O primeiro livro de “As Crônicas de Gelo e Fogo” - “A Guerra dos Tronos” – apresenta ao leitor
muito mais do que um texto de ficção fantástica, como registrado no índice
catalográfico. Nele, George R. R. Martin nos coloca em contato com personagens
essencialmente humanos e que, na luta pela sobrevivência individual e de seus
respectivos grupos, revelam o melhor e o pior de si mesmos, em uma trama que
envolve a manutenção do poder sobre os Sete Reinos de Westeros.
A dinâmica do texto do primeiro livro é mantida na segunda
obra da saga - “A Fúria dos Reis” -,
porém, em um ritmo mais lento, tendo em vista ser um livro dedicado ao
planejamento, definição de estratégias de batalhas em uma guerra entre os
representantes dos Sete Reinos disputam o Trono de Ferro, após a morte do Rei
Robert. Por isso mesmo, os diálogos e reflexões das personagens têm, sem
dúvida, destaque nesta obra.
Se pensarmos que em uma guerra o primordial é manter a
unidade do grupo para que as chances de vencer o adversário sejam
potencializadas, perceber que a natureza humana pode tornar a lealdade a este
mesmo grupo algo tão frágil quanto a perspectiva de sobrevivência em momentos
de grandes conflitos, somos levados a observar o quanto o indivíduo está, em
muitos casos, acima de tudo preocupado com a conquista dos objetivos pessoais.
Esta não é uma reflexão das mais fáceis de serem feitas
tendo em vista sermos seres sociais, mas como o autor mesmo nos mostra em um
dos diálogos:
As pessoas dizem frequentemente ter fome de verdade, mas raramente gostam do sabor quando ela lhes é servida.
Nesta obra, as frustrações são reveladas como verdadeiras
fontes de motivação para o bem e para o mal, para unir e segregar. E, a partir
deste ponto de partida, as personagens são levadas a optar por caminhos que
acreditam ser aqueles que as levarão à conquista de suas metas e, em alguns
casos, à concretização de suas vinganças.
Em relação a tais escolhas, George R. R. Martin nos coloca
diante da fragilidade do ser humano e dos valores que os moldam na medida em
que, em situações extremas, personagens fazem escolhas que em situações ditas normais
não fariam, ao menos teoricamente. Assim, torna-se inevitável ao leitor se
questionar sobre o que faria em determinadas situações e se suas convicções são
realmente sedimentadas ao ponto de não se deixar influenciar pelas mais
diversas adversidades. Como saber se não as vivenciamos, não é mesmo?
Os cinco livros da saga até então lançados e publicados no
Brasil pela Editora Leya são calhamaços, sendo este Livro Dois composto por 650
páginas. Mas, apesar de volumosa, a obra nada tem de entediante, pois Martin
consegue nos surpreender quando menos esperamos. Aliás, este é um livro de
surpresas e, por mais que tenha parecido até aqui, não somos colocados em
contato apenas com o lado sombrio das pessoas. No decorrer das páginas, também
encontramos aqueles que nos mostram que a esperança na humanidade não pode ser
perdida, pois no meio do caos sempre haverá luz e as boas conexões que nos
ligam ao outro são fortalecidas na adversidade.
Acima de tudo, esta é uma obra que revela a intensidade de
ser ser humano, em toda sua complexidade. Só por isso já mereceria a leitura, porém
o livro também nos envolve pela qualidade do texto, conexão das ideias de
maneira genial que o autor as mostra e também por ser um excelente
entretenimento.
E que venha “A Tormenta de Espadas”!
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