Em um texto curto e objetivo composto por nove parágrafos,
Lima Barreto traz na crônica A Polícia
Suburbana, publicada em 28 de dezembro de 1914, uma crítica aos jornais e a
usual ação policial nos subúrbios cariocas.
O texto integra o livro Crônicas,
do autor, que está em domínio público e que estou lendo na versão e-book da Saraiva
para o LEV.
Barreto revela que uma crítica jornalística que divulgou o
caso de um delegado que chegou a algumas delegacias do subúrbio carioca, no
período da noite, e encontrou as equipes dormindo.
Segundo o noticiário, a cena era absurda diante da necessidade
de policiamento daquelas regiões e, para demonstrar a gravidade do
posicionamento adotado pelos policiais, o delegado surrupiou objetos para por mais à mostra o descaso de seus subordinados.
Para Barreto, que revelou ser notívago e frequentemente chegar
em casa tarde da noite, os policiais fazem bem em dormir, pois as ruas pelas
quais trafega não registram crimes, além dos roubos de galinha e, se obrigada a
agir, buscariam todas as formas de mostrar serviço, devido, segundo o autor, a
inutilidade da polícia..
Penso mesmo que, se as coisas não se passassem assim, os vigilantes, obrigados a mostrar serviço, procurariam meios e modos de efetuar detenções e os notívagos, como eu, ou os pobres-diabos que lá procuram dormida, seriam incomodados, com pouco proveito para a lei e para o Estado.
Pouco mais de um século depois da publicação do texto, a reflexão
sobre o papel das polícias e a forma de atuação da mesma nunca foi tão
pertinente.
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Dia 68 |
365
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