Com 84 páginas, O Jornal
e o Livro, de Machado de Assis, foi publicado em 2011 pela Companhia das Letras,
reunindo crônicas e críticas escritas pelo autor na segunda metade do século
XIX.
O Jornal e o Livro conta com cinco textos que
discutem o papel do crítico, dos livros e dos jornais, a relevância das artes
em geral, como o teatro e a literatura, além de expor as reflexões do autor
sobre o papel da imprensa.
O conteúdo do livro ajuda o leitor a compreender o porquê de
Machado de Assis ser tão meticuloso com seus escritos, pois era, também, um ferrenho
crítico literário.
A crítica do escritor e jornalista não era restrita às obras
que se propunha analisar, mas também em relação aos que se propunham a ser
críticos, mas, em sua maioria, segundo Machado de Assis, não passavam de textos
de divulgação.
Para mostrar como um crítico deve se portar diante de um
texto, Machado analisa O Primo Basílio,
do português Eça de Queiros, que, para o que ainda não leram há grande chance
de desistir após ler a minuciosa desconstrução apresentada pelo escritor brasileiro,
ou o contrário, tem o desejo de apreciar a obra para identificar ou não os
elementos expostos por Machado.
Fico com a segunda opção! 😊
Machado de Assis destrincha a obra recém lançada e compara o
enredo e o estilo com outro livro do próprio Eça, O Crime do Padre Amaro, e com Eugénie
Grandet, do francês Honoré de Balzac.
Para Machado, O Primo
Basílio é um livro que se perde em si mesmo ao buscar se enquadrar no Realismo,
ao invés de se preocupar em “aparar as arestas” das histórias dos personagens.
Como é que um espírito tão esclarecido, como o do autor, não viu que semelhante concepção era a coisa menos congruente e interessante do mundo? Que temos nós com essa luta intestina entre a ama e a criada, e em que nos pode interessar a doença de uma e a morte de ambas? Cá fora, uma senhora que sucumbisse às hostilidades de pessoas de seu serviço, em consequência de cartas extraviadas, despertaria certamente grande interesse, e imensa curiosidade; e, ou a condenássemos, ou lhe perdoássemos, era sempre um caso digno de lástima. No livro é outra coisa.
A crítica a obra de Eça de Queiros o ponto alto de O Jornal e o Livro, o que não significa que
os demais textos sejam menos relevantes. A crítica ao papel da imprensa e do
uso subserviente de livros e jornais por jornalistas e escritores é reflexão contemporânea
que explica a importância de Machado de Assis para a literatura brasileira e mundial.
😉
ð
Dia 55|365
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