Com o avançar das páginas, o tempo da narrativa de Raymundo
Faoro, em Os Donos do Poder | Formação do
Patronado Político Brasileiro, se aproxima da atualidade trazendo maior
familiaridade a respeito dos fatos e personagens apresentados. Nem por isso a
leitura fica mais leve, pois o vocabulário e a forma de conexão dos elementos
que compõem o texto dão à obra a densidade de conteúdo que as mais 900 páginas
de extensão.
Apesar das dificuldades que tornam esta leitura mais lenta, as
descobertas sobre as causas dos elementos e práticas da identidade nacional
são, sem dúvida, recompensadoras, assim como a intertextualidade que o autor apresenta,
ao reunir no mesmo texto centenas de autores que respaldam a trajetória apresentada
por ele, como Joaquim Nabuco e Euclides da Cunha.
Intitulado As
diretrizes da independência, o Capítulo VIII é dividido em quatro partes: As
tentativas de reorganização política do país independente; Poder moderador e a
luta parlamentar; O sistema político de 7 de abril; As reformas de 7 de abril -
a descentralização.
Nesta etapa do livro, Faoro revela as dificuldades encontradas
por conservadores e liberais para encontrar um caminho que direcione o país
nesta nova etapa, após a Proclamação da Independência do Brasil de Portugal. O
movimento, pautado no carisma de Dom Pedro I, resulta em um império com 70 anos
de duração, mas que não tem suas relações de dependência efetivamente cortadas
da antiga metrópole.
Dom Pedro I sofre pressões dos dois países e, sem conseguir
atender a ambos, é por esta razão levado a abdicar ao trono. Começa o período
regencial que tem como desafio manter a unidade do país, agora livre, mas sem
liberdade e sem democracia. Uma das alternativas para viabilizar a nova integração
é a descentralização do poder que, na prática, garante aos coronéis a influência
necessária para determinar os rumos das províncias. Nada muito diferente dos
dias atuais.
Também sem muita diferença do que acontece hoje, o povo é
deixado à margem de toda essa situação tendo em vista que o esquema procurará manter a liberdade sem a democracia, o liberalismo fora
da soberania popular.
Diferente do que se propaga, a manutenção do poder e da
unidade nacional foi viabilizada por luta armada, sangue e, é claro, cargos
públicos.
O cargo público, a velha realidade do estamento, será o único foco de
poder, poder que dá prestigio, enobrece, propicia e legitima a riqueza. Para conquista-lo
e para conservá-lo desencadeiam-se as energias, ferozes ou manhosa, de acordo
com as circunstâncias e com a oportunidade.
Apesar de Faoro estar se referindo a um período em torno da
década de 30 do século XIX e do livro ter sido publicado há 60 anos, podemos
descrever esta relação como totalmente pertinente à atualidade.
Leitura que segue com o Capítulo IX | A Reação Centralizadora
e Monárquica.
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