Na contracapa da edição de “O Senhor dos Anéis”, em volume
único, publicada pela editora Martins Fontes em 2002, há uma citação do The Sunday Times que diz: “O mundo está
dividido entre aqueles que já leram O
Hobbit e O Senhor dos Anéis e
aqueles que ainda não leram.”. A afirmação não é à toa!
Após a conclusão da leitura de “O Retorno do Rei”, terceira
parte da trilogia na qual J. R. R. Tolkien nos conta a saga de Frodo para
destruir o Um Anel no fogo da Montanha da Perdição, é possível entender o
porquê de uma obra lançada em 1954 despertar tanto interesse e paixão, assim
como ser frequente objeto de estudos acadêmicos.
Tolkien não criou apenas uma história de ficção, mas também
um novo habitat para o desenvolvimento do enredo, o que inclui novos seres,
idiomas, formas de associação entre vivos e mortos, assim como todo o
imaginário que povoa a literatura fantástica.
O aspecto descritivo que marca o trabalho do escritor inglês
configura a maneira de dar vida, na medida em que a leitura avança, a todos os
aspectos físicos e geográficos que formam a Terra Média, palco da travessia e
das lutas físicas e morais travadas pelas personagens.
Lealdade é a palavra que resume o terceiro livro. Nas mais
de trezentas páginas de “O Retorno do Rei” o leitor acompanha, em capítulos
intercalados, os momentos críticos da caminhada de Frodo, Sam e Sméagol em
direção ao coração de Mordor, fortaleza de Sauron e seus seguidores que buscam o
Um Anel para consolidar o poder do mal e subjugar a Terra Média, e as batalhas
travadas em pontos diversos da região pelos integrantes da “Sociedade do Anel”,
tanto para resistir ao poder se Sauron, como para desviar a atenção dele da
região escolhida por Frodo para chegar ao destino que o permitirá cumprir a
missão que lhe foi dada.
Tolkien nos leva a perceber que, seja na vida e/ou nas
relações que estabelecemos, não existem certezas e nem mesmo questões
definitivas. O que há é a decisão de cada um em se manter leal aos valores que
nos formam e àqueles que, de uma forma ou de outra, somam em nossa trajetória,
apesar das adversidades enfrentadas.
Capacidade de análise, percepção do outro e das mais
variadas situações, intensidade das relações são elementos que o autor aborda
neste livro, ao mesmo tempo em que levanta questões como a preservação do meio
ambiente, questão de gênero e diversidade, sempre de maneira leve, mas
suficientemente clara para nos tirar da zona de conforto.
A preservação dos seres e de suas respectivas relações passa
pelo respeito à individualidade do outro, mas, sobretudo, pelo entendimento de
que apesar das diferenças que nos tornam únicos, somos indivíduos em busca de
sobrevivência e que, para garanti-la, precisamos estabelecer e manter as mais
saudáveis associações, para todos os envolvidos.
O que Tolkien nos mostra é que, sim, sempre haverá alguém,
ou alguns, que pensarão mais em si mesmos dos que na coletividade e que, por
esta razão, terão como prioridade o acúmulo máximo de poder, independente do
que isso represente ou cause aos outros.
Os integrantes da “Sociedade do Anel” não só resistem ao mal
de Sauron, como defendem Frodo que, em toda a caminhada, é preservado e cuidado
por Sam. É Sam quem nos põe em contato com o amor fraternal em sua mais pura
essência. A parceria entre eles e a ligação com todo o grupo, nos mostra que
até podemos avançar um pouco sozinhos, mas em parceria com aqueles que estão
dispostos a somar, de maneira despretensiosa, somos capazes de realizações
consideradas até então impossíveis.
Esta é uma obra que vale ser lida e relida, pois nos leva a
muitas reflexões e ensinamentos de vida, como a necessidade de estarmos abertos
a aceitar os desafios que a vida nos apresenta, pois, a ajuda virá, se assim
permitirmos. Os leais sempre estarão ao nosso redor. J
O orgulho seria tolice, se desdenhasse ajuda e aconselhamento na necessidade, mas você distribui essas dádivas de acordo com seus próprios desígnios.
O Retorno do Rei | O Filme
Assim como aconteceu com “A Sociedade do Anel” e “As Duas
Torres”, o filme “O Retorno do Rei” não é totalmente fiel ao livro, mas não
foge muito. O filme em si é muito bom, para quem gosta do estilo. Em termos de
fotografia e efeitos, não só o terceiro filme, mas esta é uma trilogia fantástica!
Mas, como toda obra adaptada, a leitura dos livros leva à criação de algumas
expectativas praticamente impossíveis de serem correspondidas. Os diretores são
obrigados a fazer escolhas e adaptações que nem sempre agradam, mas no geral, o
terceiro filme - e os dois anteriores – valem
o tempo dedicados a ele.
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