Acompanhar o noticiário político brasileiro não tem sido
motivo de entusiasmo, nem mesmo para o mais otimista dos seres. De maneira mais
ostensiva, esta é a realidade nacional desde a última eleição presidencial,
realizada em 2014, tendo em vista as denúncias praticamente diárias de casos de
corrupção que parecem ter se tornado uma epidemia no país.
A cada novo fato, o apelo popular para que os punidos sejam responsabilizados
e a normalidade restabelecida ganha força. Mas, será que isso é possível? Ou
melhor, será que essa normalidade algum dia realmente existiu? Podemos acabar
com a corrupção? Como?
No livro “Corrupção: Parceria Regenerativa”, Clóvis de
Barros Filho e Sérgio Praça afirmam logo na introdução da obra que não, não é
possível acabar com a corrupção.
Pois entendam: ela não vai acabar.
Neste momento, o leitor leva o primeiro “choque de realidade”
(um dos jargões que o mau uso em meios politiqueiros nos leva a evita-lo, mas
na ausência de um melhor, o deixaremos por aqui!). Depois ser colocado em
contato com esta informação – nada animadora -
na segunda página de um livro com capa e entre páginas propositalmente
editadas na cor preta, qual a justificativa para não o abandonar?
A proposta dos autores é nos levar à reflexão sobre o que é
e quais são as causas da corrupção a partir de duas perspectivas: a filosófica
e a política. Este é o caminho escolhido pelos escritores para colocar a cada
um dos leitores como partícipe deste processo, e não apenas espectadores, tendo
em vista que as relações que culminam com os escândalos que o noticiário nos
mostra envolvem as representações sociais escolhidas por cada um de nós.
Neste sentido, este é o segundo “choque de realidade”. Sim,
somos responsáveis pelo desenvolvimento da sociedade, pelos valores que embasam
o nosso fazer e daqueles que nos representam. Vale ressaltar que também há consequências
para a omissão.
Editado pela Papirus 7 Mares, o livro conta com apenas 111
páginas. Mas não se engane, pois, as páginas que são entregues trazem um
conteúdo profundo, capaz de penetrar os pensamentos e modificar a percepção a
respeito da participação/responsabilidade individual no contexto social. Afinal,
é fácil reclamar dos grandes escândalos, mas e as pequenas corrupções que
marcam o nosso cotidiano e nem mesmo nos damos conta?
Às vezes, a corrupção se legitima por sua habitualidade generalizada.
Já pensou sobre isso?
E antes que a patrulha contra o politicamente correto comece
a gritar contra o livro, é importante ressaltar que esta não é a proposta dos
autores. Aliás, eles deixam bem claro o oposto disso ao trazer uma citação de
Samuel Huntington que diz:
A única coisa pior do que uma burocracia rígida, demasiadamente centralizada e desonesta é uma sociedade com um corpo burocrático rígido, demasiadamente centralizado e honesta.
Oi?!
“Choque de realidade” número 3. Para compreender este
pensamento, façamos uma analogia quando determinados setores do serviço público
afirmam que não entrarão em greve, mas optam pela adoção do chamado “procedimento
padrão”. Ou seja, fazer exatamente o que a lei manda. Nada a mais. Nada a menos.
O resultado é o alcance da máxima eficácia dos processos sonhada por Weber?
Não. Na verdade, é o resultado é exatamente o oposto disso, a morosidade da
burocracia no sentido mais pejorativo possível.
Perceber isso nos ajuda a compreender que é preciso
flexibilidade nos processos para que eles sejam ajustados de acordo com as mais
diversas realidades e contingencias. Então, qual é a medida? Não existe receita
pronta e esta é uma das brechas para a corrupção.
Qual é a saída?
Boa pergunta. A sugestão é que façamos a leitura e reflexão
do livro para que esta resposta seja construída
a partir da discussão coletiva.
Cabe à sociedade – dispersa, desorganizada, pouco informada, cheia de coisas para fazer além de prestar atenção na política - pressionar os atores políticos a aproveitar essas janelas para fazer mudanças institucionais que diminuam a corrupção. Boa sorte a todos nós.
Vale muito a leitura!!!
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