02 junho 2016

Você é psicóloga?



No último mês, a pergunta que mais respondi foi: você é psicóloga? Não, não sou. E apesar de não ter sido a primeira vez que fui questionada quanto a isso, certamente foi a primeira vez que a pergunta foi feita repetidas vezes, num período muito curto e por pessoas e em momentos bastante diversos.

E aí, quando as coisas começam a se repetir, a gente para para tentar compreender as causas daquele fato e, neste caso, passa a refletir a respeito da imagem que está sendo passada para as pessoas.

Não há dúvidas que é o nosso comportamento que fornece os dados para que as pessoas com as quais convivemos interpretem nossos atos, criem expectativas sobre nossas ações - a partir de padrões e tendências já expostos – e reúnam esses elementos que os permitem cristalizar uma ideia a nosso respeito.

Quando o resultado desta leitura é inesperado, é inevitável a tentativa de compreensão e revisão dos caminhos e posturas que adotamos e nos trouxeram até aqui. 

Apesar de ser uma eterna estudante, o curso de Psicologia nunca esteve na minha lista de intenções. Mas independente disso, sempre gostei de pessoas e da complexidade que envolve e representa cada indivíduo. O desafio está em melhor compreender o outro e, consequentemente, a nós mesmos.

Na medida em que dou atenção verdadeira ao outro, sou capaz de me enxergar a partir do olhar do meu interlocutor, ao mesmo tempo em que o percebo. Além disso, observando atentamente cada movimento, olhar e palavras do outro, as chances de atingir maior eficiência na comunicação e integração entre as pessoas são incrementadas a cada segundo. Sem exageros!



Por essas e outras é que gosto das conversas olho no olho, ouvir e ver atentamente o que o outro tem a expor, com direito a apreciar todas as expressões corporais que tornam a percepção dos elementos extralinguísticos ainda mais libertadora. Eles revelam muito mais a respeito de nós mesmos do que somos capazes de perceber.

Em tempos de intensas e extensas conexões via mundo virtual, a vida no mundo real, o contato físico, a disponibilidade e a autenticidade estão se tornando cada vez mais superficiais, na medida em que cresce o isolamento das pessoas em seus respectivos universos particulares, numa falsa crença de que isso basta.

Somos seres sociais e, desta forma, não fazemos e nem construímos nada sozinhos. Precisamos aprimorar a prática de escutar o outro, pois às vezes é o que falta para que ele se sinta estimulado a continuar seu caminho.  Afinal, temos  dois ouvidos para ouvir e apenas uma boca para falar. E, se a terapia é um ótimo investimento que podemos fazer em nós mesmos, ela não substitui o contato com o ser e as trocas que ele nos proporciona. Permita-se!

“Eu gosto de ouvir. Aprendi muito a partir da escuta cuidadosa. A maioria das pessoas nunca ouve. ” Ernest Hemingway

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