Dois livros, uma história e a constatação do quanto o estado
do Rio Grande do Norte perdeu – e ainda
perde -
oportunidades significativas de desenvolver seu potencial econômico e
administrativo em consequência da cultura patrimonialista, arraigada nas
pessoas desde o período colonial até a atualidade.
Luiz Eduardo B. Suassuna e Marlene da Silva Mariz publicaram
os livros “História do Rio Grande do Norte colonial (1597/1822)” e “História do
Rio Grande do Norte Império e República (1822-1934)”, em 1997 (Natal Editora) e
1999 (Gráfica Santa Maria), respectivamente, e ofereceram aos leitores
potiguares obras de caráter pedagógico, voltada tanto para estudantes do ensino
médio, como para pós-graduados e público em geral.
A lacuna que os autores se propuseram a preencher, tendo em
vista a escassez de material desta natureza ainda hoje, tendo em vista a
dificuldade para se ter acesso aos clássicos deste gênero produzidos por nomes
como Luís da Câmara Cascudo, fazem da história do RN um conteúdo estranho aos
seus próprios moradores.
Do período colonial até a eleição do primeiro governador
eleito, em 1834, Rafael Fernandes Gurjão, o que se vê é o fortalecimento das
oligarquias – mesmo antes desta definição existir - e da prática da apropriação de bens públicos,
em especial a terra, por particulares, ao ponto de constranger integrantes da
Coroa Portuguesa que chamou a atenção dos Albuquerque Maranhão, então resistes
à região de Canguaretama e Cunhaú.
Os anos passaram, nomes mudaram, mas a prática persistiu. Os
livros revelam a força das oligarquias, atemporais e imbatíveis até mesmo
diante da intervenção política do governo federal no Estado. O poder
coronelista sempre prevaleceu por estas terras inviabilizando os esforços dos
poucos que ousaram tentar transformar as práticas gerenciais com o objetivo de
beneficiar a todos.
Suassuna e Mariz nos colocam diante de um Estado que, a
despeito da privilegiada posição geográfica e de condições naturais para o bom
desenvolvimento das culturas da cana-de-açúcar, algodão, sal marinho e cera de
carnaúba, não ter atingido o desenvolvimento administrativo e econômico - como o de Pernambuco - devido às práticas políticas ligaras às
famílias que não só massacraram a população indígena, como lotearam a terra,
enquanto o Estado vizinho buscava seguir os ideais liberais que o influenciou
desde a invasão holandesa.
Os nomes que tentaram implementar no Rio Grande do Norte uma
política e postura mais desenvolvimentista, como Café Filho e o interventor
Hercolino Cascardo, tiveram suas iniciativas frustradas. De uma forma ou de
outra, o poder dos coronéis sempre prevaleceu. Realidade não muito distinta da
atual.
Diante das disputas por território e cargos políticos, o
desenvolvimento econômico, administrativo e social do Rio Grande do Norte
sempre ficou em segundo plano, sendo a história do RN marcada por conflitos
políticos, dificuldades econômicas, dívidas decorrentes de empréstimos e
qualidade de vida questionável aos moradores.
Mesmo nos colocando diante de fatos relevantes da história
do RN, como os massacres de Cunhaú e Uruaçu; a participação do RN na intentona
comunista; e a baixa adesão do Estado ao trabalho escravo, os dois livros são
mal escritos, com lacunas a serem respondidas e expressões que expressam o
apego ao coronelismo potiguar. Como exemplo disso, citamos a insistência em
referir-se aos interventores como doutores, mesmo sem que eles fossem médicos.
A leitura deste tipo de obra substitui a lacuna deixada por
obras relevantes como o livro “História do Rio Grande do Norte” (1955), de
Cascudo, que tem edição esgotada há décadas e é de difícil aquisição, devido ao
alto custo. Some-se a isso, a pouca quantidade de exemplares disponíveis nas
bibliotecas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a inexistência de
uma biblioteca estadual, tendo em vista que a nossa está fechada há anos.
Mesmo com todos os defeitos, valem a leitura.
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