12 junho 2016

Ame-se, sem medo!



De repente, estamos tão próximos, sabemos sobre tudo o que acontece no mundo, conhecemos pessoas, caminhos se cruzam e isso tudo muda nossas vidas, a todo momento. Sem o avanço da tecnologia a probabilidade de muitas dessas conexões acontecerem seria mínima.

Pare para pensar que se nos ambientes profissionais, por exemplo, somos colocados em contato com uma considerável diversidade de pessoas, é através do mundo virtual que, em boa parte dos casos, temos a oportunidade de tornar essa convivência mais estreita e duradoura. E assim, a nossa rede de relacionamentos cresce sem cessar.

Mas quantidade não quer dizer necessariamente qualidade, quer? Não.

Se fizermos uma analogia com o acesso que temos hoje à informação, podemos perceber que a todo momento recebemos uma quantidade infinita delas, mas que precisam ser analisadas criticamente, pois, nem sempre são verdadeiras. Por isso, não devemos ceder aos apelos e sim ser seletivos em relação às verdades que nos são ditas. 

A pressa em saber primeiro pode resultar em prejuízos para nós mesmos e para aqueles com os quais convivemos.

As relações que construímos no real e no virtual também são assim. Somos levados a cumprir papeis e no desejo de sermos aceitos, fazemos escolhas e tomamos decisões muito mais para responder às pressões sociais do que a nós mesmos. E, apesar da cobrança ser coletiva, a conta disso é pessoal e intransferível.

Esta realidade não teria problema se o indivíduo, em sua plenitude, fosse levado em consideração. Mas não é. Somos levados a fazer o que todo fazem e os resultados nem sempre são positivos. A prova está nos problemas que se multiplicam por aí. A questão da intolerância ao que foge dos padrões estabelecidos pela maioria é apenas uma delas. 

No final do século passado, Renato Russo disse em uma de suas canções: 

“Digam o que disserem, o mal do século é a solidão, cada um de nós imerso em sua própria arrogância esperando por um pouco de afeição”.

Ele só não sabia que no século seguinte esta afirmação teria ainda mais representatividade. 

Então, como sair deste ciclo? Se o todo não me vê como indivíduo, eu preciso conseguir parar no meio dessa turbulência para poder analisar os caminhos a seguir. Só assim terei condições para refletir sobre questões como, por exemplo, é possível amar o outro se não consigo amar a mim mesmo? Como compartilhar o melhor de mim com alguém se não sei dizer que melhor é esse? Como posso afirmar amar o outro se não consigo respeitar a mim mesmo e ao meu próximo? 

Com um olhar mais atento é possível perceber que alguma dessas pessoas que cruzam nosso caminho nos ajudam nesta reflexão sobre questões que nem nos dávamos conta que existiam. Isso porque para identificá-las e respondê-las é preciso olhar para si mesmo, coisa que a maioria de nós evita, mesmo que inconscientemente. Enfrentar os próprios demônios é mais difícil do que os dos outros. Jesus já dizia isso, há mais de dois mil anos quando nos orientou:   

“tira primeiro a trave do teu olho, e então enxergarás direito para tirar o cisco do olho do teu irmão. ” (Mt: 7, 8)

Mas ainda não compreendemos o que Ele quis dizer...

 Neste infinito mar de pessoas que cruzam nossos caminhos, algumas delas nos marcarão para a eternidade, por serem as que nos ajudaram a despertar a atenção para o que de melhor temos em nós mesmos e que, muitas vezes, nem nos damos conta.

Parece que quando os anos vão passando, ao invés de nos descobrir para aflorar o melhor de nós, como faz a natureza, vamos nos fechando em carcaças rudes, para nos esconder e melhor adaptar ao que esperam de nós. Talvez por proteção, para conseguir responder àquelas mesmas pressões.... Quem vai saber? 

Mas isso tem consequências, pois, ao nos fechar em nós mesmos, desaprendemos a admirar e, principalmente, a ser admirados em nossa essência. E isso nada tem a ver com a vaidade de ter milhões de amigos que nos curtem. Não. Falo da exposição do nosso verdadeiro eu, sem máscaras, no mar de superficialidade que nos cerca e nos leva a querer apenas mostrar o que temos, no lugar do que somos verdadeiramente. 

Por isso, meu desejo é que o apelo comercial neste dia dos namorados, seja um convite para olharmos para nós mesmos, sem medo, e alimentar o nosso amor próprio para que, a partir do fortalecimento dele, tenhamos força para enfrentar o mar de oportunidades de compartilhamentos que estão ao nosso alcance. 

Somos seres sociais por natureza e que, para cuidar do outro, precisamos cuidar primeiramente de nós mesmos. Ame-se. Permita-se. Doe-se. 


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