Esta é, provavelmente, a resenha mais difícil de fazer sobre
os capítulos do livro Os Donos do Poder,
de Raymundo Faoro. Esta realidade se deve ao fato de além do texto do autor ser
denso, a leitura do capítulo XIII da obra ter se arrastado por quatro meses. O que
facilita a retomada são as marcações feitas no livro e as anotações que faço no
caderno que destinei especificamente para este projeto.
Intitulado As
Tendências Internas da República Velha, o capítulo XIII é dividido em: 1.
Liberalismo econômico e diretrizes econômicas do período; 2. O militar e o
militarismo; 3. A transição para o federalismo hegemônico: a política dos
governadores.
Nas 84 páginas que compõem este capítulo, Faoro narra as mudanças
vividas no Brasil após a proclamação da República, resultantes da influência
política e econômica do liberalismo que culminou com transformações significativas,
por exemplo, em regiões como o Vale do Paraíba, que, como no Nordeste açucareiro,
era marcadamente dependente do fazendeiro; e o Oeste Paulista, que já
demonstrava uma postura empresarial.
As consequências dessas diferenças foram, entre outras
coisas, o enrijecimento da disputa entre republicanos – defensores do fortalecimento
do poder central – e federalistas, que inspirados na Revolução Francesa, reunia
a burguesia contra a elite agrícola.
A luta pelo poder passa por especulações sobre o sistema financeiro,
a emissão de papel-moeda sem lastro, a distribuição de cargos, a interferência da
Inglaterra, a criação e recriação do Banco do Brasil, a crise do café e revoltas
sociais, como a Revolta da Vacina (1904) que marca, inclusive, a origem da postura
agressiva da polícia com os pobres.
A discussão sobre o papel dos militares e o militarismo representou
pauta relevante no início do século XX, tendo em vista o protagonismo desta
categoria nos momentos de grandes transformações na estrutura política do país,
apesar do institucionalizado papel operacional que a legislação já atribuía aos
militares.
O fato é que o jogo de poder, detalhadamente descrito por
Faoro, revela muito sobre o Brasil contemporâneo, como, por exemplo, o fato de
se debater a necessidade de discussão da estrutura do Pacto Federativo, tendo
em vista o fato de a vida acontecer, de fato, nos Estados.
Raymundo Faoro faz referência a nomes como Rui Barbosa, Lima
Barreto e Euclides da Cunha, por meio dos quais revela os questionamentos à
força militar em vigor à época.
Quando os povos abdicam, é que os exércitos lhe assumem a tutela. Então se multiplicam os salvadores militares. Cada bernarda de uniforme é uma empresa de salvação. E cada uma delas cresce, no exército e na sociedade, a decadência, a corrupção, a anarquia.
O capítulo termina com a explicação de como o fortalecimento
dos Estados levou à efetiva federalização do país, mantendo elementos
registrados desde o império, como a não participação do povo.
Além disso, revela a estruturação da Política dos
Governadores, sob ao comando de São Paulo, Minas gerais e Rio Grande do Sul, ao
mesmo tempo em que demonstra como as relações promíscuas dos Estados com a União
já estava definida, tendo em vista só ter retorno financeiro e político por
parte da União os Estados ricos. Sem influência, os pobres permaneceram pobres.
Já que a voz era agora a dos Estados, cada um pesaria suas conveniências.
Partindo desta perspectiva, não é difícil compreender o fato
de as autonomias dos Estados terem sido transformadas em oligarquização das unidades
federativas, como destaca Faoro com base nos escritos de Rui Barbosa.
O texto impressiona pela atualidade d relato, apesar de
fazer referência ao início do século passado. Esta constatação fortalece a
ideia de que a história é cíclica e autoexplicativa. É uma loucura necessária
identificar tantas similaridades.
Leitura que segue com o capítulo XIV República Velha: Os Fundamentos Políticos, para tentar concluir este livro ainda em2018! 💭
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