02 maio 2018

Educação moderna na colônia brasileira


O período de colonização do Brasil foi marcado pela presença dos Jesuítas que, por meio do trabalho de evangelização realizado junto aos indígenas, possibilitou a consolidação da colonização da nova terra.

Este é o conteúdo geralmente abordado no estudo do tema, porém, em artigo intitulado A educação na colônia no discurso dos jesuítas: uma perspectiva retrógrada ou adequada aos novos tempos?, publicado em 2009, na Revista Educação em Questão, a professora doutora Lizia Helena Nagel, do Centro Universitário de Maringá, destaca que o trabalho desenvolvido pela Companhia de Jesus no Brasil não retomava as práticas medievais, mas que, ao contrário, estava adequado às práticas modernas de formação da sociedade burguesa.

A partir de uma linha cronológica que retrata a constituição brasileira à época da colonização, prática permitida pelas cartas escritas por padres e demais integrantes das grandes navegações, Nagel (2009) ressalta a preocupação dos representantes da coroa portuguesa quanto a falta de ambição dos índios, que não demonstravam interesse na acumulação de materiais e mudanças no estilo de vida.

Com a definição dessa estrutura, a autora se propôs a responder ao seguinte questionamento: A educação no Brasil poderia ter sido realizada por lógica contrária à dos colonizadores?

Distante da perspectiva medieval, Nagel (2009) ressalta que a educação no período colonial tinha como objetivo a habituação de comportamentos prática que viabilizou a transformação do Brasil no maior produtor de açúcar do mundo.

Para viabilizar este posicionamento, os jesuítas claramente fizeram uso, de acordo com Nagel (2009) do conhecimento como instrumento para viabilizar melhorias nas condições existenciais e materiais.


A língua, árdua e disciplinadamente aprendida, permite a constatação de quanto esses educadores valorizam o saber como resultante da investigação empírica, como meio para atingir fins muito concretos. O domínio do vocabulário indígena é visto como condição mínima necessária, como instrumento básico para promover a interação dos jesuítas com os índios, para promover, didaticamente, as modificações nas relações sociais. A perspectiva de encaminhar a paz, a escolha de meios para atingir fins, a estratégia psicológica para conquista do interlocutor já se encontram na prática do novo mundo e confirmam o conhecimento como produto da intimidade intencional dos primeiros mestres com o ambiente e/ou com as circunstâncias reais. (NAGEL, 2009, p. 189)

O sistema social organizado pelos jesuítas propiciou o desenvolvimento do Brasil enquanto empresa atendendo, assim, observa Nagel (2009), ao projeto da era moderna de desenvolvimento de Portugal. O instrumento deste processo foi a educação, entendida neste contexto como mediadora racionalizada da modificação necessária: disciplinar pelo e para o trabalho.

Nagel (2009) conclui afirmando que a prática pedagógica dos jesuítas buscava a obediência civil e acredita-se que a educação brasileira tenha, de fato, iniciado sob a égide da modernidade. Isso porque os princípios, premissas e práticas dos jesuítas, educadores dos nossos primeiros 300 anos, remetem, sistemática e consecutivamente, às descobertas da nova forma de pensar e de ser da nascente burguesia.

A industrialização só chegou ao Brasil no século XX, mas os princípios do pensamento e das relações sociais que dão sustentação ao modelo burguês de sociedade foram plantados aqui bem antes.💭

Referência:

NAGEL, Lizia Helena. A educação na colônia no discurso dos jesuítas: uma perspectiva retrógrada ou adequada aos novos tempos? Revista Educação em Questão, Natal, v.36, n.22, p.181-199, set./dez. 2009.

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