumentando consequentemente os riscos de expansão de movimentos xenofóbicos, corporativistas, racistas, paternalistas, no interior do próprio mundo do trabalho.

Se as novas tecnologias inserem a flexibilidade no processos de trabalho, para que isso aconteça, explica o autor, é necessário que a força de trabalho também seja flexível. Daí surge a mudança no discurso que, ao período fordista, tinha como um de seus fundamentos a separação entre aqueles que pensam e os que executam, tendo como resultado, a alienação do trabalhador do produto de seu trabalho.

A perspectiva toyotista, por sua vez, visando estimular a flexibilidade do trabalhador para ter condições de atender às demandas do consumidor, leva uma nova postura que faz crer que parece desaparecer o trabalho repetitivo, ultra-simples, desmotivante, e embrutecedor. Finalmente estamos na fase do enriquecimento das tarefas da satisfação do consumidor, do controle de qualidade.

Porém, Antunes (2010) destaca que, na prática, o modelo Toyota representa uma intensificação da exploração do trabalho.


A subsunção do ideário do trabalhador àquele veiculado pelo capital, a sujeição do ser que trabalha ao “espírito” Toyota, à “família Toyota”, é de muito maior intensidade, é qualitativamente distinta daquele existente na era do fordismo. Esta era movida centralmente por uma lógica mais despótica, aquela, a do toyotismo, é mais consensual, mais envolvente, mais participativa, em verdade mais manipulatória.

Este é o tipo de leitura que precisa de uma preparação para ser feita, pois a perspectiva negativa é capa de gerar desencanto significativo ao leitor que acredita na possibilidade de integração entre o capital e o trabalho. Ricardo Antunes é declaramente contrário a esta ideia, mas ressalta que nem tudo está perdido. Para ele, por mais difícil que seja, há alternativa.


Não cremos que esta heterogeneidade impossibilite uma atuação conjunta destes segmentos sociais enquanto classe, ainda que a aproximação, articulação e unificação destes estratos que compõem a classe trabalhadora sejam, não é demais repetir, um desafio de muito maior envergadura do que aquele imaginado pela esquerda socialista.😟

Difícil digerir, mas não podemos perder a esperança da possível construção de caminhos que levem a redução das desigualdades sociais.

Leitura mais que indicada! 😊

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