Os sete dias do desafio de leitura foram transformados em 18,
incluindo os cinco destinados a viagem à Bahia, nos quais ainda li, mas sem
cumprir a meta diária. Porém, o que é a vida se não um eterno processo de adaptação,
não é mesmo?
Assim foi a releitura de Os Elementos do Jornalismo - O que os jornalistas devem saber e o público
exigir, de Bill Kovach e Tom Rosenstiel, Geração Editorial (2004).
A dificuldade para cumprir o cronograma inicial nada teve a
ver com a falta de empatia com a obra, resultante da primeira leitura há dez
anos. Aliás, depois das 100 primeiras páginas das 292 que compõem a obra,
percebi que a maturidade e a mudança no contexto social brasileiro me permitem
hoje valorizar mais o livro do que naquela ocasião.
Baseado em uma pesquisa iniciada em julho de 1997 pelos
jornalistas norte-americanos integrantes do Comitê dos Jornalistas Preocupados,
o livro traz uma reflexão sobre as razões da perda da credibilidade do
Jornalismo em um momento de intensas mudanças causadas pela revolução
tecnológica.
Mais que isso, resgata os pressupostos básicos da atividade
jornalística que devem orientar a prática profissional com o objetivo de
resgatar a confiança da sociedade, perdida ao longo do tempo.
Diferente do que aconteceu há dez anos, o relato de Kovach e
Rosenstiel feito no livro fala a respeito da aguda crise enfrentada pelo
Jornalismo no Brasil na atualidade, em um momento em que profissionais e
empresas buscam alternativas para se adaptar à turbulência enfrentada pelo
segmento.
O primeiro passo, afirmam os autores, para que Jornalismo recupere
a credibilidade perante a sociedade é que os jornalistas e as empresas lembrem-se
que sua lealdade deve ser ao cidadão e não ao mercado.
A partir do momento que a função social do Jornalismo, enquanto
agente fiscalizador e representante do cidadão, for retomada, a identificação e
a confiança no que é relatado e revelado nos diversos veículos de comunicação será
gradativamente restabelecida.
Porém, Kovach e Rosenstiel expõem, através de diversos
exemplos, que enquanto a imprensa priorizar abordagens superficiais e
sensacionalistas, continuará perdendo audiência e a confiança de seu
público-alvo. Mas observam que
“(...) o fato de que recuperar público por meio de melhores narrativas jornalísticas é um objetivo difícil, demorado e custoso. Como consequência, quando a indústria da comunicação, a televisão sobretudo, tenta resgatar esse público decrescente, geralmente o faz dando ênfase a aspectos mais fáceis de administrar – aumentando os orçamentos de marketing, reduzindo custos, trocando ancoras ou construindo um novo cenário de fundo para o noticiário. ”
Ou seja, é preciso dedicação na apuração, empenho e
disciplina na escrita, tempo para checar os dados e financiamento. Segundo os autores, a
estratégia de apostar na superficialidade dos fatos adotada pelas empresas e
profissionais até consegue obter retorno imediato ao prender a atenção do
público, na medida em que informação e entretenimento passam a ser misturados.
Mas, esta relação não tem consistência e o interesse logo acaba, levando a,
novamente, uma redução na audiência e, consequentemente ao agravamento da crise
de imagem do Jornalismo.
O livro Os Elementos do Jornalismo resume em uma frase a
complexidade que é este exercício, ao dizer que “No fim das contas o jornalismo
é uma questão de caráter”. Ou seja, apesar de todo instrumental teórico-prático
à disposição do processo de produção da informação, é a subjetividade humana
que orienta o fazer jornalístico.
Para garantir a mínima qualidade, o papel de fiscalizador desta
atividade deve ser assumido por todos os cidadãos, pois o Jornalismo é um
instrumento de fortalecimento da democracia e para este fim deve ser utilizado.
Vale a leitura!
Como recuperar a credibilidade é a questão a ser respondida |
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