O período
de colonização do Brasil foi marcado pela presença dos Jesuítas que, por meio
do trabalho de evangelização realizado junto aos indígenas, possibilitou a consolidação
da colonização da nova terra.
Este
é o conteúdo geralmente abordado no estudo do tema, porém, em artigo intitulado
A educação na colônia no discurso dos
jesuítas: uma perspectiva retrógrada ou adequada aos novos tempos?, publicado
em 2009, na Revista Educação em Questão, a professora doutora Lizia Helena
Nagel, do Centro Universitário de Maringá, destaca que o trabalho desenvolvido
pela Companhia de Jesus no Brasil não retomava as práticas medievais, mas que,
ao contrário, estava adequado às práticas modernas de formação da sociedade
burguesa.
A
partir de uma linha cronológica que retrata a constituição brasileira à época
da colonização, prática permitida pelas cartas escritas por padres e demais
integrantes das grandes navegações, Nagel (2009) ressalta a preocupação dos representantes
da coroa portuguesa quanto a falta de ambição dos índios, que não demonstravam
interesse na acumulação de materiais e mudanças no estilo de vida.
Com
a definição dessa estrutura, a autora se propôs a responder ao seguinte questionamento:
A educação no Brasil poderia ter sido
realizada por lógica contrária à dos colonizadores?
Distante
da perspectiva medieval, Nagel (2009) ressalta que a educação no período
colonial tinha como objetivo a habituação de comportamentos prática que
viabilizou a transformação do Brasil no maior produtor de açúcar do mundo.
Para
viabilizar este posicionamento, os jesuítas claramente fizeram uso, de acordo
com Nagel (2009) do conhecimento como instrumento para viabilizar melhorias nas
condições existenciais e materiais.
A língua, árdua e disciplinadamente aprendida, permite a constatação de quanto esses educadores valorizam o saber como resultante da investigação empírica, como meio para atingir fins muito concretos. O domínio do vocabulário indígena é visto como condição mínima necessária, como instrumento básico para promover a interação dos jesuítas com os índios, para promover, didaticamente, as modificações nas relações sociais. A perspectiva de encaminhar a paz, a escolha de meios para atingir fins, a estratégia psicológica para conquista do interlocutor já se encontram na prática do novo mundo e confirmam o conhecimento como produto da intimidade intencional dos primeiros mestres com o ambiente e/ou com as circunstâncias reais. (NAGEL, 2009, p. 189)
O
sistema social organizado pelos jesuítas propiciou o desenvolvimento do Brasil
enquanto empresa atendendo, assim, observa Nagel (2009), ao projeto da era
moderna de desenvolvimento de Portugal. O instrumento deste processo foi a educação,
entendida neste contexto como mediadora racionalizada da modificação necessária:
disciplinar pelo e para o trabalho.
Nagel
(2009) conclui afirmando que a prática pedagógica dos jesuítas buscava a obediência
civil e acredita-se que a educação brasileira
tenha, de fato, iniciado sob a égide da modernidade. Isso porque os princípios,
premissas e práticas dos jesuítas, educadores dos nossos primeiros 300 anos,
remetem, sistemática e consecutivamente, às descobertas da nova forma de pensar
e de ser da nascente burguesia.
A
industrialização só chegou ao Brasil no século XX, mas os princípios do pensamento
e das relações sociais que dão sustentação ao modelo burguês de sociedade foram
plantados aqui bem antes.💭
Referência:
NAGEL,
Lizia Helena. A educação na colônia no discurso dos jesuítas: uma perspectiva
retrógrada ou adequada aos novos tempos? Revista
Educação em Questão, Natal, v.36, n.22, p.181-199, set./dez. 2009.
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