14 maio 2018

Joaquim Nabuco e a abolição dos escravos

A edição de 9 de maio de 2018 da Revista Veja conta com uma reportagem intitulada Escravos no século 21, na qual revela existir no Brasil 160 mil pessoas em trabalhos em condições análogas à escravidão.

Os dados mostram que em um contingente populacional de 207,6 milhões de pessoas, quase 1%  da população ainda vive como escravo no país, mesmo depois de 130 anos da votação e aprovação da Lei Áurea que aboliu a escravidão no Brasil.

Assinada em 13 de maio de 1888 pela princesa Isabel, então regente do Império, a Lei Imperial n.º 3.353 resultou na libertação de cerca de 700 mil escravos no Brasil que, à época, contava com 15 milhões de habitantes, o que significa dizer que pouco mais de 4,5% da população era de escravos.

O percentual pode ter reduzido, mas o problema persiste, apesar do otimismo de personagens históricos brasileiros, como Joaquim Nabuco que, em 1900, publicou o livro Minha Formação, no qual registra, entre outras coisas, a crença na integração da sociedade brasileira pós-abolição, o que, como se vê, até os dias atuais, não se concretizou.

A liberdade por si só é fecunda, e sobre os destroços da escravidão refar-se-á com o tempo uma sociedade mais unida, de ideias mais largas, e é possível que esta proclame seus criadores aqueles que não fizeram mais do que interromper a opressão que presidia aos antigos nascimentos, os gemidos que assinalavam no Brasil o aparecer de mais uma camada social.

A obra de Nabuco que, nesta edição publicada em 2015 pela editora Nova Fronteira que integra a coleção Saraiva de Bolso, conta com 230 páginas, prefácio do próprio autor e pró-memória de Alceu Amoroso Lima, datado de 1966.

Um livro autobiográfico que narra como se deu a formação política do autor, pernambucano, monarquista e abolicionista. Joaquim Nabuco viveu entre 1849 e 1910, formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, atuou como jornalista, deputado e diplomata, atividade que o permitiu conhecer diversos países do mundo.

As experiências no exterior, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, são, não somente relatadas, com reveladas as influências que cada país teve em sua formação. A opção pela monarquia ao invés da república é explicada como consequência da vivência em Londres e em Nova York e o resultado das relações que testemunhou e das consequências da correlação de forcas que resultaram na formação de diferentes formas de nação.

Para ser uma unidade na política americana, é preciso que o indivíduo se matricule em um partido,e , desde esse dia, renuncie à sua personalidade. Na Inglaterra não há semelhante escravidão do partido. O país é governado, como nos Estados Unidos, por dois partidos que se alteram e se equilibram, mas os partidos ingleses são partidos de opinião, não são machines, como os americanos, das quais certo numero de bosses governam e dirigem movimentos.

As pessoas e os idiomas que o levaram a refletir sobre política e relações humanas que impactaram a forma como ele viva a vida. Entre os destaques, o encontre com o Papa Leão XIII, no Vaticano, a quem pediu apoio à abolição que, para Nabuco, foi o ato que precedeu a proclamação da República e resultou em sua saída do cenário político.

Não é por acaso que Raymundo aponta, em Os Donos do Poder, Joaquim Nabuco como o maior conhecedor do Segundo Império. A vida de Nabuco se mistura à do Brasil em um texto primoroso que, sem dúvida, deveria ser do conhecimento de todos os brasileiros, em especial pelas posições políticas que, apesar de datarem dos séculos XIX e XX, são em grande parte bastante atuais.

Já quero ler tudo que este homem escreveu. O abolicionismo está na lista!

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