Os dados mostram que em um contingente populacional de 207,6
milhões de pessoas, quase 1% da população
ainda vive como escravo no país, mesmo depois de 130 anos da votação e aprovação
da Lei Áurea que aboliu a escravidão no Brasil.
Assinada em 13 de maio de 1888 pela princesa Isabel, então regente
do Império, a Lei Imperial n.º 3.353 resultou na libertação de cerca de 700 mil
escravos no Brasil que, à época, contava com 15 milhões de habitantes, o que
significa dizer que pouco mais de 4,5% da população era de escravos.
O percentual pode ter reduzido, mas o problema persiste,
apesar do otimismo de personagens históricos brasileiros, como Joaquim Nabuco
que, em 1900, publicou o livro Minha
Formação, no qual registra, entre outras coisas, a crença na integração da
sociedade brasileira pós-abolição, o que, como se vê, até os dias atuais, não se
concretizou.
A liberdade por si só é fecunda, e sobre os destroços da escravidão refar-se-á com o tempo uma sociedade mais unida, de ideias mais largas, e é possível que esta proclame seus criadores aqueles que não fizeram mais do que interromper a opressão que presidia aos antigos nascimentos, os gemidos que assinalavam no Brasil o aparecer de mais uma camada social.
A obra de Nabuco que, nesta edição publicada em 2015 pela
editora Nova Fronteira que integra a coleção Saraiva de Bolso, conta com 230
páginas, prefácio do próprio autor e pró-memória de Alceu Amoroso Lima, datado
de 1966.
Um livro autobiográfico que narra como se deu a formação política
do autor, pernambucano, monarquista e abolicionista. Joaquim Nabuco viveu entre
1849 e 1910, formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, atuou
como jornalista, deputado e diplomata, atividade que o permitiu conhecer diversos
países do mundo.
As experiências no exterior, especialmente na Europa e nos
Estados Unidos, são, não somente relatadas, com reveladas as influências que
cada país teve em sua formação. A opção pela monarquia ao invés da república é
explicada como consequência da vivência em Londres e em Nova York e o resultado
das relações que testemunhou e das consequências da correlação de forcas que resultaram
na formação de diferentes formas de nação.
Para ser uma unidade na política americana, é preciso que o indivíduo se matricule em um partido,e , desde esse dia, renuncie à sua personalidade. Na Inglaterra não há semelhante escravidão do partido. O país é governado, como nos Estados Unidos, por dois partidos que se alteram e se equilibram, mas os partidos ingleses são partidos de opinião, não são machines, como os americanos, das quais certo numero de bosses governam e dirigem movimentos.
As pessoas e os idiomas que o levaram a refletir sobre política
e relações humanas que impactaram a forma como ele viva a vida. Entre os
destaques, o encontre com o Papa Leão XIII, no Vaticano, a quem pediu apoio à abolição
que, para Nabuco, foi o ato que precedeu a proclamação da República e resultou
em sua saída do cenário político.
Não é por acaso que Raymundo aponta, em Os Donos do Poder, Joaquim Nabuco como o maior conhecedor do Segundo
Império. A vida de Nabuco se mistura à do Brasil em um texto primoroso que, sem
dúvida, deveria ser do conhecimento de todos os brasileiros, em especial pelas posições
políticas que, apesar de datarem dos séculos XIX e XX, são em grande parte bastante
atuais.
Já quero ler tudo que este homem escreveu. O abolicionismo está na lista!
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