De repente, estamos tão próximos, sabemos sobre tudo o que
acontece no mundo, conhecemos pessoas, caminhos se cruzam e isso tudo muda
nossas vidas, a todo momento. Sem o avanço da tecnologia a probabilidade de
muitas dessas conexões acontecerem seria mínima.
Pare para pensar que se nos ambientes profissionais, por
exemplo, somos colocados em contato com uma considerável diversidade de pessoas,
é através do mundo virtual que, em boa parte dos casos, temos a oportunidade de
tornar essa convivência mais estreita e duradoura. E assim, a nossa rede de relacionamentos
cresce sem cessar.
Mas quantidade não quer dizer necessariamente qualidade,
quer? Não.
Se fizermos uma analogia com o acesso que temos hoje à
informação, podemos perceber que a todo momento recebemos uma quantidade
infinita delas, mas que precisam ser analisadas criticamente, pois, nem sempre
são verdadeiras. Por isso, não devemos ceder aos apelos e sim ser seletivos em relação
às verdades que nos são ditas.
A pressa em saber primeiro pode resultar em prejuízos para
nós mesmos e para aqueles com os quais convivemos.
As relações que construímos no real e no virtual também são assim.
Somos levados a cumprir papeis e no desejo de sermos aceitos, fazemos escolhas
e tomamos decisões muito mais para responder às pressões sociais do que a nós
mesmos. E, apesar da cobrança ser coletiva, a conta disso é pessoal e intransferível.
Esta realidade não teria problema se o indivíduo, em sua
plenitude, fosse levado em consideração. Mas não é. Somos levados a fazer o que
todo fazem e os resultados nem sempre são positivos. A prova está nos problemas
que se multiplicam por aí. A questão da intolerância ao que foge dos padrões estabelecidos
pela maioria é apenas uma delas.
No final do século passado, Renato Russo disse em uma de
suas canções:
“Digam o que disserem, o mal do século é a solidão, cada um de nós imerso em sua própria arrogância esperando por um pouco de afeição”.
Ele só não sabia que no século seguinte esta afirmação teria
ainda mais representatividade.
Então, como sair deste ciclo? Se o todo não me vê como
indivíduo, eu preciso conseguir parar no meio dessa turbulência para poder
analisar os caminhos a seguir. Só assim terei condições para refletir sobre questões
como, por exemplo, é possível amar o outro se não consigo amar a mim mesmo?
Como compartilhar o melhor de mim com alguém se não sei dizer que melhor é
esse? Como posso afirmar amar o outro se não consigo respeitar a mim mesmo e ao
meu próximo?
Com um olhar mais atento é possível perceber que alguma
dessas pessoas que cruzam nosso caminho nos ajudam nesta reflexão sobre questões
que nem nos dávamos conta que existiam. Isso porque para identificá-las e respondê-las
é preciso olhar para si mesmo, coisa que a maioria de nós evita, mesmo que
inconscientemente. Enfrentar os próprios demônios é mais difícil do que os dos outros. Jesus já dizia isso, há mais de dois mil anos quando nos orientou:
“tira primeiro a trave do teu olho, e então enxergarás direito para tirar o cisco do olho do teu irmão. ” (Mt: 7, 8)
Mas ainda não compreendemos o que Ele quis dizer...
Neste infinito mar de pessoas que
cruzam nossos caminhos, algumas delas nos marcarão para a eternidade, por serem
as que nos ajudaram a despertar a atenção para o que de melhor temos em nós
mesmos e que, muitas vezes, nem nos damos conta.
Parece que quando os anos vão passando, ao invés de nos
descobrir para aflorar o melhor de nós, como faz a natureza, vamos nos fechando
em carcaças rudes, para nos esconder e melhor adaptar ao que esperam de nós. Talvez
por proteção, para conseguir responder àquelas mesmas pressões.... Quem vai
saber?
Mas isso tem consequências, pois, ao nos fechar em nós
mesmos, desaprendemos a admirar e, principalmente, a ser admirados em nossa
essência. E isso nada tem a ver com a vaidade de ter milhões de amigos que nos
curtem. Não. Falo da exposição do nosso verdadeiro eu, sem máscaras, no mar de
superficialidade que nos cerca e nos leva a querer apenas mostrar o que temos, no
lugar do que somos verdadeiramente.
Por isso, meu desejo é que o apelo comercial neste dia dos
namorados, seja um convite para olharmos para nós mesmos, sem medo, e alimentar
o nosso amor próprio para que, a partir do fortalecimento dele, tenhamos força
para enfrentar o mar de oportunidades de compartilhamentos que estão ao nosso
alcance.
Somos seres sociais por natureza e que, para cuidar do outro,
precisamos cuidar primeiramente de nós mesmos. Ame-se. Permita-se. Doe-se.
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