14 dezembro 2018

Os Donos do Poder XIII


Esta é, provavelmente, a resenha mais difícil de fazer sobre os capítulos do livro Os Donos do Poder, de Raymundo Faoro. Esta realidade se deve ao fato de além do texto do autor ser denso, a leitura do capítulo XIII da obra ter se arrastado por quatro meses. O que facilita a retomada são as marcações feitas no livro e as anotações que faço no caderno que destinei especificamente para este projeto.
Intitulado As Tendências Internas da República Velha, o capítulo XIII é dividido em: 1. Liberalismo econômico e diretrizes econômicas do período; 2. O militar e o militarismo; 3. A transição para o federalismo hegemônico: a política dos governadores.
Nas 84 páginas que compõem este capítulo, Faoro narra as mudanças vividas no Brasil após a proclamação da República, resultantes da influência política e econômica do liberalismo que culminou com transformações significativas, por exemplo, em regiões como o Vale do Paraíba, que, como no Nordeste açucareiro, era marcadamente dependente do fazendeiro; e o Oeste Paulista, que já demonstrava uma postura empresarial.
As consequências dessas diferenças foram, entre outras coisas, o enrijecimento da disputa entre republicanos – defensores do fortalecimento do poder central – e federalistas, que inspirados na Revolução Francesa, reunia a burguesia contra a elite agrícola.
A luta pelo poder passa por especulações sobre o sistema financeiro, a emissão de papel-moeda sem lastro, a distribuição de cargos, a interferência da Inglaterra, a criação e recriação do Banco do Brasil, a crise do café e revoltas sociais, como a Revolta da Vacina (1904) que marca, inclusive, a origem da postura agressiva da polícia com os pobres.
A discussão sobre o papel dos militares e o militarismo representou pauta relevante no início do século XX, tendo em vista o protagonismo desta categoria nos momentos de grandes transformações na estrutura política do país, apesar do institucionalizado papel operacional que a legislação já atribuía aos militares.
O fato é que o jogo de poder, detalhadamente descrito por Faoro, revela muito sobre o Brasil contemporâneo, como, por exemplo, o fato de se debater a necessidade de discussão da estrutura do Pacto Federativo, tendo em vista o fato de a vida acontecer, de fato, nos Estados.
Raymundo Faoro faz referência a nomes como Rui Barbosa, Lima Barreto e Euclides da Cunha, por meio dos quais revela os questionamentos à força militar em vigor à época.
Quando os povos abdicam, é que os exércitos lhe assumem a tutela. Então se multiplicam os salvadores militares. Cada bernarda de uniforme é uma empresa de salvação. E cada uma delas cresce, no exército e na sociedade, a decadência, a corrupção, a anarquia.
O capítulo termina com a explicação de como o fortalecimento dos Estados levou à efetiva federalização do país, mantendo elementos registrados desde o império, como a não participação do povo.
Além disso, revela a estruturação da Política dos Governadores, sob ao comando de São Paulo, Minas gerais e Rio Grande do Sul, ao mesmo tempo em que demonstra como as relações promíscuas dos Estados com a União já estava definida, tendo em vista só ter retorno financeiro e político por parte da União os Estados ricos. Sem influência, os pobres permaneceram pobres.
Já que a voz era agora a dos Estados, cada um pesaria suas conveniências.
Partindo desta perspectiva, não é difícil compreender o fato de as autonomias dos Estados terem sido transformadas em oligarquização das unidades federativas, como destaca Faoro com base nos escritos de Rui Barbosa.
O texto impressiona pela atualidade d relato, apesar de fazer referência ao início do século passado. Esta constatação fortalece a ideia de que a história é cíclica e autoexplicativa. É uma loucura necessária identificar tantas similaridades.
Leitura que segue com o capítulo XIV República Velha: Os Fundamentos Políticos, para  tentar concluir este livro ainda em2018! 💭

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