No último mês, a pergunta que mais respondi foi: você é
psicóloga? Não, não sou. E apesar de não ter sido a primeira vez que fui
questionada quanto a isso, certamente foi a primeira vez que a pergunta foi
feita repetidas vezes, num período muito curto e por pessoas e em momentos
bastante diversos.
E aí, quando as coisas começam a se repetir, a gente para para
tentar compreender as causas daquele fato e, neste caso, passa a refletir a
respeito da imagem que está sendo passada para as pessoas.
Não há dúvidas que é o nosso comportamento que fornece os dados para que as pessoas com as quais convivemos interpretem nossos atos,
criem expectativas sobre nossas ações - a partir de padrões e tendências já
expostos – e reúnam esses elementos que os permitem cristalizar uma ideia a
nosso respeito.
Quando o resultado desta leitura é inesperado, é inevitável a
tentativa de compreensão e revisão dos caminhos e posturas que adotamos e nos
trouxeram até aqui.
Apesar de ser uma eterna estudante, o
curso de Psicologia nunca esteve na minha lista de intenções. Mas independente
disso, sempre gostei de pessoas e da complexidade que envolve e representa cada
indivíduo. O desafio está em melhor compreender o outro e, consequentemente, a
nós mesmos.
Na medida em que dou atenção verdadeira ao outro,
sou capaz de me enxergar a partir do olhar do meu interlocutor, ao mesmo tempo
em que o percebo. Além disso, observando atentamente cada movimento, olhar e palavras do
outro, as chances de atingir maior eficiência na comunicação e integração entre as pessoas são incrementadas a cada
segundo. Sem exageros!
Por essas e outras é que gosto das conversas olho no olho, ouvir
e ver atentamente o que o outro tem a expor, com direito a apreciar todas as
expressões corporais que tornam a percepção dos elementos extralinguísticos
ainda mais libertadora. Eles revelam muito mais a respeito de nós mesmos do que
somos capazes de perceber.
Em tempos de intensas e extensas conexões via mundo virtual,
a vida no mundo real, o contato físico, a disponibilidade e a autenticidade estão
se tornando cada vez mais superficiais, na medida em que cresce o isolamento
das pessoas em seus respectivos universos particulares, numa falsa crença de
que isso basta.
Somos seres sociais e, desta forma, não fazemos e nem construímos
nada sozinhos. Precisamos aprimorar a prática de escutar o outro, pois às vezes
é o que falta para que ele se sinta estimulado a continuar seu caminho. Afinal, temos dois ouvidos para ouvir e apenas uma boca para falar. E, se a terapia é um ótimo investimento que podemos fazer em nós
mesmos, ela não substitui o contato com o ser e as trocas que ele nos proporciona. Permita-se!
“Eu gosto de ouvir. Aprendi muito a partir da escuta cuidadosa. A maioria das pessoas nunca ouve. ” Ernest Hemingway
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