16 maio 2017

As Crônicas de Gelo e Fogo | A Fúria dos Reis

O primeiro livro de “As Crônicas de Gelo e Fogo” -  “A Guerra dos Tronos” – apresenta ao leitor muito mais do que um texto de ficção fantástica, como registrado no índice catalográfico. Nele, George R. R. Martin nos coloca em contato com personagens essencialmente humanos e que, na luta pela sobrevivência individual e de seus respectivos grupos, revelam o melhor e o pior de si mesmos, em uma trama que envolve a manutenção do poder sobre os Sete Reinos de Westeros.

A dinâmica do texto do primeiro livro é mantida na segunda obra da saga -  “A Fúria dos Reis” -, porém, em um ritmo mais lento, tendo em vista ser um livro dedicado ao planejamento, definição de estratégias de batalhas em uma guerra entre os representantes dos Sete Reinos disputam o Trono de Ferro, após a morte do Rei Robert. Por isso mesmo, os diálogos e reflexões das personagens têm, sem dúvida, destaque nesta obra.

Se pensarmos que em uma guerra o primordial é manter a unidade do grupo para que as chances de vencer o adversário sejam potencializadas, perceber que a natureza humana pode tornar a lealdade a este mesmo grupo algo tão frágil quanto a perspectiva de sobrevivência em momentos de grandes conflitos, somos levados a observar o quanto o indivíduo está, em muitos casos, acima de tudo preocupado com a conquista dos objetivos pessoais.

Esta não é uma reflexão das mais fáceis de serem feitas tendo em vista sermos seres sociais, mas como o autor mesmo nos mostra em um dos diálogos: 
As pessoas dizem frequentemente ter fome de verdade, mas raramente gostam do sabor quando ela lhes é servida. 

Nesta obra, as frustrações são reveladas como verdadeiras fontes de motivação para o bem e para o mal, para unir e segregar. E, a partir deste ponto de partida, as personagens são levadas a optar por caminhos que acreditam ser aqueles que as levarão à conquista de suas metas e, em alguns casos, à concretização de suas vinganças.

Em relação a tais escolhas, George R. R. Martin nos coloca diante da fragilidade do ser humano e dos valores que os moldam na medida em que, em situações extremas, personagens fazem escolhas que em situações ditas normais não fariam, ao menos teoricamente. Assim, torna-se inevitável ao leitor se questionar sobre o que faria em determinadas situações e se suas convicções são realmente sedimentadas ao ponto de não se deixar influenciar pelas mais diversas adversidades. Como saber se não as vivenciamos, não é mesmo?

Os cinco livros da saga até então lançados e publicados no Brasil pela Editora Leya são calhamaços, sendo este Livro Dois composto por 650 páginas. Mas, apesar de volumosa, a obra nada tem de entediante, pois Martin consegue nos surpreender quando menos esperamos. Aliás, este é um livro de surpresas e, por mais que tenha parecido até aqui, não somos colocados em contato apenas com o lado sombrio das pessoas. No decorrer das páginas, também encontramos aqueles que nos mostram que a esperança na humanidade não pode ser perdida, pois no meio do caos sempre haverá luz e as boas conexões que nos ligam ao outro são fortalecidas na adversidade.

Acima de tudo, esta é uma obra que revela a intensidade de ser ser humano, em toda sua complexidade. Só por isso já mereceria a leitura, porém o livro também nos envolve pela qualidade do texto, conexão das ideias de maneira genial que o autor as mostra e também por ser um excelente entretenimento. 

E que venha “A Tormenta de Espadas”!

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